Todo mundo é parecido
Quando sente dor
Mas nu e só ao meio-dia
Só quem está pronto pro amor
Dizem que atualmente quem quer esconder a idade precisa postar a foto da sua vacinação, digamos, uma semana depois da data real. No meu caso não ia funcionar porque o meu gosto musical entrega tudo. Esta semana eu estava ouvindo o Barão Vermelho e me lembrando de que Frejat deve ter sido um dos meus trezentos crushs famosos da adolescência. E a gente deixa de usar polainas com calças jeans, mas segue amando esse jeito visceral de falar do que tem importância. Porque, diferenças à parte, o que realmente importa é que “todo mundo é parecido quando sente dor”.
É bem neste lugar que a gente se encontra agora. Neste lugar que nos torna, a todos, infinitamente parecidos uns com os outros. Porque, no ponto em que estamos, dificilmente alguém está conseguindo escapar da dor. Está pesado para você, eu sei. Pr’aquele seu vizinho chato também, pode apostar. Até para a chefe implicante que não lhe dá um minuto de sossego e fiscaliza cada passo que você dá, desconfio que a vida também não tem sido indolor.
No budismo, o ensinamento mais primário – a chamada Primeira Nobre Verdade – é a constatação de que o sofrimento existe. E a primeira coisa que a gente se dá conta quando conhece essa verdade é de que tudo o que todo mundo deseja o tempo todo é escapar disso. Você, o seu vizinho chato, a chefe implicante, o cara que te xingou no trânsito hoje de manhã e o carteiro que, mesmo cansado, te abriu um sorrisão: todo mundo está sofrendo. E todo mundo está tentando escapar desse tal de sofrimento, que é mesmo uma verdade dura de engolir.
No último ano e pouco, a gente não tem conseguido fugir dessa dor nem pelas fotos do Instagram. A coisa anda melhorzinha só às quintas-feiras, quando tem #tbt. Mas ouvir o Frejat ajuda a lidar com este momento. Quando eu penso que sou uma ilha de inadequação rodeada por vidas perfeitas, eu me lembro de que no fundo, bem lá no fundo, “todo mundo é parecido quando sente dor”. E está todo mundo sentindo dor. Então, em vez de esperar pelo #tbt das quintas-feiras, eu deixo Frejat terminar o verso: “Mas nu e só ao meio-dia, só quem está pronto pro amor”. Estejamos, pois, prontos para o amor. Está todo mundo sangrando e não é hora de cobrir isso com band-aid.
Mas quem tem coragem de ouvir
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