por Marcelo Seabra
Já está disponível nas locadoras o mais novo trabalho de Liam Neeson (Esquadrão Classe A, de 2010) a chegar ao Brasil, a mistura de ação e suspense Desconhecido (Unknown, 2011). O ator, que já está se acostumando à figura do mentor (como em Star Wars – A Ameaça Fantasma, de 1999, e Batman Begins, de 2005), volta e meia faz um longa de ação, como no recente Busca Implacável (Taken, 2008). Ninguém pode negar que o ator seja versátil, tendo vivido um padre (Gangues de Nova York, de 2002), um acadêmico (Kinsey, de 2004), um deus (Fúria de Titãs, de 2010) ou um presidiário (72 Horas, de 2010), para ficar em alguns exemplos mais atuais. Apesar de ser habitualmente bem competente, nem sempre suas escolhas funcionam bem.
Em Desconhecido, Neeson é o Dr. Martin Harris, que chega a Berlin com sua esposa (January Jones, a Betty Draper de Mad Men) para participar de um congresso sobre biotecnologia e conhecer pessoalmente algumas figuras proeminentes na área. O problema começa quando Harris sofre um acidente de táxi, vai parar no fundo de um lago e apaga. Quatro dias depois, ele acorda um pouco debilitado e confuso e tenta encontrar a esposa, saindo do hospital por conta própria. Quando finalmente a encontra, descobre que ela não o conhece e há outra pessoa alegando ser Martin Harris (Aidan Quinn, de A Premonição, de 1999, que passou a viver de pontas).
Nesse ponto da exibição, quando já conhecemos os personagens e a situação, o longa é bem sucedido ao deixar tanto o personagem quanto o público sem saber exatamente o que está acontecendo. A partir daí, você realmente se envolve com o drama de Harris, que deve provar que é quem diz ser e chega até a duvidar de si mesmo. Em sua jornada, ele conta com a ajuda da imigrante ilegal de Diane Kruger (a Helena de Tróia, de 2004), que dirigia o táxi, e do ex-policial de Bruno Ganz (de A Queda, de 2004), contratado por ter bons contatos.
A carreira nos cinemas de Desconhecido, em termos financeiros, não foi das piores. Segundo o site Box Office Mojo, o longa custou 30 milhões de dólares e rendeu 100 a mais que isso no mundo todo. Logo, podemos esperar que outros assim continuarão acontecendo, e trabalho não deve faltar para diretor espanhol Jaume Collet-Serra (que cometeu A Casa de Cera, de 2005, e A Órfã, de 2009). Mesmo que não tenha nenhuma boa atuação: Liam Neeson faz as caretas de Darkman (1990) ou A Casa Amaldiçoada (The Haunting, de 1999) e os demais passam batido. Se alguém merece destaque, é o veterano Bruno Ganz (ao lado), que deixa o colega Frank Langella (Frost/Nixon, de 2008) um pouco apagado.
Identidade era um dos assuntos prediletos do mestre Alfred Hitchcock e aparece em sua obra de diferentes formas, como em Intriga Internacional (North by Northwest, de 1959), Cortina Rasgada (Torn Courtain, de 1966), Quando Fala o Coração (Spellbound, de 1945), Frenesi (Frenzy, 1972) e Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958). A lista completa seria assunto para um outro texto. Ao contrário de Hitchcock, Collet-Serra não demonstra muita classe ou sutileza e não tem um roteiro tão bem amarrado. Aqui, o texto acaba dependendo muito de viradas drásticas, fugindo cada vez mais da realidade. Depois de algumas descobertas, já não é mais possível manter o mesmo interesse. E a ambientação européia remete à trilogia Bourne, mas comparações seriam uma covardia.