Rosangela Maluf
Olho com raiva a folhinha de dezembro, no calendário de 2020.
Colada à porta da geladeira, ela insiste em me dizer que faltam alguns dias para o ano novo, 2020 ainda não acabou. Não me importo. Destaco o papelzinho. Embolo com certa raiva e jogo a bolinha no lixo. Gostaria que você desaparecesse,Senhor 2020. Sumisse do mapa. Nem lembranças suas eu gostaria que permanecessem. Já vai tarde…
Respiro fundo e volto a plantar um novo vaso de avenca. Tiro a muda, preparo o vaso novo. Faço um buraco e com todo cuidado transporto o torrão bem umedecido, já com algumas folhinhassurgindo na terra escura. Ainda penso na outra folhinha, a que arranquei do calendário, antes mesmo que o ano terminasse. Já não sinto raiva, sinto muita tristeza.
Como não culpar 2020 por tanta infelicidade? Minha e de todo mundo também?
Perdi a minha mãe, ausência dolorida. Não encontrei um amor perdido. Vazio gigantesco, sem explicação. Perdi tantos beijos, tantos abraços. Perdi momentos de alegria em família. Momentos de descontração com amigos. Horas de diversão, do jeito que mais gosto: nenhum passeio ao Parque, nem acarajé na Feirinha. Segundas-feiras vazias, sem concertos. Sem corais, sem orquestras de câmara. Nenhum show. Nenhum filme. Nenhuma peça de teatro. Exposição? Nenhuma.
Shoppings fechados, comércio, apenas o essencial. Sozinha em casa. Ida semanal ao supermercado. Às quintas-feiras uma ida à feira. Salão de beleza fechado. Pés e mãos por fazer. Sobrancelha, depilação, nada disto. O cafezinho no salão, os causos, as boas risadas: nada mais! Telefone, vez por outra, para lembrar-nos que ainda estamos vivos…mortos, mas vivos!
Aí, termina o ano e 2021 surge renovando nossas minguadas esperanças. Que cessem os dados absurdos dos mortos pelo Covid 19; que sejam logo substituídos pelos números de sucesso daqueles já submetidos à vacina, às vacinas, seja lá quantas forem – desde que eficientes contra o corona vírus. Que as novas cepas mutantes não sejam nada disto que estamos pensando. Tratamentos preventivos. Novas drogas. Tudo que for para mitigar nosso sofrimento, que venha, que nos chegue, o mais rapidamente possível.
Pouca coisa boa nos restou deste caótico e perverso ano.
O longo tempo passado em casa, em silêncio, nos permitiu uma conexão intensa e profunda com o mais secreto de cada um de nós.
Quem perdeu esta oportunidade ímpar de se autoconhecer, provavelmente não terá outra chance igual – não tão longa e nem tão duradoura.
Quem não aproveitou para ler muito muito muito, dificilmente terá tanto tempo livre, tanta disponibilidade para descobrir novos mundos, novos sonhos, se embebedar de emoções e encantamento.
Quem não procurou aparar as arestas dos relacionamentos, levados ao extremo pelo longo, cansativo e desgastante convívio, não sairá do desconforto de uma difícil vida a dois.
Quem não aproveitou tanto tempo livre para meditar, refletir, respirar consciente, procurando se acalmar, se equilibrar, pode ainda agir no próximo ano, pois estou certa de que levaremos um tempo para voltar ao normal.
E o que será normal? Como será esta normalidade? Ninguém sabe e a incerteza nos torna inseguros, hesitantes, flutuando em nuvens desconhecidas e assustadoras.
Ano novo, vida nova!
Amor, amizade, afeto, ternura, carinho.
Saúde, esperança, fé, alegria, felicidade.
Otimismo, perseverança, paciência, prudência.
Calma, equilíbrio, resiliência.
Compreensão, tolerância, despreendimento.
Humanidade, caridade, gentileza, solidariedade…
O que mais poderemos almejar? Já foi quase tudo dito.
Falta agora avisar para o ano novo que estamos exaustos, cansados, depauperados. Chega. Já basta. Foi um ano difícil, duro, caótico, desumano. Merecemos uma pausa. Um descanso. Todos nós. Eu, você, habitantes de todas as vilas, cidades, países, continentes, o mundo inteiro, todo o planeta. Que as expectativas de mudança energética da terra, se confirmem. Que os novos patamares dos processos evolutivos dos seres terrestres, sejam reais. Que o fio de esperança que ainda nos resta seja o condutor de novos tempos. Que a Ciência mais do que nunca se mostre soberana e que sobreponha-se ao capitalismo & lucro e outros interesses, que não o bem estar do ser humano.
Por isto só nos resta pedir a 2021: por favor, seja melhor pra nós!