por Marcelo Seabra
Em meio a tantos longas de ação genéricos que Liam Neeson anda fazendo, seria uma pena deixar passar em branco Caçada Mortal (A Walk Among the Tombstones, 2014). Não que os outros não tenham suas qualidades, como A Perseguição (The Grey, 2011) e Sem Escalas (Non-Stop, 2014), mas um suspense do quilate desse novo trabalho não deve se misturar. Baseada no livro do veterano Lawrence Block, a obra chega ao Brasil com um título que não ajuda em nada, e traz uma trama bem amarrada propícia para quem gosta de desvendar crimes junto com os personagens.
O protagonista vivido por Neeson é uma das criações recorrentes de Block. O investigador Matt Scudder estrela 17 romances e um livro de contos, cada um contando um pedaço de sua vida, indo e voltando no tempo. Este Caçada Mortal o encontra oito anos após abandonar o álcool e se aposentar da polícia. Sem licença, ele investiga por conta própria os casos que caem em seu colo. A situação atual envolve o traficante Kenny Kristo (Dan Stevens, de O Quinto Poder, 2013 – abaixo), que teve a esposa sequestrada e devolvida em pedaços, mesmo tendo pago o resgate. Cabe a Scudder descobrir os culpados. Isso, sem deixar de frequentar as reuniões dos Alcoólicos Anônimos.
Entre os grandes nomes da literatura policial atual, Block é conhecido por uma boa escrita, muitos prêmios e por ambientar suas ideias em Nova York, cidade onde vive. Scudder foi apresentado ao público em 1976 e passou pelo Cinema, interpretado por Jeff Bridges, em Morrer Mil Vezes (8 Millions Ways to Die, 1986). O fracasso do filme fez o personagem ser esquecido até agora, ganhando uma segunda chance, com um novo intérprete, pelas mãos de Scott Frank. Roteirista lembrado por Wolverine: Imortal (2013), Marley e Eu (2008) e Minority Report (2002), entre outros, ele adaptou material de outro grande nome do gênero, Elmore Leonard. Frank escreveu O Nome do Jogo (1995) e Irresistível Paixão (1998), além de um episódio da série Karen Sisco (2004). Aqui, ele assumiu também a direção, mostrando que sabe construir o clima apropriado de tensão, que prende o espectador até a conclusão.
A história se passa em 1999, na expectativa pelo bug do milênio, e há uma certa melancolia recorrente na fotografia. Os dias são sempre nublados, escuros, refletindo a personalidade de Scudder, que esconde um trauma do passado. Neeson se dá muito bem como um tipo caladão, que luta contra a violência que guarda e tenta ser bom, como alguém que tem uma dívida a ser paga. Para quem está no terceiro Busca Implacável, o ator precisava mesmo encontrar uma franquia interessante, que não pareça forçar a barra criando sequências dispensáveis para um bom filme.
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