Viva para contar

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Victória Farias

Ontem, domingo, dia 25 de outubro, quando fomos mais uma vez presenteados com um texto da nossa querida Rosângela Maluf, a ficha caiu: faltam dois meses para o Natal. 

No supermercado, me deparei com uma infinidade de panetones de todos os preços e tamanhos. Não gosto, nunca gostei, amargam na boca. Mas, faço questão de todas às vezes trazer um mini-panetone para minha avó. Acho que é para isso que o Natal serve.

Ano passado, nesta mesma época, estava me preparando para um tour ao Nordeste. Recordo de não me sentir muito bem na virada do ano. Um pressentimento? Não sei dizer. Uma lembrança distorcida? Muito provavelmente.

A questão é que hoje me encontro naquele barco – que está afundando e a cada dia um se reveza com um baldinho para jogar a água para fora  – da turma que acha que à 00:00 do dia 01 de janeiro de 2021, tudo irá mudar. Talvez essa mudança fique para 00:00 de 2022. Ou 2023. Depende. 

Enquanto o jornal da tarde parece uma reprodução impecável das comemorações do Final do Ano em família – um diz uma coisa, outro diz outra e no final ninguém está certo e todo mundo acabou bêbado de vinho barato – seguimos por mais um mês desse ano que eu não consigo me decidir se está indo rápido demais ou se não está passando.

Uma prova disso são minhas idas ao sacolão, onde todas às vezes perco alguns minutos para admirar a faixa de “Feliz Dia das Mães” estendida na parede. – Feliz dia das mães? – penso. Será que eu dei presente para minha mãe? Será que ela gostou? Mas o dia das mães não é em maio? O que está acontecendo? 

Alguém precisa tirar aquilo de lá. É uma canseira psicológica ter uma crise existencial só de pensar se eu ainda estou pagando pelo presente da minha mãe. – Eu chequei meu extrato do cartão de crédito, e a resposta é sim.  

Mas hoje, faltando menos de 60 dias para o Natal e 65 para que a Terra dê uma volta completa ao redor do Sol – a menos que vivamos em um domo, mas isso vou deixar para vocês decidirem – não me cabe mais ter esperança de dias melhores. 

O que me resta é aceitar e admirar as decorações nos shoppings apinhados de gente com máscaras no cotovelo. Esse ano eu aposto em uma estrutura básica em verde e amarelo, sem vacina, e com papais noéis sem barba para não carregarem o vírus, e vocês?

*

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Victória Farias

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