Sandra Belchiolina
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Janeiro Branco é uma campanha em prol da saúde mental que surgiu em 2014, iniciativa de psicólogos de Uberlândia/Minas Gerais. O mês foi escolhido por ser aquele em que as pessoas projetam o ano corrente. É a página em branco onde um futuro desejado é desenhado, além de promessas e propostas a serem cumpridas.
É uma data constituída de expectativas, reflexões e balanços do ano findo, assim como as frustrações das festas de final de ano e as promessas não cumpridas, que passam a ser reeditadas. A campanha tem o intuito de desmistificar sobre o que é saúde mental, ou seja, saúde mental não é estar “felizinho da vida”. A mesma refere-se a um bem estar pessoal refletido no social e que inclui muitos desafios individuais e coletivos.
O janeiro de 2021 não está com cenário de calmaria e mais do que nunca é momento de lembrar-nos da saúde mental. Saber que a vida nos impõe desafios e neste janeiro pandêmico o desafio maior é o da sobrevivência, do cuidado coletivo e de luto. Assim, saúde mental não significa uma promessa de felicidade, mas sim não se fazer sintoma grave – aqueles que nos impede de socializar, de produzir, de nos cuidar e cuidar do outro.
Saúde mental é a compreensão de que somos seres humanos e possuímos limites, que não somos perfeitos e que nossas emoções oscilam num variado leque que compreende as polaridades: amor/raiva, tristezas/alegrias, realizações/frustrações, entre outras.
Aceitar-se e aos outros nesse emaranhado de emoções e se reorganizar de forma a não sucumbir enquanto sujeito faz parte de uma boa saúde mental. Saber-se envolto no desafio de viver em sociedade e suas contradições, e, mesmo assim, orientar-nos conforme nossos desejos e limites.
Saber que a vida humana não é uma promessa de felicidade, mas uma rendição, aceitação e busca de um ser social. Saber que não somos seres de instinto e sim seres dependentes de laços sociais e forjados pela língua da cultura. Mas também que a saúde mental é saber-se adulto e separado do outro (pai, mãe, patrão, companheiros, filhos, amigos…).
Saúde mental é lidar com o que nos angústia e transformá-la numa produção saudável. Como os artistas transformam em obras de arte suas apreensões, um escritor num texto, um professor no seu ensino, assim sublimamos o que nos incomoda e o que nos motiva a viver. Desse modo nos organizamos com familiares, colegas, amigos e outros.
Saúde mental é enfrentar os desafios que a vida impõe sem sucumbir. Saber de suas boas emoções e das desagradáveis também, mas aceitar que elas fazem parte da vida e transformá-las em algo positivo ou aceitável. É saber de seu próprio limite e buscar ajuda quando necessário; também é colocar limites naquelas pessoas invasivas e que causam tanto mal.
Enfim, a busca da boa saúde mental diz respeito a todos os seres humanos, não somente aqueles que se encontram em sofrimento mental.
Em janeiro de 2021, 70% de meus pacientes na clínica psicanalítica já perderam algum parente de primeiro grau. Outras questões psíquicas abriram espaço para seus lutos e ansiedades presentes e futuras com relação à COVID-19. Eles buscam, e nas suas dores, organizar a ausência física de seus entes queridos.
Estamos todos em luto! Saber dele também é saúde mental.
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