O 19 que não aconteceu

O 19 que não aconteceu- Foto: A Tempestade – John William Waterhouse
Victória Farias

O ano que veio antes, do que veio antes deste, ainda me intriga. Tento puxar pela memória alguma coisa que possa garantir que ele realmente aconteceu. A única lembrança que minha mente cansada consegue recordar, é de uma reunião com amigos em uma pizzaria cheia. Estávamos quase uns sobre os outros. Mas não é real, pelo menos não a data e nem a cronologia dos fatos. 

Uma rápida passagem pela galeria do meu celular comprova que essa celebração realmente se deu em uma pizzaria lotada. Era uma noite de segunda-feira. Mas não em 19, como insistia meu inconsciente, mas em fevereiro de 2020, dias antes do… Mas se isso não aconteceu no ano retrasado, o que então?

No final das contas não é isso o que me preocupa. Pizzarias abrem às segundas? Acredito que sim, diferente dos salões de beleza, que definitivamente não. Mas e sobre as pessoas? Estão todas aqui, entre nós. Salvas. Já sãs? Não tenho tanta certeza. 

Na hora de ir embora, nos amontoamos, divididos entre carros e Ubers. Antes de sairmos, alguém pagou a conta. Acho que fui eu. Ou um amigo de um amigo, mas isso não faz mais diferença. Nunca fez.

No banco do passageiro, em uma eterna pista da via expressa, eu escrevia um texto sobre amor. Seria postado junto a fotos no Instagram. Meu coração estava grato. Não sei se pelas presenças ou pelo acontecimento. A semana, eu acho, seria derradeira. As coisas estavam prestes a mudar, isso com certeza.

Fui dormir em outro planeta, com a lua nova da Daniela iluminando a noite e o Sol da Sandra prometendo tudo o que não se pode prometer para uma alma pueril. 

Até hoje não acordei. 

Até hoje, perdida no dia-que-talvez-aconteceu, espero a-terça-que-está-por-vir. E depois de viver eternamente esse momento, cheguei a conclusão que odeio segundas. 

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