Eduardo de Ávila
Tem cerca de dois anos que tomei a decisão em fazer a experiência de não ter carro. Na ocasião, circunstancialmente possuía dois veículos e optei pelas vendas.
Um deles foi transferido em ato contínuo, pela sua quilometragem favorável. O segundo, a mim o melhor – era automático e tinha ainda muitas outras perfumarias – transformou-se numa luta pela sua venda.
Enfim, livre dos dois, acabei assumindo um terceiro, que minha filha sinalizou também querer abdicar desse discutível conforto. Foi outro embate, afinal, só vendi os anteriores e seria assim com esse, pelo valor que estipulei.
De tanto esperar, culminou na decisão dela em reassumir o veículo. Com isso, desde meados de janeiro, estou vivendo a experiência de ser um “sem carro”.
Lógico que ainda é prematuro para uma avaliação precisa, entretanto, inegavelmente tem sido interessante.
Se não me adaptar, lógico que vou numa concessionária e retomo à condição anterior e passo a ter carro na garagem de casa e no estacionamento do trabalho.
Ocorre que, tem sido muito mais agradável. Especialmente, agora depois do fim das férias, não ter de conviver com as filas duplas – às vezes tripla – da zona sul. Muita grosseria por gente que se julga dono do mundo. Só veem seu próprio umbigo.
Já contei aqui, noutra postagem de tempos atrás, a experiência do meu saudoso amigo Ronaldo Lenoir. Ele, certa vez, passando por uma saída de prédio onde funciona grandes escritórios e clínicas médicas na região sul, teve seu carro quase danificado por um veículo “enorme” que saia da garagem.
Não tinha como dar ré e foi obrigado a seguir em frente, sob a pressão do outro que queria a preferência impossível.
Ainda teve de ouvir: “quer que eu compre um carro maior pra me enxergar?” Situação dos tempos atuais, onde pessoas entendem que sua pretensa situação econômica lhe confere esse poder. Arrogância do novo milênio.
Pois bem, nos primeiros posts deste espaço, o texto da boa companheira Daniela Piroli Cabral, me estimulou a viver essa experiência.
Tal qual ela relatou na ocasião, é supersaudável andar pela cidade e descobrir situações (lojas, bares, casas antigas, entre tantas outras coisas) que passavam despercebidas ao olhar diário.
Além, claro, de permitir andar e caminhar. Faço exercícios logo cedo, minha distância diária me faz andar 1,5 quilômetros nas primeiras horas do dia, percurso que sempre foi feito de carro.
Claro que em alguns momentos a falta do carro incomoda. O maior deles é nas compras de supermercado.
Embora eu tenha dois próximos da minha casa, voltar carregando por estes braços já cansados pelo tempo, é tarefa que faz sentir a falta do veículo.
Em menor escala, tinha o costume de sair cedo, com qualquer tempo e deixar uma agasalho no porta-malas.
Afinal a temperatura dos tempos atuais, sofre alterações sistemáticas. Some-se a isso, que rotineiramente, ao voltar para casa, costumo entrar numa sala de cinema. Geladas como são, sugerem o uso do agasalho.
Ainda, aqueles papéis (como documento a ser entregue, resultados de exames para levar ao médico e outros) que carregamos esporadicamente, sempre ficam sem lugar quando seguimos a rotina do dia.
Mesmo assim, considerando que o tempo ainda não foi suficiente para uma avaliação definitiva, confesso que o carro não está me fazendo falta.
Além das madames das filas duplas e triplas, ainda sofremos com os motoqueiros que acreditam poder transitar perigosamente entre os veículos naquelas faixas que dividem as pistas.
Esses, que a todo momento sofrem acidentes terríveis, entendem que aquela sua buzininha chata funciona como uma sirene de ambulância ou viatura policial.
Terríveis, além de riscar os carros e quebrar retrovisor, somem no caótico trânsito.
Vamos ver se resisto à tentação do conforto de ter um carro na garagem disponível a todo momento, me levando para onde quero ou até mesmo saindo sem rumo definido.
Por enquanto, os aplicativos estão me atendendo bem, uso no correr do dia a possibilidade de trajeto “juntos”, que tem bom preço e em muitas vezes bom papo.
Até que a tentação consumista me permita, sigo a pé.
*fotos: 1) Leandro Couri/EM; 2) UAI/EM
Hábitos,ahhhh… os hábitos nossos de cada dia! As vezes impossível
desassocia-los do cotidiano e para combate-los só com bom humor, difícil sei,o bom humor espalha mais felicidade que todas as riquezas do mundo. Vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar o melhor e não o pior. Adquire uma patinete !!!!
A se pensar.
Melhor, vou de aplicativo mesmo, nem bicicleta arrisco.