Eduardo de Ávila
Muitos dentre nós, notadamente gerações do milênio passado, vivenciamos convicções que lentamente geraram desconfianças. A primeira delas, me lembro bem, é que cheguei no bico de uma cegonha. A cada nova gravidez, ficava ansioso por avistar essa danada que só aparecia quando eu não estava por perto. Minha curiosidade era por entender a razão das barrigas murcharem.
Depois, naqueles tempos, brincar de bola e carrinho. As primeiras eram de plástico, que fantasiavam aquelas que víamos no gramado profissional. Nunca vou esquecer, ganhei uma G18. Era o sonho dos meninos da minha época. Me imaginava vestindo a camisa do time do meu coração, até que entendi que não tinha condições técnicas para tal façanha e virei goleiro. Todo garoto ruim na linha era condenado a atuar no gol. Ah! Nessa ocasião, ainda descobri que não era a cegonha coisa nenhuma, mas sim um bom brinquedo de adulto que tomava o lugar da fantasia infantil.
Já na pré-adolescência, as incertezas me pegaram e duraram uma eternidade. Seguro que meu lugar no futebol seria na arquibancada, passei a conviver com a dúvida sobre o futuro. Tive tanto medo de não dar em nada, que acabei fazendo dois cursos superiores. Do Direito, um momento mágico no amadurecimento e que me fez militante da resistência, guardo boas lembranças na Faculdade Milton Campos. Até hoje nos reunimos para saudar aqueles momentos.
Porém foi no jornalismo que me realizei pessoal e profissionalmente. Não sou e nunca sonhei em ser uma estrela da profissão, tampouco sou um profissional do baixo clero. Sou razoável, o suficiente para ter chegado onde estou. Trabalhei em diversas redações, ainda exerço a função em assessoria e assino dois blogs ao lado de pessoas que me são muito estimadas. Nesse caso, a máxima do título foi invertida, a incerteza se transformou em certeza de dois interessantes espaços diários que fazem parte do cotidiano de milhares de leitores. Este Mirante e outro de futebol.
Mas para chegar até aqui, tive de enfrentar muitas desconfianças – recheadas de inseguranças – tendo a sorte e o privilégio de um portal que nos dá ampla visibilidade e parceiras e parceiros comprometidos com conteúdo e pontualidade. Paralelo às minhas atividades profissionais, aquela remunerada – neste momento em home office –, acompanho durante todo o dia os comentários de leitores e acessos aos dois espaços. Parecia, com isso, que minha vida caminhava para a certeza de uma aposentadoria que me premiaria com tempo para dedicar ao meu jeito de levar a vida.
Que nada! Primeiro, por não me ser ainda viável pensar nesse momento em “pendurar as chuteiras”, uma vez que – vivendo num país de incertezas – receio ser condenado a viver sem condições mínimas de sobrevivência. A despeito da expressão futebolística utilizada, comemoro que mesmo não sendo profissional dos gramados, acabei virando blogüeiro também de assuntos relacionados ao campo de jogo e meu time preferido.
Aliado ao momento de incertezas, o mundo todo convive – há um ano – com a COVID-19. Os primeiros meses, no meu caso pessoal, passei confinado dentro de casa (apartamento de fundo, sozinho, sem ver a rua), até que a flexibilização foi sugerindo ganhar as ruas. Incialmente uma vez por semana, depois duas, três, cinco; até retomar a rotina. Ainda que com limitações. Cafeteria foi um ganho, salas de cinema não quis arriscar, jogos de futebol seguem proibidos. Então, ainda me faltam algumas (re)conquistas. Delas advirão, claro, outras relacionadas à plena liberdade de ir e vir.
E a vacina? Quando será liberada? De onde? A meu gosto, por agilidade e eficácia, venha de onde for. China, Rússia e até Estados Unidos. Já disse e repito, as duas primeiras, uma em cada braço, a do tio San no traseiro. Afinal, é lá mesmo que os americanos injetam ao mundo todos os seus interesses comerciais e de domínio.
Fato é que vivemos tempos, durante essa temporada de 2020, condenados ao isolamento e aguardando notícias laboratoriais, científicas e de toda ordem para retomar as ruas, praças e avenidas da cidade. Quando sentimos algum desconforto, nosso diagnóstico inicial sugere covid ou uma gripizinha? A liberdade que sempre vivemos deu lugar à prisão domiciliar. Cresci jogando “pelada” na rua da minha infância em Araxá, onde hoje nem existe vaga para estacionar carro. Paralelo a isso, agora tenho a convicção que precisamos – mais que nunca – saber eleger governantes com perfeitas condições e sanidade mental. Certeza do envelhecimento sim, incerteza dos tempos, mais ainda.
As incertezas são nosso combustível para levarmos a vida. A única coisa que temos certeza que irá acontecer com todos, nós teimamos em nos iludir que irá acontecer com os outros, mas não com a gente.
Antes de exigir sanidade mental, é preciso confirmar que o(a) distinto(a) postulante seja gente e não, simplesmente, um(a) coiso(a) indefinido(a) que tem apenas forma de gente.
Antes de exigir sanidade mental, é preciso confirmar que o(a) distinto(a) postulante seja gente e não, simplesmente, um(a) coiso(a) indefinido(a) que tem apenas forma de gente.
Prezado! Ainda hoje sou um tanto incrédulo e não absorvi muito bem este mundo q parece estar flutuando a todo momento. A incredulidade ñ é com a cegonha e sim com estes governantes do caos. São verdadeiros D. Quixote lutando contra inimigo um imaginário q não têm direção nenhuma.O país aos poucos vai definhando com essa corja de malucos q tudo podem e tudo lhes convém. Deixe ir ali caiar um meio fio enquanto a “cegonha” ñ vem…