Correu pelos nove círculos do inferno, até chegar aos ouvidos do chefe. Foi quando soube de uma famosa pintura que retratava o seu rival, esbanjando-se à mesa farta ao lado de 12 bons companheiros, e que vinha causando um alvoroço no reino dos mortais.
Agora não havia pecado capital que o fizesse desistir. Tinha a ideia fixa na cabeça, como o próprio par de chifrinhos: o Diabo queria uma “Última Ceia” igualzinha.
Mandou um diabinho subir na Terra, e procurar o tal do da Vinci. Mas não conseguiu o encontrar nem por reza brava, porque o diabinho — um diabo de princípios — não podia rezar.
Sem saber onde diabos o da Vinci havia se metido, o diabinho contentou-se então com o de Mello — o decano da arte de esculpir as estranhas dos reis. O homem não sabia pintar, mas prometeu pintar o sete.
Concluída a obra com esmero, dedicação e requintes de crueldade, de Mello fez suspense e manteve a desagradável surpresa sob o sigilo de todos.
Até que deixou o pano cair, fazendo com que o Diabo dissesse “Deus me livre”. Pois lá estava ela. A portentosa e horripilante “Santa Ceia” invertida — do jeito que o Diabo gosta.
Tal como a obra chinfrim da concorrência, o Diabo foi retratado ao centro dos seus discípulos. Era o momento em que ele anunciava: “um de vós me há de trair, porra”. Ao que um dos seus homens mais fiéis, reconhecido pelo exemplar compromisso com a justiça parcial, dizia: merda.
Sucederia então um bacanal bastante republicano, marcado por grandes palavras, que entrariam para os anais — outro belíssimo vocábulo — da política brasileira como “palavrões” de ordem.
Cem anos depois, o bisneto do escritor Dan Brown lançaria o romance “O Código De Mello”, em que a quinta geração do personagem Robert Langdon revelaria as mensagens subliminares contidas na “Santa Ceia” invertida.
De acordo com o best-seller — que viraria filme estrelado por Tom Hanks Neto — o general sentado à esquerda do Diabo não era Maria Madalena, mas também não era um general. Era apenas um soldadinho de chumbo, que servia de brinquedo para os moleques depravados — 01, 02, 03, 04…
Mas o que causou mesmo um rebuliço dos infernos foi uma revelação ainda mais cabreira: no centro da mesa, não era o Diabo. Nem o chupa-cabra, o belzebu, o bicho-papão, o tinhoso, o cão, aquele-que-não-deve-ser-nomeado, o capiroto, o monstro do lago Ness, o jacaré da lagoa da Pampulha, o bumba meu boi, a cuca, o lobisomem, o coronavírus, o homem do saco ou macaco da porta dos desesperados.
Era muito pior do que isso — e mais um pouco.
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