Um segundo antes de o sinal pular do amarelo para o vermelho, o homem acelerou. Quase deu com um motoqueiro que, não menos impaciente, já arrancava do outro lado.
Foi quando ouvi uma voz mansa se arrastar. Delongou-se no caminho entre a boca do interlocutor e os meus ouvidos, mas chegou, íntegra:
— Ter pressa pra quê?
Então o autor da questão apareceu ao meu lado. Era um tipo tranquilão, com a máscara dependurada no queixo, bermuda e um cigarrinho pendendo no canto da boca. Atravessamos a rua e caminhamos meio quarteirão. Ele falando, eu ouvindo. Precisei reduzir o ritmo dos passos.
O pacato amigo contou-me então que é taxista há vinte anos. Já viu de tudo nas ruas de Belo Horizonte. Atropelamentos, abalroamentos, brigas de trânsito e mesmo coisas mais sérias, como um sujeito que convergiu sem antes ligar a seta. Tragédias da nossa vida corrida.
— Ter pressa pra quê? — disse ele.
E quis saber, com ar de superioridade, se eu conhecia fábula do coelho e a tartaruga.
— Claro! — respondi.
De nada adiantou. Pois ele me contou que o coelho e a tartaruga precisavam chegar ao topo da montanha. O coelho correu tanto, mas tanto, que parou no meio do caminho. Ao passo que a tartaruga, devagar e sempre, dali a duas ou três horas, estava lá: plena, no alto da montanha.
Despedimos, eu sorri educadamente e ele acenou de volta, entrando no seu táxi branco.
Segui meu caminho até a esquina, quando a luz vermelha do sinal de pedestres deu a piscar. Você sabe, eu ainda estava no meu direito de atravessar. Mas, inspirado na história da tartaruga, finquei os pés na calçada, e resolvi esperar.
Sorte a minha. Pois um segundo depois, um táxi branco avançou imprudentemente, como se tivesse toda a pressa do mundo, sem tempo nem de explicar pra quê.
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