Nosso carnaval de rua, refiro-me aos blocos consolidados de Belo Horizonte, se firmou quando o então prefeito Márcio Lacerda quis nocautear um evento que se anunciava promissor.
Sempre gostei muita dessa festa, afinal nos anos 70 e 80 – ocasião que transitei da adolescência para a vida adulta – minha cidade era referência nos dias de folia.
De lá para cá as coisas mudaram muito. Se durante mais de uma década o glamour da minha geração era o Grande Hotel de Araxá, hoje a juventude prefere os blocos onde se encontram pessoas de todos os gêneros.
Não existe, como ocorria no passado, discriminação quanto à diversidade – seja de pele, opção sexual e até mesmo religião – e esse momento é de total liberdade e irreverência.
Para a economia, no caso de Belo Horizonte, são milhões de turistas foliões, que ocupam a rede hoteleira, bares, restaurantes e eventos carnavalescos.
Além, claro, da alegria que transita pelas ruas da cidade nos quatro dias de folia e até mesmo em períodos anteriores e mesmo depois, na quarta-feira de cinzas.
Pois, neste ano, tristemente, tivemos de conviver com informações – muitas delas falaciosas – em torno do evento. Ao que sinto, opinião pessoal que divido para um bom debate sem querer ser dono da razão, disseminadas com interesses políticos eleitorais em detrimento da alegria do folião.
Não passa despercebido que o governo federal, fatiado em parte com setores conservadores evangélicos, age para impor uma falsa moral aos costumes dos brasileiros.
Temos uma ministra, “que seria cômico se não fosse trágico”, que sempre se manifesta com discursos fora do contexto e da atualidade. O atraso do atraso, que já quis sugerir cores de roupas para crianças e – recentemente – abstinência sexual.
O presidente, um desqualificado, debochado, despreparado para a função e ainda chulo e vulgar, chegou a recomendar aos brasileiros ir ao banheiro dia sim e dia não para a necessidade número dois. Esperar o quê?
Pois, igualmente ao meu sentir, essa gente tem planos de encabrestamento e alienação de todos nós, sendo que acabar com o carnaval é parte dessa conspiração. Daí, são tão despreparados, que a cada nova tentativa, mais se fortalece a festa de momo. Foi assim com Márcio Lacerda.
Agora, a Prefeitura na mão de Alexandre Kalil – que é um bom parceiro da festa em BH – editou uma cartilha cheia de imbecilidades. Quase tudo, através de recomendação, deveria ser evitado.
Desde homem vestir de mulher, passando por vestir de índio, até chegar às marchinhas de carnaval consolidadas por mais de 50, 60, 70 e até 90 anos na boca dos foliões.
Para fechar, o assunto que foi mais explorado durante os dias de carnaval. Fui sábado, domingo e ontem e vou ainda hoje. A questão da liberação dos carros de sons dos blocos. Ouvi muito discurso em cima dos trios elétricos e mesmo em conversa entre os foliões. Apesar do feriado prolongado, procurei me inteirar sobre o assunto.
Ao que me disseram, desde o ano passado, em diversas reuniões com o Corpo de Bombeiros – com registro e ata – ficaram acordados alguns cuidados com a segurança dos foliões.
Nem todos os blocos se ocuparam em cumprir as normas, que não seguidas colocariam em risco vidas de pessoas acompanhando os blocos.
Se for isso mesmo, aqui faço uma reflexão pessoal. Se liberarem os carros de som sem o cumprimento das normas de segurança, daí acontece uma tragédia, os mesmos que estão reclamando da situação atual seriam os primeiros a responsabilizar o poder público por uma eventual tragédia.
Por fim, ainda assim, respeitando as normas exigidas pela corporação de segurança do Estado, nada justifica a ação truculenta na casa de um cantor de dois blocos que animam o carnaval belorizontino.
Ao que consta, além de “sugerir” evitar manifestação que entendem ser “atentado contra a segurança pública”, ainda transmitisse mensagens da PM. Ora, com todo respeito aos dois lados, um erro não justifica outro erro.
O ideal, já para o carnaval de 2021, é que as forças de segurança pública e os representantes de bloco se reúnam e priorizem a compatibilidade da alegria do carnaval com a segurança dos foliões, blocos e todos os envolvidos com a festa.
Até mesmo a BHTrans, uma vez que o trânsito ficou um caos – maior que em anos anteriores – para facilitar quem transita. Até os aplicativos, notadamente Uber, viraram um inferno para quem recorria à sua utilização.
*fotos: UAI/EM; vídeo: redes sociais