Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br
Estou livre com seu passo e aperto sua mão
A música tem poder de nos transportar para muitos lugares. Desperta emoções, acalma e transcende o ouvinte.
Ela é uma catalisadora que mexe com nosso sistema neuroendócrino.
Assim, a escolha do repertório para escutar é de suma importância, pois ela pode criar um bem estar ou provocar uma catarse.
O que escrevo nessa crônica é sobre aquele momento inesperado em que uma música chega e nos remete a muitos outros.
Na semana,, passada escrevi sobre a formatura da turma da Medicina da UFMG 147 e nós, familiares e amigos presentes no baile, fomos presenteados com o show do Skank. Sou fãzona como minha família. Imagina a expectativa?
O baile foi regado de boas companhias, bebidas e comidas e não podia faltar aquela música especial.
E chega a hora do Skank. Todos na maior empolgação. Escutamos:
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção//Não foi à toa, não//C’est fini la utopia, mas a guerra todo dia//Dia a dia não//E tracei a vida inteira planos tão incríveis//Tramo à luz do sol//Apoiado em poesia e em tecnologia//Agora à luz do sol…
Eu disse funk lá no morro da Mangueira//Essa menina ‘tá dizendo sim eu sei//Noite bamba tudo a beça//Baião na rampa do Cruzeiro… É insuportável, é dor incrível…
Vamos fugir//Pra onde haja um tobogã//Onde a gente escorregue//Todo dia de manhã//Flores que a gente regue//Uma banda de maçã//Outra banda de reggae
E a turma no embalo até que…
Eles cantam:
Escorre o tempo que seguro e cabe em minhas mãos//Eu empresto o meu mundo pra te ter então//Você vai acreditar talvez//Ou senão queira partir de vez// E se eu falasse nessas coisas que vejo em você//Me atravessam num segundo sem eu entender//E tudo que me faz ver//E tudo que me faz ter.
Paralisada para absorver melhor a música que me transporta ao João, meu netinho. Ele canta e dança “Algo Parecido” desde seu lançamento. Escuto alguém falando: é a música do João.
Sim, é a música do João! E ali no meio de alegrias que transbordam uma lágrima escorre. É a música do João que identifico como nossa.
Estou livre com seu passo e aperto sua mão//Que me mostra o caminho pra te ter então//Com você quero partir de vez//Sem destino e sem lugar talvez…
E é assim que seguro a sua mãozinha, que me leva aos contos infantis da minha infância e dos meus filhos Tiago e Camila.
Faz-me ver o mundo com olhos inocentes e curiosos e redescobrir o sentido das palavras e das fantasias.
Hoje entendo algumas amigas, que já chamei de loucas, por deixarem tudo para ficarem com seus netos.
Com eles temos a terceira chance de ver o mundo encantado, de abastecer nossos sonhos e de enxergar o mundo como uma criança.
Assim, junto e ao passo do João, estou livre.
Domingo passado passeando na “rua dos cachorrinhos”, sentamos num banco de mourão que fica na esquina. Ali, debaixo de árvores e ao som de passarinhos, escuto uma voz de anjo: “que delicia”.
Olhei para o menininho de três anos de idade para acreditar no que ouvia. Não quis quebrar a magia do momento.
Silenciei-me sentindo a brisa, o cheiro de mato e escutando os passarinhos, como ele.
Lindo texto. Cheio de sons e brisa. Como são felizes os avós! Vc canta pra ele também ?