Eduardo de Ávila
Não é fácil, sabemos, mas votos de tempos melhores não nos faltaram na noite da virada do ano. Os velhos réveillons de tempos e décadas vividas, deram lugar a vídeos entre familiares e amigos. O abraço nos primeiros minutos de 2021 foi virtual. Quem, entre nós, passou ileso de alguma perda de pessoas queridas para o vírus?
Além das perdas para a Covid, ainda tivemos inúmeras outros queridos que se foram sem que pudéssemos estar presentes em cada despedida. Enfim, foi mais que um ano atípico, ainda estamos sob a égide do medo e de incertezas. Quando arrisco, agora muito mais que tempos atrás, numa incursão pelas ruas, ao entrar em casa passo por um ritual inimaginável.
Antes de entrar no banho, ainda banho de álcool em tudo que carrego comigo. Óculos, celular, carteira, documentos e cartões, ao final, na própria garrafa plástica que guarda o líquido para desinfecção. Acho que superei a fase da paranoia aguda, mas mantenho os cuidados que julgo necessários.
Pois que agora virou a temporada dessa triste minissérie do Coronavírus, estou – creio que estamos todos – ávidos pela vacina. Sonho com minhas doses, tantas quantas necessárias, que me libertarão para voltar a ver os jogos do meu time, ao cinema sem medo do ar contaminado, abraçar pessoas, reunir e aglomerar sem medo de ser feliz.
Durante esse período de isolamento, utilizei de tudo aquilo que meu livre convencimento sugeriu. Castanhas, sementes, manipulados de homeopatia, extrato de plantas, própolis. Vale dizer, produtos naturais que se em nada beneficiaram contra esse maldoso vírus, também não agrediram ao meu corpo. Em momento algum pensei em usar medicamentos e vermífugos indicados por loucos de plantão, que insistiam em politizar uma crise sanitária tão séria.
Nossas gerações nunca vivenciaram algo similar, sendo que todos nos lembramos de estudar algo inimaginável como foi a gripe espanhola do início do século passado. Ao ler sobre isso nos livros de História, jamais conseguimos nos projetar a essa realidade tão dura que fomos condenados desde março do ano que se encerrou dias atrás.
Dito isso, ao meu sentir e como está no título, o “virar essa página” depende muito de cada um de nós que seguimos sobrevivendo em meio a tanto caos. Voltar à normalidade, seja ela a mesma anterior ou novos tempos, sugere que prevaleça a harmonia entre pessoas e povos. Fundamental é que a ganância dê lugar à solidariedade. Li, não me lembro precisamente onde, pelas redes sociais, que nosso Direito Civil permite à exploração dos pobres e o Direito Penal impedem esses de reagirem.
É triste isso e tampouco posso assim imaginar, mas sugere a uma reflexão. Afinal, nos últimos tempos o que assistimos é o poder econômico cada vez mais concentrado nas mãos de poucos e a massa trabalhadora perdendo direitos e passando necessidades básicas de sobrevivência.
Novo ano, novos tempos! Tomara que o mundo – especialmente o Brasil – acorde e reajam para verdadeiras necessidades de mudanças. O trabalhador, que é o principal instrumento de sustentação do capitalismo, seja reconhecido, valorizado e remunerado, promovendo justa distribuição de renda. Afinal, a crise sanitária – como ficou evidente – não escolhe classe social. A solidariedade é que vai nos ajudar a definitivamente “virar essa página” sofrível da sociedade gananciosa.
Pois é Edu! Ás vezes não adianta só virar a página, muitas vezes precisamos rasgá-la,ou então trocar o livro. Sigamos fazendo a nossa parte já q não tem outro caminho, aliás,tem sim; trocaremos o livro em breve. Abraço…