Escrevi na semana passada que vi o meu pai chorar pela primeira vez. Agora, outra estreia inusitada dele: o primeiro filme que me indicou. Foi durante uma dessas nossas viagens de carro, quando o meu pai — que chora com a mesma frequência que nunca vai ao cinema — virou para o banco de trás e quis saber: “você já viu aquele filme dos pássaros assassinos?”.
Aquilo me marcou profundamente. Ocorreu-me essa memória de menino nesta semana, ao assistir pela enésima vez “Os Pássaros” (1963), de Alfred Hitchcock. Desta vez, não foi só por diversão tétrica. Eu buscava inspiração na obra clássica de horror para um conto que venho escrevendo, sobre pombos que mordem como chihuahuas alados e histéricos.
Mas falhei feio na missão. Toda vez que a Tippi Hedren aparecia na tela, a minha cabeça voava longe, como as gaivotas de Hitchcock, e eu tencionava mudar o conto para um romance. Pois a beleza da então jovem e desconhecida atriz era mesmo desconcertante. Não à toa o próprio diretor rotundo caiu de quatro pela loura — coitada.
E ela está longe de ser única vítima dele. Como se sabe, o mestre do suspense era também PhD, com pós-doutorado no Monte Olimpo, em invocar divindades para o elenco de seus filmes. E se apaixonou terrivelmente por cada uma delas. Em quase 40 longas, entre 1940 e 1976, Hitchcock dirigiu beldades como: Grace Kelly, antes de tornar-se a princesa de Mônaco, em “A Janela Indiscreta” e “Disque M para Matar”, ambos de 1954; e “Ladrão de Casaca”, de 1955.
Janet Leigh, que demorou sete dias para morrer no chuveiro, até o obsessivo cineasta acertar o ângulo da cena clássica de “Psicose” (1690). A formosura, mas muito discreta, Teresa Wright, que considerou “A Sombra de uma Dúvida” (1943) o seu melhor filme, apesar de ter recebido um Oscar pela atuação num filme da concorrência — “Rosa da Esperança” (1942), de William Wyler.
Integram ainda a lista das mulheres do Hitchcock divas como Ingrid Bergman (Quando Fala o Coração, 1945; Interlúdio, 1946; e Sob o Signo de Capricórnio, 1949) Kim Novak (Um Corpo que Cai, de 1958), Eva-Marie Saint (Intriga Internacional, de 1959) Suzanne Pleschette (Os Pássaros, de 1963), Dany Robin (Topázio, de 1969), Doris Day (O Homem que Sabia Demais, de 1956) e outras estrelas mais.
Quando o gorducho excêntrico foi perguntado a que se deviam as atuações tão magníficas dessas atrizes-semideusas, ele respondeu cheio de petulância: “acho que tem a ver com a forma pela qual elas são fotografadas”. O gênio do cinema não merecia as mulheres que tinha.
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Faltou o filme.
O inquilino de 1922.