Eu & eu comigo

Rosangela Maluf

Faria cinco meses naquela semana! 

Um isolamento social severo, o distanciamento recomendado, o uso da insuportável máscara, o álcool gel na bolsa, a higienização das mãos e de tudo o que fosse comprado, antes de ser guardado, já em casa. Nada de amigos, família, abraços, beijos, papos em dia, nada!

Acordar às sete horas, o pequeno ritual da manhã e meia hora de meditação. Depois, já de volta à cama, ligar o rádio no primeiro jornal, um pequeno resumo do que nos espera pra hoje. Uma garrafinha de água com gás. Virar de lado e quase sempre dormir de novo, até às nove horas naquele segundo sono, desde sempre o meu preferido. Acordar de novo, fazer uma horinha, até criar coragem pra me levantar – poucas coisas são melhores que uma boa cama, de manhã.

Depois, recolhia as sujeirinhas dos três gatos, limpava a areia das caixinhas, colocava ração e água. Molhava as plantas, borrifava água nas folhas, catava as folhinhas secas. Conversava com minha avenca, Jandira, agradecida pela alegria que eu sentia a cada vez que nascia um novo raminho. Elvira era a renda portuguesa, exuberante em sua vasta ramagem que inundava meu coração de afeto. Eu sorria ao falar com ela também. Vários outros vasos, sem nomes, igualmente faziam minha felicidade. Descobri bem tarde que tenho paixão por plantas e flores. Muito mais que comprá-las adoro ser eu mesma, a jardineira. Depois, passava uma vassoura na casa pra limpar os pelos dos bichanos. Esta parte dos pelos é a que menos me agrada, apesar de ser muito necessária e precisa ser feita diariamente, até duas vezes ao dia. Em seguida, pano úmido em todos os quartos, salas e banheiros, para aguardar na quinta feira, o dia da faxineira para uma limpeza geral.

Batia no liquidificador minha supervitamina, quase sempre banana + aveia + leite + gelo + leite ninho! Colocava o biquíni e estendia na varanda, uma toalha sobre o tapete emborrachado.  Levava meu sonzinho, tendo antes escolhido um CD para ouvir durante minha sagrada hora ao sol. Era importante manter em alta os níveis de vitamina D. Uma hora de já me bastavaa. Meia hora tostando de frente e meia hora, deitada de costas. Variava de Freddy Mercury a Bach, passando por Vander Lee, Vivaldi; de Marisa Monte à Angelina Jordan passando por chorinhos e Ricardo Arjona. Comigo, dividindo espaço na mesma esteira: Shime, Ruth e Kekel. Meus gatos queridos.

Após o sol, um banho demorado. Vou agora cuidar da vitamina C. Uma limonada em copo duplo e só então recolho meus pertences no Clubinho da varanda.  Banho, com o Spotify ligado no celular. A sensação deliciosa da água morna caindo nas costas. Ritual de hidratantes, perfume e batom, sim, pra ficar em casa! Ligar o computador. Ver o que há de interessante nos três jornais: um brasileiro, um argentino e um francês. Ando cheia do Corona vírus, não aguento mais. Uma rápida olhadinha. Quem morreu? Quantos morreram? A vacina vem ou não vem? E o pior de tudo: um bando de políticos corruptos, desonestos, aproveitadores, imundos, nojentos que continuam com seus repetidos golpes na saúde pública! Inacreditável. 

No meio de tanta sujeira pelo país, o Rio se destaca como o campeão das falcatruas. Um horror. Lamentável e profundamente triste. A gente se pergunta como é que têm coragem de, totalmente desprovidos de ética e de humanidade, se aproveitar daqueles que pouco ou quase nada, têm. Em momento tão doloroso para todos nós, é assustador o quanto podem ser abomináveis estes políticos de merda. Não há outra palavra para classificá-los. Sorry!

Passo pro What’s. Não aguento mais, todas as manhãs, cento e dezoito  “bom dia” + figurinhas =  não respondo. Não vejo os vídeos. Prefiro não me estressar logo cedo. Verifico se alguém postou alguma coisa nova ou interessante.  Raramente algo compartilhável. As notícias são antigas, de semanas já passadas. Cheios de santos, deuses, anjos, os posts vão me deixando irritada. Os vídeos quase sempre longos e chatos: péssima imagem e péssimo som e assuntos: ai que preguiça! Ando sem paciência para essas comunicações virtuais totalmente desprovidas de inteligência. Há exceções, é claro, mas são exceções!

Agora vou ao Instagram. Trinta e três  acessos aos meus posts de ontem. Bom. Não gosto do Insta. Sei que há um esvaziamento do Face e que estão todos migrando para outras redes sociais. Participo, mas não gosto. Instalei o Telegram e por ser tão parecido com o What’s, me pergunto se vale a pena mantê-lo ou desinstalá-lo. Não tenho Twitter faz tempo. O Messenger também foi desinstalado – que chatice, que chatice absurda! E o pior, avisei umas dez vezes que estou sem o Messenger no celular (mantenho-o, em segredo, só no computador) e as pessoas insistem,  mesmo assim. Novenas, notícias antigas de violência policial, fotos de animais sendo torturados – que chatice! Faz parte dos meus planos, cancelar todos eles ficando com o Face e o What’s fora de todo e qualquer grupo. Já saí do Twitter, Linkedin, Telegram…

Uma olhada em meus e-mails. Respiro fundo e abro somente o que me parece ser mesmo imprescindível, ou seja, nenhum deles. Deleto tudo. Publicidade de sapatos, perfumes, roupas de cama, ração pra cachorros, cursos de inglês, aulas pagas de todo e qualquer assunto. Jamais uma mensagem interessante, só chatices & mesmices! Uma olhada em minha conta no banco. Sem novidades e em tempos de isolamento total, a economia é compulsória e vejo, com alegria, sobrar um pouco ao final desses últimos meses. Sem sair de casa, não se gasta, é claro! Pelo menos uma boa notícia.

Outra olhada na minha agenda: contas a pagar, compras feitas  com cartão de crédito, outras compras com o cartão de débito. Dinheiro vivo para pagar a faxineira e uma minirreserva, para alguma eventualidade. Penso nos milhões de pessoas sem acesso ao auxílio emergencial pago pelo governo. Penso com tristeza nas agências da Caixa, recheadas de despreparo, falta de planejamento, desorganização, total desencontro de informações. Me pergunto como alguém pode sobreviver sem nenhum centavo, nenhuma renda, contas pra pagar e com filhos, muitos filhos! E o povão lá, madrugando para chegar às agências que abrem, não abrem, atendem, não atendem, liberam, não liberam o tão importante recurso.

O mesmo caos tem sido observado no INSS. Milhares de pessoas aguardando a perícia médica que não chega a quem precisa.  A agência vai abrir, não, não vai. Os médicos irão atender, não, não irão. Alegam insegurança quanto à frágil proteção contra a Covid 19 nos postos de atendimento e enquanto isso pessoas se deslocam, sem poder, na tentativa do atendimento…e nada! A TV mostrou alguns médicos presentes em seus consultórios particulares, nos horários em que deveriam estar no INSS atendendo à uma população tão sofrida, e em  lamentável estado de penúria. 

No meio da tarde, iniciava o meu Curso de História da Arte. Fiz uma programação que envolveu 130 aulas: desde o início (de tudo a que chamamos  arte) até os dias atuais. Da arte rupestre nas cavernas até a chamada arte moderna ou contemporânea o curso me dava enorme prazer. Dedicar aquelas horas a um assunto tão apaixonante, só me fazia bem  e eu nem via o tempo passar. As últimas aulas foram sobre o Modernismo, que me arrepia de aflição e raramente me diz alguma coisa. Não a aprecio, não me diz nada e não gosto, mas procuro entender melhor e principalmente ouvir opiniões daqueles que gostam, que apreciam, que indicam, que fazem boas análises. E procurando me manter aberta ao que me desagrada, aprendo sempre um pouco mais.  

O Impressionismo (e o pós) é, entre todas as escolas, a que me encanta, emociona e me arrebata. Sou capaz de ver e rever por várias vezes, on line,  o Museu Van Gogh, em Amsterdam, que já conheço, mas  que ainda assim, me comove a cada visita virtual. Vários outros chamam minha atenção e dou sempre um jeito de vê-los: o da Frida Kahlo, as casas do Neruda, no Chile. Muita coisa interessante, basta gostar, ter curiosidade e procurar por eles. 

Faço visitas guiadas ao L’Hermitage, de São Petersburgo, na Rússia. Não o conheço ainda, mas são vídeos apaixonantes e o longo tempo de duração, com excelente qualidade de som e imagem, me permite dividi-los em várias partes, de modo a não me cansar. O Louvre, em Paris, conheço e lá já estive algumas vezes, mas há sempre um setor ainda por descobrir. O Metropolitan de NY, encantador com sua riquíssima galeria de arte egípcia, que já vi e revi várias vezes.   

Desde muito nova sou louca por música, por rádio. Adoro música clássica e os compositores barrocos são os meus preferidos. Os CD’s que colecionei ao longo da vida dormem em uma grande gaveta, pois hoje temos o Spotify, o Youtube e podemos ouvir, com qualidade a qualquer momento, no computador e no celular. Vivaldi, Bach, Haendel, Corellli, Lully & outros fazem a minha alegria. Jazz não gosto. MPB só as antigas. Não sei sequer os nomes desses cantores e cantoras de hoje. Nenhum interesse. Letras muito ruins, português muito errado, rimas tão equivocadas que sinto vontade de chorar. Sinto saudades de uma boa MPB.

Às vezes preciso lavar roupas, separo um dia,  na parte da manhã. A cada quinze dias tenho roupas pra encher uma máquina. Se não estou com vontade, fica pra amanhã ou pra depois! Sem pressa e sem stress. Acho incompatível com a modernidade do século XXI o “passar roupas”! Abomino e por isso mesmo não adio: lavei num dia, no outro já passo e fico livre. Aprendi com amigas que quase nada mais é preciso passar e tenho seguido, com muita alegria, essa dica preciosa. Pensem comigo: é um processo desesperador;  você troca, por exemplo, sua roupa de cama: tira, separa, coloca a roupa limpa. Leva a roupa suja pra máquina, coloca e distribui pacientemente as peças. Olha o nível da água, mede o sabão em pó, um copinho de amaciante e espera. Espera. Espera. Tira as roupas da máquina, estende. Espera secar. Tira do varal, dobra, passa, dobra de novo, guarda! Meu Deus, como é possível, em pleno século XXI!

Ainda posso escolher arrumar os sapatos! Escovar, limpar, guardar de novo ou  então lavar os tênis, os cadarços separados, ajeitar tudo bem arrumado, dentro do armário. Há pouco tempo, na ilusão de que teríamos um inverno, separei e coloquei as roupas mais quentinhas que trouxe do sul, onde morei por sete anos e que usava sempre no frio intenso de lá. Casacos, jaquetas, blusas, lenços, calças de veludo. Sabem o que usei em BH? Nada. Nada. Com a pandemia quase não saí e um dia ou outro mais friozinho, ficava em casa, de moletom, esperando que esfriasse um pouco mais para usar – pelo menos para dormir – um edredom ou cobertor mais pesadinho. Qual o quê!

Às vezes faço um café e vou pra cadeira de balanço, meu refúgio adorado, onde leio durante o dia (à noite, só na cama). Tudo à mão: a xícara bem grande de café ou chá, os meus óculos de leitura. A lapiseira para anotar coisas e grifar no livro (sim, eu faço isto!). Os chicletes, de tutti frutti, não fico sem. E leio, sem hora pra terminar. 

Se sentir fome, faço outro cafezinho e dois biscoitinhos casadinhos com goiabada. Almoço mesmo só bem mais tarde. Preparo uma boa salada e uma massa, ou um arroz caprichado e lá vou eu, pra cozinha para, em seguida, lavar a louça. Invariavelmente, três sobremesas acalentadoras: paçoquinha, suspiros e chocolate. Não deixo nada pra lavar depois. Tudo limpo e arrumado, na hora (uma leve neurose, sim!). Tudo bem simplificado e prático. Se o livro estiver muito bom, vou até o final do dia. Depende, mas depende só de mim. De mais ninguém e de mais nada ( ah, a liberdade não tem preço)

Em tempos de pandemia morar sozinha é uma bênção. Nenhum compromisso, nenhum. Isso é um fator “des-estressante”, já que não te obriga a nada. O silêncio me faz bem. O isolamento sempre me agradou e acho mesmo que sou uma ótima companhia pra mim mesma. Não sinto falta de ninguém nem de nada para me sentir plena. Gosto muito de ficar só. Sossegada. Em paz. É claro que quando der, quero reencontrar as amigas, a família, marcar um café com cada um dos grupos que tenho, enfim voltar à tão esperada normalidade. Várias amigas e sobrinhas já vieram almoçar comigo. Com toda segurança e tomando todas as devidas precauções, é claro.

 Aos sábados, meu filho almoça comigo. Fazemos uma comidinha boa, uma bebidinha boa, uma sobremesa boa e vamos tocar violão e cantar, a dupla de ouro. Ele sai daqui já bem tarde e acho ótimo. Entretanto, se por qualquer motivo ele não puder vir, nenhum drama – fico bem do mesmo jeito. O outro filho mora em Cambridge, com a mulher. Me liga pra gente conversar no skype. É uma delícia. Colocamos o papo em dia, ele filma o seu apartamento, me mostra sua mesa de trabalho, suas coisas, pois está também em home office. Manda fotos da cidade, Cambridge, e de Londres aonde eles vão com bastante frequência. De trem, percorrendo paisagens cinematográficas. O papo muito bom, sempre com muita risada e bom humor. Se ele não ligar, nenhum drama, quando ele puder, iremos nos falar. Não cobro nada, nunca, e sempre foi assim, os dois já sabem.

Como toda dona de casa, preciso sair por, pelo menos, duas vezes na semana; uma delas para o supermercado e feira, a outra para o salão (aqui em frente), fazer o pé, mão, escova quando está aberto. Se não, eu mesma faço minhas unhas, sobrancelhas; lavo e deixo o cabelo, anelado, natural. Não gostava nem um pouco, agora acho ótimo poder, todos os dias, lavar o cabelo durante o banho. Parece uma bobagem, mas é uma libertação.

Depois do almoço lavo a louça – a neurose não me permite deixar nada sujo. Sinto prazer em ver a casa limpa, arrumada, as coisas no lugar. Imagino que deve ser o mesmo prazer, que as pessoas desorganizadas têm de ver a bagunça instalada. Cada um com sua neura!

 Volto pra internet. Um filme, uma série, um podcast interessante, paciência ou dominó on line ou volto depois para o livro se estiver muito bom. Se nada estiver me agradando, vou pro violão, toco músicas antigas ou tiro novas canções. Se eu não quiser violão, vou colorir mandalas, ao som de uma música que eu goste muito. Pode ser Bach ou Maria Gadú. Posso ainda arrumar gavetas, costurar uma coisinha ou outra, trocar um elástico de uma calça de pijama. Posso organizar minhas bijouterias, dependurar os colares, separados por cores; ou arrumar os anéis e pulseiras organizando os dourados, os prateados e os coloridos.  Tenho uma gaveta com cintos, dobrados em rolinhos, com elástico prendendo cada um deles. Posso ainda tirar todas as bolsas, limpar, rever os interiores e quem sabe achar uma nota de cinquenta reais, dobradinha e escondida (tenho mania de fazer isso!) Aí, me lembro do café, se o tempo estiver um pouco mais fresquinho,  prefiro um chá. 

Posso também voltar ao passado. Ainda trago comigo caixas de fotos impressas, coloridas, daquele tempo que revelávamos fotografias coloridas, em papel brilhante ou fosco (meus preferidos. Não se pensava em celulares e muito menos, em celulares  com a câmera instalada. Organizo por períodos, por pessoas, vou fazendo pacotinhos com gominhas amarelas. Revejo as fotos, mas o que mais gosto é ver além das gravuras. Quando são fotos minhas, mais importante do que me “ver” na foto, é tentar me lembrar do que eu “sentia” ao posar pra  aquela foto. Um exercício muito bom que eu adoro fazer!

Entre seis e sete horas é o pior dos horários.  Aproveito para meditar por mais meia hora. Respirar, permanecer no momento presente e, principalmente, ser grata por tudo que a vida me concedeu. Tudo. Aproveito para mentalizar todas as pessoas que me foram caras e aquelas que já não se encontram mais aqui. Gosto do ritual das sete tigelinhas sendo preenchidas com água. Coloca uma flor, uma tigelinha com arroz, os incensos, as velas, os mantras. Gosto de tudo e adoro este ritual. 

Agradeço pela vida, pela saúde, pela família, pelos filhos, pelos amigos, pelas grandes amigas, pelos amores que tive, pelas pessoas que foram importantes na minha caminhada. Luz para todos e também para aqueles que dirigem os destinos do país – sou pessimista e não acredito que tempos melhores virão. Por isso peço uma mãozinha ao pessoal lá do alto!  E me preparo também, sem drama! O que tiver que ser, será!

Tenho um defeito grave (risos): não gosto de telefone. Raramente ligo, mas não me importo de receber ligações. As pessoas quando me cobram, anoto num 3M, colo aqui na minha frente e na próxima semana, “ quando for a minha vez”, eu ligo. Poucas amigas, poucas sobrinhas, quem me conhece já sabe! 

Vejo, por dia, um único jornal pela TV e mesmo assim se estiver achando muito chato nem chego ao final. Não gosto, nunca gostei e jamais gostarei de política. Reconheço sua importância na vida de todo e qualquer cidadão, mas me excluo disso aí. 

O total desgoverno do Brasil me incomoda profundamente. 

A incompetência generalizada, em todos os níveis, me desagrada. 

A corrupção deslavada e crescente me assusta. 

O total e absoluto abandono de áreas vitais como saúde, educação, segurança, me entristece. 

As consequências do aquecimento global se traduzem por fenômenos naturais cada vez mais intensos e avassaladores: maremotos, terremotos, tsunamis, vulcões em erupção, queimadas por todo lado, situação deplorável, sendo o homem o principal responsável! E nós aqui. Num país sem infraestrutura, sem saneamento básico. Aumento crescente do percentual de miseráveis. Sistema policial truculento, corrupto, a cada dia mais violento. Estradas em estado de absoluto abandono, insegurança total para quem trafegar por nossas BR’s, além de corrupção também na Polícia Rodoviária. Criminosos famosos e importantes têm seus processos adormecidos e ninguém fala neles. Assassinatos aos montes, ainda que se conheçam os autores, ninguém cita nomes. E quem mandou matar Mariele? …e  por aí vai!

É muito grande a carga negativa a que estamos sujeitos em nosso dia a dia. Tenho por lema não permitir que nada nem ninguém possa tirar-me  do meu ponto de equilíbrio (duramente conquistado), mas não é fácil. Somos bombardeados continuadamente e é por isso que me esforço tanto no dia a dia. Precisamos investir em nossa sanidade mental. É o que nos sustenta, nos ampara e nos fortalece. Por essas e outras é que escrevo. Não tenho disciplina rígida nem compromisso diário, mas escrevo sempre. Anoto coisas, palavras soltas, pequenos casos que ouço por aí. E guardo um monte de papeizinhos rabiscados.

Depois do jornal volto ao meu quarto. Preparo a cama, me apronto para deitar. Separo o livro da noite. Os óculos e a garrafinha de água já se encontram sobre a mesinha de cabeceira. O celular carregando a bateria. Apago a luz . Acendo o abat jour. Um, dois, três gatos pra fora: saiam todos do tapete. Fecho a porta. Normalmente são dez horas ou um pouco mais. Se o livro não está lá grande coisa, o sono me chega mais cedo e por volta das onze já quero dormir. 

Ocupo todo o espaço da cama, experiência recente, adquirida no período pós–separação. Indescritível sensação de liberdade plena. Distribuo os quatro travesseiros de maneiras diversas, dependendo do que preciso para o meu conforto. Ouço um áudio de meditação e relaxamento ou escolho um áudio book, recentemente descoberto e bastante adequado, antes de cair nos braços de Morfeu.

 Nesta pandemia tenho tido tempo de sobra pra escrever e posso até pensar num segundo livro, porque não? Meu projeto de lançar um livro é bem antigo, mas sempre preferi viajar ao invés de contatar uma editora. Assim foi que, por diversas vezes, iniciei o processo e o interrompi para arrumar as malas e partir pra outro país. Com a pandemia e com essas coincidências providenciais consegui, em poucos meses, organizar tudo e deixar o “Theodore está me traindo” pronto. Consegui uma editora especial que em muito me facilitou a sua publicação. Os editores se tornaram amigos e tudo fizeram para viabilizar a minha primeira edição. Assim, depois de uns poucos meses, fui convidada a lançar o livro na Bienal BH que seria em maio, bem no dia do meu aniversário – um presentão.

 Entretanto, com a chegada do Corona vírus, o evento foi adiado para setembro e no final de agosto soubemos que a Bienal só no ano que vem. A editora então sugeriu a prévenda, toda feita  on line e obtivemos resultados muito bons. Assim, há menos de duas semanas, a editora conseguiu colocar o “Theodore” na Livraria Leitura, nas lojas do Pátio Savassi e do BH Shopping. Daqui, continuo torcendo para que as vendas continuem bem: é preciso pagar à editora!

Não tenho do que reclamar. O desconforto que sinto com a pandemia é o mesmo de milhões de pessoas em todo o mundo. E vai passar. Esse vírus veio para nos mostrar muitas coisas, desde que estejamos abertos para saber e conscientes do que isto representa em nível mundial. E vai passar. Por outro lado a aceitação e cumprimento das medidas sanitárias também é a mesma para a  maioria das pessoas inteligentes e esclarecidas, em qualquer país do mundo. Bom não é, mas vai passar. 

E quando estivermos vivendo o novo normal, teremos todos (espero) nos modificado internamente, para melhor. Não sou otimista e não acredito que dias melhores virão. Acredito sim, que teremos um longo e difícil período pela frente. Mas vamos comemorando pequenas vitórias. A estabilidade e a regressão do número de casos em vários países do mundo. A chegada próxima de uma vacina que permitirá a volta às aulas, ao trabalho, ao lazer, ao entretenimento, aproximando-nos do novo normal. A abertura gradual das atividades comerciais para tentarmos recuperar a nossa combalida economia. A permissão para os abraços, que na verdade, é o que mais falta me faz.

Enquanto isto, egoisticamente, vou cuidando de mim. Das minhas plantas e flores. Da Jandira. Da Elvira. Dos meus gatos Shime, Kekel, Ruth. Das pessoas próximas a mim, e esperando que tudo passe logo, e que passe bem! Em breve, voltaremos a nos ver, talvez ainda sem abraços e beijos, porém mais próximos. Tomara que logo possamos retomar os concertos do Palácio das Artes, da Fundação de Educação Artística e concertos ao ar livre, no Parque Municipal. Que possamos ver muitos e bons filmes. Andar pelos shoppings. Voltar à Feira da Afonso Pena; comer acarajé na barraca da Magrela. Comprar bijoux, para colorirmos nossa primavera interior. Passear pelos shoppings, olhando vitrines. Tomar  sundae de caramelo, daqueles duplos, bem grande. Voltar a caminhar pelos parques. Fotografar casarões antigos. Sim, há muito por fazer.

 E faremos…

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