Guilherme Scarpellini
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Imagine você ao fazer compras no supermercado se depara com uma gôndola de vacinas. Um funcionário, que está recompondo o estoque, chama a freguesia: “vamos chegando, estão fresquinhas”. Algumas pessoas aparecem para conferir. Olham uma ampola aqui, outra ali. E torcem os narizes quando encontram o selo de procedência: Instituo Butantan.
“Calma que tem para todos os gostos”, diz um vendedor no alto falante. E os mais afoitos correm para conferir a oferta do folheto, nas geladeiras dos fundos. Donas de casa se acotovelam em torno das ampolas. “Dose única, sem efeitos colaterais e 30% off”, lê-se em um cartaz afixado na parede.
Mas aglomerar pra quê? Ao lado da geladeira tem outra geladeira. E depois mais outra. Tem vacina para todo mundo.
Em um dos refrigeradores você deve encontrar a famosa imunização solidária. A cada dose adquirida um dólar é convertido para o Governo Federal. Há também as caríssimas vacinas importadas da Índia. Só para os ricos.
Mas outras doses podem ser adquiriras a um preço bem mais módico: 99,99% de desconto. Imperdível? Seria se já não estivessem fora do prazo de validade.
No meio do supermercado, ergue-se uma enorme seringa inflável, que é pra chamar a atenção da clientela. Coitadas, é ali que estão as vacinas desprezadas pelo presidente. Quem passa naquele corredor e não a dá bola para os lamentos das pobres ampolinhas, ouve desaforo: “vai responder não, p.?”.
Quem procura qualidade pode investir nos produtos da Johnson & Johnson. Não é cotonete, não é fralda de bebê. É vacina de primeira categoria. Hoje é mais requisitada do que pixuleco em Brasília.
E você, qual vai querer?
A não ser que você pense que posto de vacinação é supermercado, “a que tiver” será a resposta. Afinal, quem escolhe vacina, escolhe o final da fila.