No dito mundo moderno, a luta pela identidade própria é algo que se sobressai. Pessoas querem ser reconhecidas pelo o que são e fazem, não aceitando esteriótipos nem comparações.
Reivindicações mais do que justas, já que estamos no ano futurístico de 2020, correto? Errado.
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Assim como o honrado escritor de sábado, sofro com questões na família. Nós não brigamos e os desentendimentos só acontecem por conta do sangue parecido que corre nas veias.
Com descendência enraizada em cidade pequena, no interior Bahia, não estou muito acostumada com o jeito diferente das pessoas se apresentarem.
Aqui, Maria não é Maria por si só. Maria é Maria de Dominguinho, que tem uma lojinha que vende de cachaça barata ao 3° testamento revisado.
Não que ele seja lá confiável, pois tem alguma coisa relacionada a amar uns aos outros, sem fazer acepção de pessoas. Coisa de gente perigosa.
Meus avós eram bem conhecidos e respeitados por aqui, donos da única pensão nos tempos áureos que a cidade conheceu.
Hoje elas existem aos montes, mas nenhuma se compara a Pensão Farias.
A ideia bucólica é convidativa. Sentar na porta de casa com os vizinhos ao cair da tarde, ouvir quem morreu sendo anunciado nos alto-falantes da cidade e pendurar um pão na padaria porque esqueceu o dinheiro.
Superinteressante, se não fosse o fato de ter que responder, no mínimo dez vezes ao dia, de quem sou filha, pois só assim consigo me situar no espaço-tempo.
– Filha de Sayonara, neta de Valdemar – digo.
– Mas não é que tem cara de um Farias mesmo? – escuto. – Sabia que eu sou seu parente?
E quem não é? – penso.
Ter cara de Farias, é ter uma cara igual a metade da população da cidade, de 26 mil habitantes, já que todo mundo aqui é Farias.
É um sobrenome não lá muito bonito ou confiável, mas que se prolifera e deixa rastros por onde passa.
Fico pensando como será quando eu voltar para casa e não precisar anunciar os meus antepassados toda vez que me apresentar – filha de Sayonara, neta de Valdemar.
Iniciarei minha crise de identidade não assinando esse post. Caro leitor, não sei mais quem sou – fui filha de Sayonara, neta de Valdemar, agora sou só Victória. Não sei se sobreviverei.
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