Taís Civitarese
Chegou a quarentena. E o maridão logo avisou:
– Vou me inteirar das notícias enquanto você cuida da casa.
Sentou-se com a expressão bem séria em seu canto habitual da sala, abriu um pacote de ‘chips’ e começou a remexer a internet em busca de informações que nos salvariam a vida.
De vez em quando, emitia terríveis expressões de desconforto. Estava estressadíssimo lendo o que se passava com o mundo. Dizia que aquilo era muito desgastante, tarefa mental intensiva mesmo.
No meio da tarde, levantou-se da poltrona e disse que estava exausto. Precisava tirar um cochilo. Ficar na mesma posição por horas fazia as costas arderem, deixava os músculos travados. Olhou para mim e disse:
– Você que é esperta, querida! Mexe-se, anda para todo lado, move os braços, faz o sangue circular… Está na vantagem!
Dormiu por algumas horas e, após a soneca, retomou as observações no celular.
Às vezes, soltava umas gargalhadas. “Diante dessa tragédia, a gente tem que extravasar um pouco”.
Passou o dia todo pesquisando, lendo, se inteirando de tudo quanto era possível para nos proteger dos perigos da calamidade. Mesmo durante o jantar, não desgrudou os olhos da tela, tal a gravidade da situação.
A casa já estava limpa, nossos dois filhos vestidos, alimentados, banhados, cozinha higienizada, tarefas escolares online resolvidas.
Ao fim do dia, deitei-me na cama e quase sem conseguir abrir os olhos, ouço ele dizer:
– Ó! Tô jogando o pacote vazio de chips no lixo, tá?