Era ainda menino, com os joelhos ralados e o nariz escorrendo, quando Pedrinho começou com essa mania de esconde-esconde.
Dava a hora do almoço, e o moleque escondia-se no armário. A mãe dele, coitada, o procurava em todos os cantos, e nada de Pedrinho aparecer. De repente, aparecia — e a marca do chinelo na bunda também.
Nem a professora ele perdoava. Uma vez a meninada avisou que Pedrinho havia se estrebuchado no pátio da escola. Foi um corre-corre. Quando a D. Cotinha chegou lá, encontrou apenas a gangorra do parquinho balançando, sozinha.
— É o fantasma do Pedrinho! — chegou a afirmar uma coleguinha de classe, apavorada.
Mal sabiam eles que Pedrinho estava ali, escondido no alto de um pé de manga, vivo como um touro, e rindo baixinho.
Até que, certo dia, a sorte de Pedrinho começou a mudar. Foi quando seus pais viajaram, e deixaram-no sob a guarda de um tio cientista, conhecido pelos seus experimentos malucos.
— Ele tem mania de brincar de esconde-esconde — advertiram os pais.
— Coisa boa é brincar — falou o cientista maluco.
Mas não foi coisa boa mostrar ao menino a incrível máquina de teletransportar: duas câmaras de metal, lado a lado, sendo a primeira delas, onde a matéria se desintegra e, a segunda, onde se reintegra.
Primeiro, o cientista maluco testou o seu experimento com um cinzeiro. Digitou um comando no computador, e puf!, o cinzeiro apareceu do outro lado, ileso.
Depois decidiu testar com um vaso enorme. Mas antes de pegar o artefato de cerâmica, o menino já havia se metido dentro dele.
Com muito esforço, o cientista maluco pôs o objeto dentro do primeiro compartimento. Fechou a porta e digitou o comando no computador. Então a máquina de teletransportar estremeceu, soltou fumaça, apitou e, de repente, se apagou completamente.
— Não se preocupe! — disse o cientista, meio desconcertado. — É que às vezes a máquina emperra. E a matéria desintegra, mas não integra, sabe como é?
Mas quando virou para trás, percebeu que estava falando sozinho.
Foi a última vez que Pedrinho brincou de esconde-esconde.
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