Daniela Mata Machado
“O amor me pegou
E eu não descanso enquanto não pegar
Aquela criatura
Saio na noite à procura
O batidão do meu coração na pista escura”
Há muito tempo eu não escrevo declarações de amor. Mas hoje ouvi essa canção de Cássia Eller e me lembrei de quando me apaixonei pela primeira vez por esse homemque há 16 anos segue ao meu lado. Às vezes, nem sei como ainda seguimos. Mas cá estamos. E, embora volta e meia a gente queira largar tudo e nunca mais se ver, vez por outra a gente torna a se apaixonar um pelo outro. E, numa espécie de revés da crônica de Paulo Mendes Campos, no encontro das mãos no cinema, enquanto o Homem Aranha beija Mary Jane na telona e a nossa filha caçula derruba a pipoca na cadeira, o amor renasce.
Renasce sem a urgência dos primeiros tempos, em que eu cismei de reencontrar o dono do bar que havia me roubado um beijo por conta de uma cartela perdida, e ele colou na minha pele feito tatuagem, como se dali não pudesse mais se soltar. Renasce com as dores, as cicatrizes e as histórias que fomos colecionando. E com as meninas. As nossas meninas.
“Tenho que pegar
Tenho que pegar esta criatura”
O amor me pegou. De novo. Contrariando todas as probabilidades, as estatísticas, a pandemia, o tédio, a raiva, o estresse, a crise econômica, a falta de perspectiva e todas as outras variáveis sempre contrárias ao brilho nos olhos e à fé no futuro.
Porque o amor é assim. Bem desse jeitinho. “Em todos os lugares, o amor acaba. A qualquer hora, o amor acaba.” Mas quando cisma de recomeçar, o amor renasce mesmo que um dia tenha sido esquecido como um espelho de bolsa; ou que tenha virado pó, frivolidade, remorso, dinheiro, cartas que chegaram antes ou muito tempo depois.
O amor recomeça às vezes timidamente, como se não fosse muito correto o seu renascimento, e noutras arrebatador, como se já não pudesse esperar para ressurgir. E recomeça com a ousadia de parafrasear Paulo Mendes. Porque o amor é assim, ousado. E renasce em outros lugares, com outras músicas, outros drinques, outros amigos… mas, eventualmente, com a mesma pessoa. E a gente brinda!