A desconfiança afeta o nosso nacionalismo

Imagem: UAI/EM

Estamos a precisos oito dias da abertura da Copa do Mundo e a seleção brasileira estreia daqui a exatos 11 dias. Não me lembro das Copas de 1958 e 1962, mas pude comemorar muito o tri em 1970. Sofri com as eliminações nas edições seguintes. Em 74, para a Holanda; já em 78, naquela maracutaia entre Peru e Argentina. Em 82 e 86, ambas sob o comando de Telê, duas seleções maravilhosas, eliminadas precoce e injustamente.

Daí para frente, calejado – tanto pelos resultados das edições anteriores, quanto pelos descaminhos capitaneados pela CBF -, fui perdendo a emoção e até mesmo a vontade de torcer por uma seleção política e que atendia aos interesses econômicos em detrimento da arte e magia brasileiras. Em 1990, seguramente a pior de todos os tempos, foi vexame anunciado.

Depois, ainda vencemos em 1994 e 2002, com equipes bem pragmáticas, distante daquilo que caracterizava o futebol brasileiro até o tricampeonato. Entre as duas, a Copa de 98, na França, deixou margens para inexplicáveis suspeitas de acordo fora das quatro linhas. 2006, 2010 e 2014 foram – paulatinamente – afastando o interesse do torcedor brasileiro pela competição.

Aliado a tudo isso, ao que estamos entendendo, cresce a desconfiança do brasileiro com as instituições, sejam públicas ou privadas, como é o caso da CBF. Se os três poderes deixam margens para profundos questionamentos, notadamente em relação ao comportamento de seus membros, no privado a situação não é diferente.

Se as autoridades estão sendo corrompidas, o agente corruptor – tão ou até mais criminoso – está na iniciativa privada. Estes, por meio de delação premiada e acordo de leniência, cometem – em muitos casos – crimes ainda mais hediondos contra a economia.

Imagem: UAI/EM

No caso da nossa reflexão de hoje, relacionada à Copa do Mundo e ao Brasil na competição em busca do sonhado hexacampeonato, o que vemos é uma total desmobilização em relação aos tempos passados. Entre nós, sexagenários, era um momento quase que cívico. Bandeiras nas janelas, em carros, ruas pintadas com as cores verde e amarelo. Enfim, um acontecimento fenomenal a cada quatro anos.

Atualmente, a exemplo do que acontece com os governos, nenhuma motivação traz aos brasileiros. Digo isso pois, naquela ocasião, concordando ou não com os governantes, sabíamos os nomes dos ministros de Estado e até mesmo dos secretários estaduais. Hoje, ninguém se ocupa com isso, assim como no caso dos nomes dos jogadores convocados para defender a seleção canarinho.

Músicas embalavam o período pré-Copa e durante a competição. Em 1970, eram “noventa milhões em ação”, até que em 1982 foi “voa canarinho, voa” até à Espanha.

Perdemos o nacionalismo? Não creio! Acho que não temos, lamentavelmente, confiança nas instituições nacionais. Tanto nas públicas, quanto nas privadas. No caso da selecinha, como ouço muitos dizerem, na total desconfiança das ações da CBF. Desde a organização de futebol e competições nacionais, quanto na formação do escrete nacional. Os interesses pessoais e particulares sobrepõem-se aos da coletividade.

A CBF é uma entidade privada, mas de interesse público. Onde se encontram seus recentes dirigentes? Vou citar os três últimos presidentes: Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero. A resposta à falta de credibilidade e o desinteresse é essa que todos nós pensamos ao chegar ao final deste convite para o debate de hoje. Só vamos mudar isso com a nossa reação.

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