Cajuquinhas

Sandra Belchiolina de Castro
sandrabcastro@gmail.com

Algumas lembranças são doces e têm uma áurea nostálgica. Nas minhas melhores estão meu avô Cajuquinha e seu grupo de amigos sentados batendo papo na Praça do Cruzeiro em Lagoa da Prata/MG. Entre eles o Tio João, assim o chamava, mas que era tio do meu pai. Vô era desses homens antigos que nunca expressava se com más palavras. Essas eram bem tratadas numa fala suave. Fomos educados a ir visitá-lo todos os domingos. Papai sempre foi muito atencioso e fazia questão que fossemos juntos. Não era longa a nossa permanência em sua casa, creio que eles se encontravam todos os dias, pois o armazém do meu pai era na Praça. 

Vô Cajuquinha. Homem magro e esguio, de sorriso grato. Foi perdendo sua visão aos poucos quando já estava com mais idade. Até quando deu conta, cuidava de preencher as linguiças do açougue da família, fritava os torresmos. O vi nesse ofício inúmeras vezes. O açougue que ocupava as madrugadas de meu pai, o qual saía para ver o abatimento dos animais antes do sol raiar. Tio Zuino era outro entendido das carnes, fora o tio Careca que mantinha seu açougue na Praça. Papai se manteve no ramo também, mas quem comandava era o tio Zuino. Esse sempre brincalhão e até as broncas/brincadeira que fazia levava para o lúdico. Reza a lenda que certa vez ele remeteu um pedaço de carne em sangue em uma freguesa contrariada e que esbravejava. Ela em suas roupas branquinhas. Tio Joaquim fazia-se presente também, sempre risonho e de boa alma. Houve um momento em sua vida que passou a fazer churrasquinho enfrente ao Armazém Castro da Av. Getúlio Vargas. 

O cheiro dos torresmos fritos perfumaram a Praça e a Avenida por bons tempos. Li certa vez em memórias de uma vizinha sobre a saudade do aroma que exalava nos quarteirões próximos dos açougues.

E… o papo corria entre Vô Cajuquinha e os amigos que se postavam nos bancos, que nessa época eram voltados para rua e encobertos com as sombras das árvores que faziam o contorno da praça. Hoje, penso sobre o que embalaram essas rodas de conversa. Não os vejo dados a fofocas. Conversas dos tempos da roça no Alegrim? É uma possibilidade. 

Assim, ficam as lembranças dos antepassados… Uma pluma poética e misteriosa os envolve, é uma doce presença. Ainda a família é chamada, por alguns, de Cajuquinhas. É vovô marcando sua existência, mesmo que as novas gerações não o tenham conhecido. Observo que fazem referência a ele com gosto, afinal é o pai do nosso grande pai/avô Alonso.

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