The Flash ganha sua aventura solo e mexe com o universo DC

Depois de trocar de diretores, enfrentar uma pandemia, ter problemas na pós-produção e ver o astro envolvido em ocorrências policiais, The Flash (2023) finalmente chega aos cinemas. Dando seguimento ao mundo iniciado pelo já afastado Zack Snyder, o longa promete ter bastante impacto no Universo Cinematográfico da DC, agora assumido por James Gunn. Baseado em Flashpoint, um arco amplo de histórias, o roteiro é o mais complexo da DC até agora, envolvendo o conceito amplamente conhecido de multiverso.

Mais uma vez com o conturbado Ezra Miller como o herói, temos Barry Allen, o homem mais rápido do mundo, tentando se organizar entre o trabalho na equipe forense da polícia de Central City e as muitas missões que deve enfrentar para salvar os fracos e oprimidos. Sendo sempre o último a ser acionado dentre os membros da Liga da Justiça, Allen se considera o zelador do grupo, cuidando apenas das catástrofes de menor grau de complexidade.

Em um momento à Forrest Gump, em que Allen sai correndo para espairecer, ele percebe que consegue voltar no tempo quando chega no máximo de sua capacidade. Como há uma tragédia em seu passado, não demora até o sujeito resolver voltar e arrumar as coisas. Mesmo alertado pelo colega Bruce Wayne (Ben Affleck) das possíveis consequências de um efeito borboleta, ele vai adiante, sem a menor ideia do dano que causará.

Com bons efeitos visuais e um design de produção criativo, que diferencia bem os mundos e realidades visitados por Barry, o longa consegue contar com a tecnologia para contar sua história, inclusive usando dois Barries em idades diferentes ao mesmo tempo. Os conflitos de idade são interessantes de se acompanhar, com os dois discutindo em boa parte do tempo, e o humor do filme se alterna bem com os momentos de tensão e os mais dramáticos. O público agradece o comedimento nas piadas, que saem na hora e quantidade certas.

Apesar dos problemas na vida particular, Miller é sempre muito competente como ator, tendo aqui inclusive que enfrentar um papel duplo, o que faz muito bem. Muita coisa já foi adiantada pelos trailers, então é possível comentar sem estragar nada. Os kryptonianos da trama não têm muito destaque, o que acaba deixando Sasha Calle (de The Young and the Restless), a novidade do elenco, em desvantagem. Ninguém reclama de Michael Shannon (o General Zod) por já conhecer o trabalho do ator, mas nenhum deles tem espaço para nada mais significativo.

Outro ponto alto, já entregado pelo trailer, é a aparição de outra versão do Batman. Além do esperado Affleck, temos a volta de Michael Keaton ao papel. Estrela dos longas de 89 e 92, Keaton aparece como um Batman alternativo e tem bastante importância para a trama. O mais impressionante é que tudo isso é costurado com uma certa lógica (dos quadrinhos, claro), mérito do roteiro assinado por Christina Hodson (de Aves de Rapina, 2020) e Joby Harold (de Obi-Wan Kenobi). E do diretor Andy Muschietti, que vinha do sucesso de conduzir os dois It e mantém seu prestígio. Inclusive, deve ser confirmado em breve como diretor de uma aventura solo do Batman nesse universo conduzido por James Gunn (sem relação com o de Robert Pattinson).

Ver a batnave voando ao som do tema criado por Danny Elfman no fim dos anos 80 é uma experiência que deve tocar os mais velhos, além de outras surpresas guardadas pelo filme que não serão estragadas aqui. Apesar do Batman ter destaque na trama e na campanha de lançamento, nunca deixa de ser um filme do Flash, e honra o personagem. Como a costura é bem feita, as quase duas horas e meia passam tranquilamente, não cansando como nos longas anteriores. E referências nerds, como aquelas a De Volta para o Futuro, além de homenagear as obras citadas, deixarão o espectador com um sorrisinho no rosto.

A campanha de marketing focou muito nos outros heróis para evitar o problemático Miller

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A Pequena Sereia ganha carne, osso e novas canções

A Disney segue firme nas adaptações com atores de seus próprios desenhos e a bola da vez é A Pequena Sereia (The Little Mermaid, 2023), baseado na animação de 1989 que, por sua vez, foi inspirada pelo conto de Hans Christian Andersen. Mesmo com a direção de Rob Marshall, experiente à frente de musicais, o longa segue a mesma linha sem sal do anterior, não ultrapassando-o, tampouco deixando a dever. Bom, talvez deixe quanto aos efeitos visuais, por vezes escuros, confusos e simplesmente feios.

A produção desta obra em live action começou cercada por uma polêmica besta: a cantora, compositora e atriz Halle Bailey (da série Grown-ish) foi a escolhida para o papel principal, a sereia descrita por Andersen como branca e ruiva. E a garota é negra. Alguns adultos mal resolvidos reclamaram que a Disney estaria “mudando tudo”, “estragando a infância deles” e outras bobagens do tipo. E Bailey acabou sendo a melhor coisa da obra, conferindo graça e inocência a Ariel, mas força quando necessário. Ah, e ela sabe cantar, o que era essencial ao papel.

Para quem não a conhece, Ariel é a mais nova das filhas do Rei Tritão (Javier Bardem, de Duna, 2021), o Senhor dos Mares que é também um pai superprotetor. Devido a traumas passados, ele desconfia de todos os humanos e proíbe os seres marinhos de irem à superfície. Ariel, claro, morre de curiosidade e está sempre nos limites do permitido. Até que ela salva um príncipe (Jonah Hauer-King, de Mundo em Chamas) de um naufrágio e imediatamente se apaixona por ele.

Ao contrário de Daryl Hannah em Splash – Uma Sereia em Minha Vida (1984), Ariel não passa a ter pernas quando sai da água, precisando de um feitiço para que isso aconteça. E isso traz para a história a vilã, Ursula (Melissa McCarthy, de Poderia Me Perdoar?, 2018), a irmã que Tritão manteve presa por 15 anos – por qualquer que seja a razão. A bruxa é de longe a personagem mais descabida: não sabemos nada dela, apenas que é muito poderosa. Ao invés de usar esses poderes, fica de planinhos contra o rei.

Apesar de Bailey e Hauer-King serem competentes e carismáticos, eles não têm muita química em cena, o que torna difícil acreditar que ambos se apaixonariam tão rápido. Quem rouba a cena é Daveed Diggs (da série Expresso do Amanhã), que dá voz ao caranguejo Sebastião, um pobre servo do rei que está sempre em confusão por seguir e proteger Ariel. É ele que canta a já clássica Under the Sea, de longe a melhor canção dos longas. Fazendo uma dobradinha com ele, temos Awkwafina (de Shang-Chi, 2021), que dubla a ave marinha Sabidão, responsável pela maioria das tiradas cômicas. Jacob Tremblay (de Luca, 2021) completa o trio como o apagado Linguado, um peixinho amigo da protagonista que, por isso, não vira comida.

Para a trilha sonora, Alan Menken, compositor que trabalhou no filme de 89, voltou para novas músicas, e o falecido Howard Ashman foi subsituído pelo também produtor Lin-Manuel Miranda. Menken e Miranda compuseram quatro novas canções, além de atualizarem outras letras, como Kiss the Girl. As mais antigas têm muito mais destaque, talvez por serem velhas conhecidas do público, e a gritaria nos vocais incomoda um pouco.

“Bonitinho” é a palavra perfeita para descrever esse novo A Pequena Sereia. Tem bons momentos, em outros cansa. Bardem, apesar de ser sempre ótimo, aqui parece uma versão mais velha do Aquaman de Jason Momoa, o que torna algumas cenas involuntariamente engraçadas. Marshall, responsável pelo ótimo Chicago (2002), aqui fica no meio do caminho. O roteirista, David Magee (de O Pior Vizinho do Mundo, 2022), não deve ter tido uma tarefa fácil, já que tem coisa que fica melhor num desenho animado que com atores. Como ter uma pequena sereia puxando um homem adulto pela areia da praia.

Com tantos universos paralelos nas hqs, Tritão vai acabar descobrindo ser o Aquaman mais velho

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Conheça O Exorcista do Papa, Ghosted e Um Filho

O Exorcista do Papa

Em 2017, o diretor de O Exorcista (The Exorcist, 1973), William Friedkin, lançou um documentário sobre as experiências de Gabriele Amorth, um padre que era conhecido como “o exorcista do Vaticano”. Ou “o exorcista do Papa”. Ele dizia ter realizado milhares de exorcismos desde que foi incumbido da função, em 1986. Tudo oficial, sob o crivo da Igreja Católica.

Em 2023, chegou a hora de transformar o Padre Amorth em um herói hollywoodiano – no corpo do “gladiador” Russell Crowe, uma escolha bem inusitada. Em O Exorcista do Papa (The Pope’s Exorcist, 2023), conhecemos um personagem bem humorado que pilota sua scooter pelas ruas de Roma entre um atendimento e outro. Ele avalia supostos casos de possessão demoníaca, indica tratamento médico quando é o caso e solicita autorização se comprovar que o exorcismo é a saída.

O roteiro, que diz partir de dois livros escritos pelo próprio Padre Amorth, dá uma grande espetacularizada nas situações mostradas, o que torna bem difícil acreditar que algo daquilo tudo possa realmente ter acontecido. Julius Avery, diretor do divertido e criativo Operação Overlord (2018), não demonstra aqui a mesma sagacidade, empacando no lugar comum e se contentando em dar sustos fáceis no espectador. Crowe está claramente à vontade no papel e poderia ser uma boa vê-lo novamente nele, mas o roteiro teria que ser bem melhor. Quem sabe chamar Friedkin para escrevê-lo?

Ghosted – Sem Resposta

No papel, alguns filmes parecem perfeitos, sem chance de erro. Na realização, no entanto, falta alguma coisa para levá-los mais longe. Ghosted: Sem Resposta (2023) é um exemplo disso. A trama espertinha à James Bond e o carisma de seus astros são desperdiçados numa aventura besta que não decola. O grande número de participações especiais serve mais como distração do que como bônus.

A história, criada por Rhett Reese e Paul Wernick (de Deadpool e de Zumbilândia), nos apresenta a Cole (Chris “Capitão América” Evans), um cara certinho que leva uma vida pacata ajudando os pais na fazenda. Ele conhece uma garota (Ana de Armas, de Blonde, 2022) e, apesar do atrito inicial, eles acabam se acertando. No entanto, Sadie não responde as inúmeras mensagens de Cole e o sujeito decide ir atrás dela, não aceitando o sumiço. Ele logo descobre que a negociante de arte é, na verdade, uma agente secreta.

São quase duas horas no piloto automático, nada de interessante acontece e a química entre Evans e de Armas simplesmente não existe. Tanto faz como isso vai acabar, o espectador não se importa nem se o vilão vencer. Talvez o planeta seja destruído por algum megalomaníaco, mas antes disso temos a oportunidade de ver Evans em um terno bem cortado e de Armas em um vestido maravilhoso. Isso é o máximo de entretenimento que Ghosted vai oferecer.

Um Filho

Depois do sucesso de Meu Pai (The Father, 2020), o diretor e roteirista Florian Zeller partiu para outro familiar, desta vez com um resultado não tão brilhante. Um Filho (The Son, 2022) traz um excelente Hugh Jackman (de Má Educação, 2019) como um executivo num momento profissional fantástico que recebe a inesperada visita da ex-esposa (Laura Dern, de História de um Casamento, 2019) com um pedido de socorro. O filho deles (Zen McGrath, da série Utopia) está cada vez mais isolado, fechado, e a mãe não consegue se relacionar com ele.

O roteiro se debruça em muita coisa ao mesmo tempo ao analisar, principalmente, dois personagens. O Peter de Jackman é um homem forte, aparentemente bem resolvido e de sucesso, apesar de ter tido um pai canalha (Anthony Hopkins, de Meu Pai). Já o adolescente Nicholas tem um pai e uma mãe que o amam e não passa nenhuma dificuldade. No entanto, luta constantemente contra seus demônios interiores e não sabe explicar porque viver é tão sofrido.

Apesar de contar com atuações marcantes, o filme de Zeller pesa a mão no drama e na forma como ele mostra Nicholas, que chega a mudar de expressão em segundos para reforçar o tanto que estaria deprimido. Tudo é bem amarrado e o roteiro acertadamente não fica tentando justificar ou explicar comportamentos, não há uma relação de causa e efeito. O problema é que os personagens não parecem críveis, são apenas convenções para levar o roteiro onde Zeller quer chegar. Ele tem um discurso e usa os personagens para propagá-lo.

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A família Toretto chega ao décimo Velozes e Furiosos

Você pode até não ter assistido a todos os episódios, mas nada que vá incomodar caso decida encarar o décimo Velozes e Furiosos (Fast X, 2023). Trocentos personagens dão as caras, mas os diálogos fazem questão de explicar de forma simples quem é quem para garantir que o público não fique perdido. E rapidamente o filme parte para o que importa: corridas, batidas, explosões e pancadaria. Tudo de forma frenética, com poucos momentos de respiro.

Velozes e Furiosos 10 é exatamente o que se pode esperar dele e, como de costume nessa franquia, ele acaba entregando até mais do que se espera. Personagens destemidos desafiam todas as leis, até as de Newton, e os embates conseguem ser empolgantes, já que o risco de morte realmente existe, não sabemos quem chega vivo ao final. Momentos de risos involuntários não faltarão e ganham das piadinhas sem graça de Roman Pierce (Tyrese Gibson). E, como sempre acontece em filmes americanos, quem aparece falando português o faz com sotaque de Portugal, mesmo sendo carioca.

Como de costume, esta aventura trata de família. Sendo ou não de sangue, aquelas pessoas se consideram família e farão de tudo uns pelos outros. E a trama volta no quinto filme, aquele passado no Rio de Janeiro, para refazer parte da história e inserir uma busca por vingança. Um filho (o “Aquaman” Jason Momoa) quer pegar o responsável pela morte do pai (Joaquim de Almeida) e ele não poderia ser outro: Dominic Toretto (Vin Diesel). Aposentado da vida de emoções radicais, o sujeito só quer se dedicar ao filho pequeno (Leo Abelo Perry) e à esposa (Michelle Rodriguez), mas os pecados do passado vão alcançá-lo.

Carros voando e loucuras do gênero a gente já espera e releva. Diálogos açucarados com odes à família, também. Algumas conveniências do roteiro chegam a incomodar, como personagens chegando do nada exatamente no momento em que são necessários. Ou um combinado entre duas pessoas que magicamente chega a uma terceira. Só que a sequência da ação é tão rápida que não sobra tempo para pensar em nada disso. Justin Lin, diretor de cinco dos dez filmes da franquia, é um dos roteiristas aqui e deixou a direção a cargo do experiente Louis Leterrier (de Carga Explosiva, O Incrível Hulk e vários outros), que sabe bem o que faz.

O resultado desse Velozes 10 é facilmente compreensível, já que a montagem e os cortes não atrapalham o seguimento dos fatos mostrados. Nem sempre é previsível, já que é difícil prever tanta barbaridade, o que é um ponto positivo. E o vilão, um sociopata claramente calcado no Coringa de Heath Ledger, dos trejeitos ao figurino, de fato inspira receio. Somando tudo isso, o longa já é melhor que boa parte da série. O que não significa ser exatamente bom, mas ninguém pode negar que seja divertido. Ou seja: cumpriu seu papel. Agora, é só aguardar pelos próximos dois, que devem concluir a saga da família Toretto.

Leterrier (atrás) se diverte com seu elenco

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As Órfãs da Rainha mostra o Brasil do séc. XVI

Após pré-estreias realizadas em Cataguases e em BH, chega nesta quinta em circuito comercial no país o longa As Órfãs da Rainha (2022), filmado 100% em terras mineiras e distribuído pela Cineart. Com equipe e elenco predominantemente de Minas, a diretora Elza Cataldo fez uma extensa pesquisa para contar uma história passada no final do século XVI, mas cujos temas são atemporais.

Situando a trama no Recôncavo Baiano, Cataldo, que escreveu ao lado de sua parceira no curta Ouro Branco (2009), Pilar Fazito, e de Newton Cannito (da série Cidade dos Homens), nos apresenta às irmãs Leonor (Letícia Persiles), Brites (Rita Batata) e Mécia (Camila Botelho). Criadas na corte da rainha de Portugal, elas voltam ao Brasil já crescidas para constituírem família, indo morar em um vilarejo distante de Salvador.

Enquanto conhecemos os personagens que compõem aquele cenário, entendemos melhor como cada irmã é e o que se passa nas cabeças delas. Dessa forma, é fácil perceber que elas são muito diferentes entre si e representam tipos que podem ser encontrados hoje. Os roteiristas conseguem propor questões que são cabíveis de serem discutidas hoje, como o lugar da mulher na sociedade e intolerância religiosa. Não demora a Inquisição entrar na história, revelando algo que será supresa para muitos: a presença de inquisidores da “Santa” Igreja Católica no Brasil.

Era muito comum pela Europa que judeus tivessem que esconder suas origens e práticas devido à perseguição pelos católicos, e países como o Brasil eram visados por esses grupos por serem distantes, permitindo a eles manterem suas tradições. Por isso, causa certo pânico a notícia de que a Inquisição estaria chegando. As vidas dos cidadãos são impactadas, tanto os que mantinham segredos quanto os tidos como “de bem” – sim, já naquela época temos a figura do canalha que se esconde atrás de família e religião, seguindo impune em seus crimes e preconceitos.

As Órfãs da Rainha tem uma dimensão supreendente, podendo facilmente ser chamado de épico. Com toda a vila criada do zero na Zona da Mata mineira, em Tocantins, o nível de detalhamento do design de produção e dos figurinos comprovam a longa pesquisa que foi feita, com vários consultores atuando junto a Cataldo para darem maior veracidade às cenas. Os diálogos, inclusive, contam com passagens inteiras retiradas de documentos da época.

Liderando o elenco, Persiles, Batata e Botelho demonstram grande intimidade entre elas e ressaltam bem os traços de personalidade de cada irmã. Brites é a que mais chama a atenção, devido ao relacionamento abusivo em que se encontra, e que a domina. E o elenco de apoio traz nomes consagrados, como Inês Peixoto, Eduardo Moreira e Teuda Bara, do Grupo Galpão, além do veterano Celso Frateschi, que faz o detestável inquisidor, e de Odilon Esteves, figura constante no Cinema, TV e teatro.

O Brasil de 1581 não costuma aparecer em produções cinematográficas e é uma experiência muito interessante conhecer esse cenário. Ainda mais com a riqueza de detalhes que As Órfãs da Rainha apresenta. Cataldo demonstra interesse pela nossa história e seus próximos projetos devem seguir essa linha, sempre com tramas que reforcem o papel da mulher. Mantendo esse nível de qualidade, será sempre uma diretora a se acompanhar.

Cataldo aproveitou para filmar em sua cidade natal

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O Vol. 3 fecha as aventuras dos Guardiões das Galáxias

Depois de inaugurar a Fase 5 com Quantumania (2023), o Universo Cinematográfico Marvel nos traz o fechamento da trilogia dos Guardiões da Galáxia. Esse Vol. 3 (2023) promete, desde as primeiras divulgações, que seria a última aventura da equipe como a conhecemos. O porquê você só descobre assistindo ao filme. E é, felizmente, o melhor da Marvel nos últimos anos, alternando bem os momentos de comédia com os de suspense, drama e ação. Sem forçar, James Gunn mostra novamente o seu talento.

Tendo assumido a direção do departamento criativo da Warner Bros. no cinema, Gunn partirá para um novo projeto estrelado por Superman. Seu último compromisso na Marvel, no entanto, chega agora às telas, e as características que já esperamos estão todas lá, presentes. O humor é bem dosado (algo que Taika Waititi parece incapaz de fazer ultimamente), entra naturalmente na trama e não impede as coisas de andarem. Tudo é muito bem costurado e o que mais impressiona: a habilidade que Gunn, como diretor e roteirista, tem para dividir o tempo de cena entre os personagens, conferindo a importância devida a todos eles.

Ao contrário do Vol. 2 (2017), este tem um centro e acompanha a equipe de forma igualitária, nunca pesando mais para um lado ou outro. Quem ganha mais destaque dessa vez é Rocket (voz de Bradley Cooper), que tem sua origem detalhada para que possamos conhecer melhor o vilão: o Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji, da série do Pacificador). O sujeito tem uma ideia fixa em melhorar as espécies, dedicando-se a pesquisas sobre genética e criando sociedades inteiras. É muito interessante como Gunn aproveita esse maníaco para fazer críticas ao fascismo, à eugenia e a toda a dor que um ditador é capaz de causar a seu povo. Na maioria das vezes, sob a desculpa de querer o melhor para eles. Ou para o todo.

O líder do grupo e capitão da nave, Peter “Starlord” Quill (Chris Pratt), se afoga no álcool para suportar a perda de sua amada Gamora (Zoe Saldaña), e os demais não sabem mais o que fazer. Na falta do casal principal, quem vai assumindo um papel de liderança é Nebula (Karen Gillan), e surge outra ameaça na pele de Adam Warlock (Will Poulter (de Midsommar, 2019). Os vilões fortes causam de fato uma sensação de que tudo pode acontecer e de que todos estão em perigo. E o marketing sobre “a última aventura” faz cada vez mais sentido.

Todo o elenco se sente muito à vontade em seus papéis, até quem está chegando agora. Iwuji é certamente um nome que merece ser acompanhado, enquanto Poulter reafirma que cresceu e amadureceu, deixando para trás os trabalhos mais leves e adolescentes que fazia. Kraglin, papel do irmão Sean Gunn, também ganha mais participação. E as pontas continuam existindo, com Sylvester Stallone mais uma vez marcando presença.

Num filme de James Gunn, especialmente desse universo, o que não poderia faltar são músicas marcantes. Radiohead, Heart, Rainbow, Spacehog, Earth, Wind and Fire, Fait No More, Alice Cooper, Beastie Boys, Florence and The Machine e o grande Bruce Springsteen são alguns dos destaques, e Gunn ainda nos traz de volta a Come and Get Your Love, do Redbone, como que para fechar um ciclo. A tecnologia do tocador de músicas de Quill permite que a trilha passeie entre décadas, buscando o que é mais relevante para os momentos. E os títulos das canções se encaixam perfeitamente com cada sequência, como Creep, que mostra como Rocket se sentia, ou Since You’ve Been Gone, que explicita a agonia de Quill desde a partida de Gamora. A trilha original é assinada por John Murphy, repetindo a parceria do Especial de Festas dos Guardiões (2022).

Ao contrário do insosso Quantumania e do insuportável Thor: Amor e Trovão (2022), Guardiões da Galáxia Vol. 3 consegue um ótimo e balanceado resultado. Mesmo que, como alguns fãs mais antigos e xiitas apontam, não tenha sido exatamente fiel às fontes, como na hora de contar a origem de Adam Warlock ou colocando no meio da história o Alto Evolucionário, inicialmente um vilão das revistas do Quarteto Fantástico. Gunn cumpriu muito bem seu papel e agora parte para encontrar um verdadeiro ícone dos quadrinhos: o azulão da D.C.

Mesmo diferente dos quadrinhos, Adam Warlock ficou bem feito

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Philip Marlowe ganha nova vida no Cinema

A exemplo de outros grandes personagens da literatura, como James Bond, o célebre detetive particular Philip Marlowe ganhou nova vida mesmo após seu criador ter falecido. Raymond Chandler, considerado um dos pais do policial noir norte-americano, foi seguido por outros vários escritores premiados buscando recriar o clima de suas histórias. Um desses livros, The Black-Eyed Blonde, ganhou adaptação para o Cinema e marca o centésimo filme de Liam Neeson, ator que assumiu o papel.

Chamado no Brasil de Sombras de Um Crime (2022), sendo simplesmente Marlowe no original, o longa se baseia num livro de John Banville (sob o pseudônimo de Benjamin Black), com roteiro dos veteranos William Monahan (Oscar por Os Infiltrados, 2006) e Neil Jordan (Oscar por Traídos Pelo Desejo, 1992), sendo Jordan também o diretor. Mesmo com todos esses talentos envolvidos, o filme nunca decola. O mistério não cativa, o público não se importa.

Escolha inusitada para a posição de protagonista, Neeson vem de diversos filmes de ação, muitos deles duvidosos. Para cada Caçada Mortal (2014), há vários Desconhecido (2011) ou mesmo a série Busca Implacável (2008, 2012 e 2014). Irlandês, ele dá vida a um sujeito tipicamente americano e o transforma numa figura taciturna, melancólica. Tudo bem que trata-se de uma versão mais velha de Marlowe, mas a sagacidade demonstrada por gente como Humphrey Bogart, Robert Mitchum, Elliott Gould ou James Caan passa longe. Gould, em especial (em O Perigoso Adeus, 1973), foi o Marlowe mais engraçadinho, soltando várias piadas enquanto desvendava crimes.

Neeson faz o que dá, enquanto seus colegas têm um resultado pouco melhor. Jessica Lange aproveita sua experiência como Joan Crawford (de Feud) para criar uma prima donna do Cinema, enquanto a maravilhosa Diane Kruger (de J.T. LeRoy, 2018 – acima) não passa muito do sem sal como a femme fatale de plantão. E o elenco não para aí, com Danny Huston, Alan Cumming, Colm Meaney, Daniela Melchior, Ian Hart e François Arnaud. Todos em cenários e figurinos que recriam a Los Angeles de 1939 com perfeição, o que acaba sendo um desperdício.

Com vários escritores criando novas histórias para o detetive, o que não faltaria é fonte para mais filmes. A julgar pelo resultado desse, a nova franquia morre no parto. Baixo faturamento e críticas negativas não vão levá-la adiante. O que poderiam fazer é voltar no original e adaptarem outra história de Chandler. Quem sabe assim Marlowe ganhasse fôlego para continuar aparecendo na telona?

Ao menos Jessica Lange parece se divertir com seu papel

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Tetris é mais um produto a ter a história contada

Mais um exemplar do subgênero que tem sido chamado de “Cinema das coisas”, Tetris (2023), como o título já deixa claro, fala do joguinho. Não exatamente da criação dele, mas da comercialização, no final dos anos 80. Com um toque exagerado à James Bond, o roteiro traz alguns dos fatos ligados à guerra pela licença nos vários formatos possíveis, como computador, console, aparelhos portáteis e fliperama, mostrando como pano de fundo a derrocada da União Soviética.

Vindo de sucessos como a cinebiografia de Elton John, Rocketman (2019), e a série policial Black Bird, Taron Egerton foi o escolhido para viver o protagonista, Henk Rogers, um programador e empresário que apresentava seu novo jogo numa feira em Las Vegas quando conheceu Tetris e viu o seu potencial para gerar milhões. Indo atrás dos direitos de comercialização, ele entra num embate envolvendo gigantes do ramo. Como Tetris foi inventado por um programador soviético, as coisas tomam outra proporção, virando um duelo entre comunismo e capitalismo.

O contexto de Guerra Fria e tensão constante lembra o vencedor do Oscar Argo (2012), apesar de Egerton ter dito em entrevista que o clima buscado era o de A Rede Social (The Social Network, 2010). Os verdadeiros Henk Rogers e Alexey Pajitnov, o inventor, serviram de produtores e consultores ao filme, dando sugestões quanto à veracidade de certas passagens. Segundo Rogers, algumas dessas sugestões foram aceitas, buscando uma maior fidelidade à história real. Outras foram descartadas em prol da dramaticidade e do suspense.

Tanto os personagens russos quanto os japoneses são interpretados por atores da mesma nacionalidade, o que ajuda bastante. O único que fugiu desse aspecto e recebeu críticas por isso foi o inglês Egerton, já que Rogers nasceu na Holanda, mas tem ascendência parcialmente indonésia. Os rostos mais reconhecíveis do elenco são os de Toby Jones, Rick Yunes, Ben Miles, Roger Allam e Anthony Boyle, que vive o irritante Kevin Maxwell. Entre os russos, destaques para Nikita Efremov (que faz Pajitnov) e Oleg Shtefanko (o executivo da estatal), e o ponto baixo é o caricato vilão de Igor Grabuzov.

A trilha sonora de Tetris é um caso à parte. Muito interessante, ela traz faixas dos anos 80 como as conhecemos, como Opportunities (dos Pet Shop Boys) e The Final Countdown (Europe), e outras várias regravações de clássicos em russo (como Heart of Glass) e japonês (Holding Out for a Hero), além da trilha original de Lorne Balfe (de Dungeons & Dragons, 2023) e dois singles compostos para o filme: Hold On Tight, do grupo feminino de K-pop aespa, e Benevolence, do DJ Aaron Hibell.

Fora os exageros típicos de filmes de espionagem e uns maniqueísmos relacionados a política, Tetris é divertido e funciona bem. E acaba balanceando a questão política, mostrando as agruras dos dois lados. Jon S. Baird (de Stonehouse e Vinyl) assina a direção, com roteiro de Noah Pink (criador da série Genius). Nenhum dos dois é muito conhecido ou expressivo, mas a parceria deu certo. São quase duas horas de reviravoltas que nos deixam na dúvida do que teria realmente acontecido. A única certeza que temos é de que Tetris é até hoje jogado no mundo todo.

Rogers não aceitava “não” como resposta

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Tesla chega aos cinemas com três anos de atraso

Está sendo realizado, até o dia 10 de maio, o Festival Filmelier no Cinema, exibindo 20 filmes até então inéditos em circuito comercial em 24 cidades do país (confira aqui a programação). Um desses filmes é Tesla (2020), já há três anos sem lançamento no Brasil que, graças à Sofá Digital, poderá ser conferido. O longa cobre a vida do inventor e narra alguns fatos interessantes, como a relação entre ele e o famoso Thomas Edison.

A narração, onipresente desde o início, parece vir do presente, citando até pesquisas no Google e usando computador. A história propriamente dita começa em 1884, quando Nikola Tesla está em Nova York trabalhando para Edison, já um bem estabelecido homem de negócios. Insatisfeito com a falta de reconhecimento e alegando uma grande dívida não paga, ele deixa o emprego e tenta abrir sua própria empresa. Vamos acompanhando suas desventuras enquanto tenta colocar suas ideias em prática.

No papel principal, temos um Ethan Hawke (de O Homem do Norte, 2022) bem seguro e discreto, fazendo um Tesla calado, absorto em seus pensamentos, incapaz de se interessar por algo que não venha de sua mente. A pobre Anne Morgan (Eve Hewson, de Ponte dos Espiões, 2015) não percebe isso e fica tentando ter um lugar na vida do sujeito. Outro nome conhecido no elenco é o de Kyle MacLachlan (de High Flying Bird, 2019), que faz um Edison tão centrado em si mesmo quanto o colega.

Com o interessante Marjorie Prime (2017) no currículo, o diretor e roteirista Michael Almereyda parece achar o assunto que trata aqui cansativo e fica arrumando formas de torná-lo mais palatável. O fato de termos uma narradora já deixa isso claro, e ela brinca com algumas situações que podem não ter ocorrido da forma como conta. Alguns diálogos buscam mastigar os temas mais espinhosos para o público, como a diferença entre as correntes contínua e alternada e seus usos. Já outros esquecem dessa complexidade e nos deixam boiando. Tudo isso com cara de teatro filmado, aquele ar de filme feito para a TV da década de 90.

Talvez o maior pecado de Tesla seja não deixar clara a importância de seu protagonista – algo que O Grande Truque (The Prestige, 2006) faz muito bem em poucos minutos, com ninguém menos que David Bowie no papel. Ao final, a impressão que fica é que Tesla foi um grande fracassado e ressentido, dando prejuízo a todos que investiram nele. O trabalho de Hawke é a grande razão do filme conseguir ficar na média.

Kyle MacLachlan é Thomas Edison

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Evil Dead volta a assombrar os cinemas

Até que demorou para a franquia seguir adiante, já que o último filme é de 2013. A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013) foi apresentado à época como uma mistura de refilmagem e continuação do novo clássico de 1981. Traz basicamente a mesma história, mas a leva mais longe enquanto faz homenagens à trilogia de Sam Raimi. Agora, dez anos depois, é a vez de Lee Cronin dirigir e escrever um longa que pode levar a franquia adiante criando um universo mais amplo que aquele de Ash.

Para quem está chegando agora, é bom contextualizar: Raimi, hoje mais conhecido como o diretor da trilogia do Homem-Aranha de Tobey Maguire, lançou sua carreira em 81 com um terror de baixo orçamento estrelado pelos amigos. Bruce Campbell, hoje um notório ator de filmes B e figurinha fácil em encontros nerds, era Ash, o coitado que enfrenta demônios quando amigos em uma cabana afastada encontram o Livro dos Mortos e os invocam. Ele ainda apareceu nos dois filmes seguintes e na série de TV.

Cronin, que tem no currículo alguns curtas e o instigante The Hole in the Ground (2019), além de ter trabalhado com Raimi na série 50 States of Fright, seguiu os passos de Fede Alvarez, diretor da obra de 2013 que reviveu o nome Evil Dead. Assim como o colega, chamou nomes desconhecidos para o elenco e lança agora A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise, 2023), com uma história que ele próprio escreveu e que tem vida independente dos demais. De forma direta e enxuta, mostra o horror de uma família quando um espírito parece tomar o corpo da mãe.

Assim como no filme de 2013, esse A Ascensão tem sangue a rodo, além de vísceras e outras partes humanas visíveis por dentro. Membros arrancados não faltam e é aconselhado a estômagos mais frágeis que passem longe, assim como pessoas facilmente impressionáveis. Para os fãs do gênero, não há nada exatamente inovador, apenas uma trama amarradinha, com poucos clichês e sustos gratuitos, e a sensação de risco constante. Todos os personagens estão em perigo, das crianças aos adultos, e as protagonistas, Lily Sullivan e Alyssa Sutherland, fazem um bom trabalho.

Assim como no anterior, coisas acontecem de acordo com a conveniência do roteiro. Nada que chegue a incomodar, mas as regras do Necronomicon não chegam a ficar claras. Alguns elementos recém-descobertos podem levar a várias outras continuações. Ainda mais levando-se em consideração o baixo custo dessas produções. E Cronin deve se tornar um nome forte no gênero terror, tendo em vista as críticas positivas que A Ascensão tem recebido. Isso, além da atenção recebida devido às pessoas que alegadamente passaram mal nas sessões.

Campbell aposentou seu Ash e não aparece aqui

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