Lincoln é vítima de uma Conspiração Americana

por Marcelo Seabra

Um dos grandes nomes da história norte-americana é o 16º presidente do país, Abraham Lincoln. Talvez por ter sido assassinado durante o mandato, após conseguir mudanças significativas consideradas positivas, ele tenha virado um mito, hoje tido como exemplo de correção e dedicação. Isso faz com que caia frequentemente na mira do cinema, que volta e meia dedica um projeto a ele. Atualmente em produção, há duas opções completamente diferentes com estreias previstas entre 2012 e 2013: Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, uma ficção louca, e Lincoln, de Steven Spielberg, que tem Daniel Day-Lewis para contar a história dessa famosa figura.

Em 2010, Robert Redford partiu para a direção de seu oitavo longa, dando continuidade a uma elogiada carreira que se iniciou com os quatro Oscars de Gente Como a Gente (Ordinary People, 1980) – Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante e Roteiro Adaptado. Lincoln é o ponto de partida para Redford, mas a trama não gira em torno dele: Conspiração Americana (The Conspirator, 2010) aborda os eventos que se seguiram ao assassinato. Em um momento de grande tristeza para parte da população (mais para o norte), era necessário investigar a intrincada ligação entre os conspiradores que levaram o plano adiante. Como diz o cartaz do filme: “Uma bala matou o presidente, mas não um homem”.

Por algum motivo, esse filme demorou dois anos para chegar aos cinemas do Brasil, quando já poderia ter sido lançado para homevideo há muito tempo. E quem se dispuser a conferir não vai se arrepender. O elenco, muito afinado, se não acrescenta muito, não deixa a dever, e os personagens nunca chegam a ser estereótipos. Enquanto James McAvoy (X-Men: Primeira Classe, 2011) tem uma atuação mais discreta, por assim dizer, Robin Wright (de O Homem que Mudou o Jogo, 2011) se destaca exatamente pela discrição. Sua personagem é uma mulher sofrida, que defende a família acima de tudo, e nem por isso é perfeita, ela nunca é uma heroína clássica.

Robin vive Mary Surrat, uma respeitada dona de pensão que se vê envolvida na conspiração que culminou na morte do presidente e na agressão ao Secretário de Estado William H. Seward – e havia ainda um plano para o vice-presidente Andrew Johnson. Os dois foram atacados menos de uma semana após a rendição de Robert E. Lee a Ulysses S. Grant, fato que deu vitória aos ianques e deixou os sulistas com um sentimento de vingança frente à conclusão da Guerra Civil Americana. Foi na pensão de Mary que seu filho John, John Wilkes Booth e vários outros se reuniram para combinarem os ataques. Quando começam as prisões dos suspeitos, ela vai junto e já é tida por todos como culpada, com rumo certo à forca.

Como a lei garante a todos a mesma possibilidade de defesa, um advogado é atribuído ao caso. O jovem capitão do exército e herói de guerra Frederick Aiken (McAvoy) volta à profissão defendendo Mary, mas convicto de sua culpa. Como é de se esperar, o caso toma grandes proporções e Aiken se mostra cada vez menos decidido. Boa parte do filme se passa no tribunal, engrossando esse subgênero com um elenco que conta ainda com Danny Huston, Tom Wilkinson, Colm Meaney, Evan Rachel Wood, Justin Long, Stephen Root e Alexis Bledel, além de um irreconhecível Kevin Kline como o Secretário de Guerra Edwin M. Stanton (ao lado).

A grande questão levantada por Conspiração Americana nem chega a ser especificamente quanto à possibilidade de culpa de Mary. O principal aqui é o respeito às leis e à tão mencionada constituição dos Estados Unidos. Parece que é muito fácil arrumar desculpas para colocar tudo de lado e fazer justiça de forma torpe e malcalculada. Mary e outros sete homens são julgados por militares, e não por seus pares, como ocorreu com suspeitos do 11 de setembro. Quando todos estão contra (incluindo aqui a opinião pública), fica difícil apresentar as evidências e ter uma defesa justa. Uma situação que permanece tão atual quanto era em 1865.

Fotos e documentos da época foram base para a reconstituição

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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