Vovó Márcia não esperava ninguém quando a campainha tocou. Já se passava das três, e ela ainda tinha de molhar as roseiras, fazer ginástica pelo YouTube, lavar a louça suja na pia e, depois de zanzar pela casa inteira, poderia enfim sentar-se no sofá, quando tricotaria setenta e cinco pares de sapatinhos coloridos para o bisneto, que chega em janeiro.
E quem diabos tocaria a campainha àquela hora?
Foi saber.
Subiu as escadas com as suas perninhas firmes e ligeiras e abriu a porta, mas não mais que uma fresta. Do outro lado, deu com dois grandalhões. Eles se apresentavam como policiais. Diziam ter batido à sua porta por recomendação de homens da alta patente, vez que as telas pintadas pela vovó são famosas por toda parte, vejam vocês, até nos quartéis.
E era mesmo o dono do quartel o motivo que os trazia ali. Afinal de contas, o coronel, após uma vida inteira de serviços prestados à população, decerto gostaria de ter o seu busto retratado com pompas e louvores pelas mãos de uma artista como a vovó. Mas, para sorte dela, não era nada disso que os dois soldados tinham em mente.
Foram entrando e, pelo corredor, passaram os olhos por tulipas vermelhas, copos-de-leite e arranjos de rosas. Deslumbraram-se com a paisagem do Barreiro, com o campo de ovelhas e o pastor, mas tomaram outro caminho. Um caminho de chão batido, ladeado por bromélias azuis e árvores frondosas, que a vovó havia pintado há pouco. E pararam por ali, pois não quiseram ir adiante.
Decididos pelo caminho de chão batido, passaram então para as tratativas quanto ao preço do quadro, transporte, moldura e outras burocracias do mercado das artes. Vovó, pragmática que só, deu o preço da tela e disse que os policiais poderiam levá-la agora mesmo. Mas os oficiais, desprevenidos pelo rápido desfecho do negócio, não traziam dinheiro.
Foi quando um deles propôs que fossem ao banco mais próximo, e que voltassem para buscar a tela depois. Mas vovó, irredutível, bateu o pé. Por que não a levassem agora e, depois, voltassem com o dinheiro?
Homens da lei que eram, eles ficaram no impasse. Mas acabaram levando o quadro. Na saída, um deles ainda brincou, perguntando se a vovó não temia que eles fugissem e não retornassem com o dinheiro.
Então vovó foi certeira:
— Ora! Se não voltarem, eu chamo a polícia!
Silvia Ribeiro Então é dezembro. Hora de pegar a caderneta e fazer as contas. Será…
Mário Sérgio Todos os preparativos, naquele sábado, pareciam exigir mais concentração de esforço. Afinal, havia…
Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Com a proximidade do Natal e festas de fim de ano, já…
Peter Rossi Me pego, por curiosidade pura, pensando como as cores influenciam a nossa vida.…
Wander Aguiar Finalizando minha aventura pelo Caminho de Santiago, decidi parar em Luxemburgo antes de…