Repescagem 2022: Pinóquio por Guillermo del Toro

Uma bela animação em stop-motion, o novo Pinóquio por Guillermo del Toro (Guillermo del Toro’s Pinocchio, 2022) traz uma história mais do que conhecida, mas com alguns toques interessantes que não estavam previstos. O romance foi lançado em 1883, mas a trama se passa na Itália de 1930 e o diretor e roteirista aproveita para mais uma vez fazer críticas ao fascismo. Depois da ditadura de Franco, na Espanha, é a vez de Mussolini.

Como o próprio del Toro disse em entrevistas, é a história de um boneco feita com bonecos, numa época em que ser uma marionete podia ser a forma de sobreviver. Todos conhecem a história de Geppetto (voz de David Bradley) criando um menino de madeira, Pinóquio (Gregory Mann). Aqui, temos também o drama de Carlo (Alfie Tempest), o filho de carne e osso de Geppetto, o que traz uma carga de tristeza ao pai, e uma dimensão maior ao todo.

Com um elenco de dubladores fantástico, que inclui Ewan McGregor, Cate Blanchett, Tilda Swinton e Christoph Waltz, del Toro conseguiu dar um ar de novidade ao velho conto do italiano Carlo Collodi, famoso na versão da Disney. Só não precisa esperar ouvir o grilo falante cantar When You Wish Upon a Star. Disponível na Netflix.

Os personagens ganharam mais profundidade

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Repescagem 2022: Fresh

Uma garota vai em alguns encontros com desconhecidos em busca de um namorado e acaba conhecendo um cara legal no supermercado. A partir daí, as vidas dos dois vão sofrer reviravoltas que serão agoniantes de acompanhar. Essa é a premissa de Fresh (2022), produção disponível no Star+ que acabou passando batida para muita gente.

Daisy Edgar-Jones, da série Normal People, faz uma mocinha adorável e dá conta do recado quando é preciso se adaptar às viradas do bem amarrado roteiro de Lauryn Kahn, mais acostumada a comédias (como Os Outros Caras, 2010). Fazendo par com ela, temos o igualmente simpático Sebastian Stan, o Soldado Invernal da Marvel, formando um casal que poderia muito bem estar sentado ao seu lado em um restaurante.

Fazendo sua estreia como diretora, Mimi Cave demonstra total domínio de seu trabalho, segurando bem da comédia ao suspense. E já tem um novo projeto engatilhado com ninguém menos que Nicole Kidman à frente do elenco. Se tiver um pouquinho da criatividade de Fresh, já nos daremos por satisfeitos.

Stan e Edgar-Jones fazem um casal adorável

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Repescagem 2022: Blonde

A cinebiografia de Marilyn Monroe criou uma boa expectativa devido ao talento dos envolvidos e ao fato de ser baseada no livro supostamente revelador de Joyce Carol Oates. No entanto, o filme revelou-se uma tortura cansativa e interminável, que mostra a atriz num eterno sofrimento, sendo ferida e abandonada por todos que a cercaram.

Ao invés da visão feminista esperada, o roteiro do também diretor Andrew Dominik (de O Homem da Máfia, 2012) sexualiza Marilyn e aumenta o fetiche em torno do mito. Muitas informações tratadas como fatos não têm embasamento histórico e vão sendo colocadas em sequência. Longo e episódico, o filme vai saltando no tempo para cobrir as passagens tidas como necessárias e não deixa as coisas claras cronologicamente.

Mesmo não parecendo muito fisicamente, Ana de Armas (de 007 – Sem Tempo Para Morrer, 2021) faz um ótimo trabalho, captando os maneirismos e expressões de Marilyn. Ela é um dos únicos pontos a serem ressaltados em Blonde, que também conta com uma bela fotografia. Destacam-se também, no elenco, Bobby Cannavale e Adrien Brody, que vivem dois ex-maridos da atriz, Joe DiMaggio e Arthur Miller.

A recriação visual no longa é muito boa

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Os melhores filmes de 2022

Chega o fim do ano e, automaticamente, pipocam listas de melhores filmes do período. Vamos, então, à lista de melhores filmes de 2022 do Pipoqueiro. É bom lembrar que não é possível ver tudo, alguns dos melhores filmes para você eu posso ter perdido ou optado por não ver. Ou simplesmente ter achado ruim. Ou ao menos não bom o suficiente para entrar aqui.

Os streamings trouxeram muitas produções, como é o caso do indicado em primeiro lugar: Argentina, 1985 (2022 – acima), lançado no Amazon Prime Video. Alguns filmes lançados no Brasil este ano podem ser do ano anterior, como aqueles que apareceram na temporada do Oscar. Por isso, não estranhe a presença de um Belfast (2021), por exemplo.

Muitos dos filmes listados abaixo têm crítica completa no Pipoqueiro, basta clicar no título para conferir. Demais críticas publicadas podem ser pesquisadas usando-se o campo de busca no alto da página.

Agradeço a todos que acompanharam O Pipoqueiro em 2022 e a todos que vão seguir acompanhando em 2023! Foram 94 novas postagens esse ano, entre críticas e edições do Programa do Pipoqueiro, com a colaboração sempre especial do Rodrigo “Piolho” Monteiro, Laís Simão, Kael Ladislau, Vinny Costa e Tullio Dias. Feliz Ano Novo!

Melhores filmes de 2022:

Menções honrosas:

O novo Predador foi uma boa surpresa em 2022

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Avatar 2 expande o mundo do primeiro

James Cameron conseguiu novamente. Seja isso bom ou ruim. Mais uma vez, ele entrega um filme tecnicamente impecável, com efeitos e som fantásticos que te levam para dentro dele. Chegando lá dentro, você constata que não há muito. Esse é Avatar: O Caminho da Água (Avatar: The Way of the Water, 2022), filme que, a exemplo, do primeiro Avatar (2009), apresenta muita forma para pouco conteúdo.

Depois de 13 anos, o diretor, roteirista e produtor Cameron volta a torrar uma fortuna para dar vida a seu sonho, trazendo o retorno dos personagens que criou para uma nova aventura. Antes um casal, os Sully agora são uma família: além dos pais (vividos por Sam Worthington e Zoe Saldana), aparecem quatro filhos, cada um com suas personalidades marcantes. Ou estereotipadas. E eles vão além da área que ocupavam, explorando Pandora melhor.

A longa duração vai permitir ao público dormir e acordar algumas vezes, sem nenhuma perda de conteúdo – é perfeitamente possível acordar e continuar acompanhando os desdobramentos da trama. Justiça seja feita, trama essa que não passa de uma demorada vingança, já que deram um jeito de trazer de volta o falecido Coronel Quaritch (Stephen Lang). Um roteiro que vai deixando buracos, com personagens que só aparecem quando necessário, e prepara terreno para novas chatices cameronianas.

Os na’vi da água são introduzidos

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Noites Brutais vai te deixar sem dormir

O ano de 2022 tem sido bom para o Cinema de terror – em quantidade e qualidade. Muitos títulos curiosos chegaram aos cinemas e aos serviços de streaming e um recente que deve surpreender a todos atende por Noites Brutais (Barbarian, 2022). O longa marca a estreia do diretor e roteirista Zach Cregger nas duas funções sozinho, já que havia as exercido em dupla. As bilheterias garantem uma carreira longeva a Cregger: a obra faturou, até o momento, mais de dez vezes seu orçamento.

Falar o mínimo de Noites Brutais é o melhor, já que muito pode ser considerado spoiler. A trama começa com uma mulher chegando a uma cidade desconhecida, procurando o endereço da casa que ela reservou por aplicativo. Quando encontra, tem uma supresa: outro cara fez o mesmo que ela e já estava lá. Uma convenção na região garantiu que não houvesse outro imóvel ou quarto para alugar e eles acabam concordando em dividir a casa.

No papel principal, Georgina Campbell (acima) brilha como uma nova “rainha do grito”. O pouco que conhecemos da personagem é o suficiente para nos fazer ter um certo carinho por ela. Premiada com um Bafta da TV por Murdered By My Boyfriend (2014), Campbell apareceu em diversas séries, como Black Mirror e Krypton, além de pontas em filmes, tendo aqui sua primeira grande oportunidade em muito tempo.

Temos ainda, no elenco, Bill Skarsgård (o Pennywise dos novos It – A Coisa – acima) e Justin Long (de 10 Anos de Pura Amizade, 2011). Os dois sujeitos vividos por eles são bem construídos e têm uma ambiguidade muito interessante, nos deixam por algum tempo sem saber o que pensar a respeito deles. As viradas do roteiro fazem parecer que a história é mais complexa do que é de fato. Mesmo sendo simples, é tudo muito exagerado e divertido – sem deixar de ser assustador. E destaque para a participação de Richard Brake (de Os 3 Infernais, 2019), no tipo de papel que já esperamos vê-lo.

No início da pré-produção de Noites Brutais, Cregger buscou financiamento em muitas fontes possíveis. Uma delas foi a produtora A24, tão comentada hoje devido à qualidade de seus vários lançamentos. Por algum motivo, não se interessaram e ele acabou conseguindo em outros lugares. A resposta do público nas primeiras sessões testes foi tão boa que ele acabou conseguindo um alcance maior, mostrando que a A24 não acerta sempre. No Brasil, está disponível no Star+.

O diretor apresenta parte de seu elenco principal

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Noite Infeliz é um belo filme de Natal… para perturbados

Imagine que você é uma garotinha com menos de dez anos de idade que ainda acredita no Papai Noel. Imagine agora que você tem um walkie-talkie que, supostamente, lhe coloca em contato com o bom velhinho. Se você é parte de uma família abastada, que está sendo mantida refém justamente na véspera do Natal, tendo esse recurso em mãos, o que pediria ao velho São Nicolau? Uma bicicleta? Um tablet? Ou para ele salvar a todos?

Se você respondeu a terceira opção, parabéns. Você e Trudy Lighthouse (Leah Brady, de The Umbrella Academy) estão em sintonia. E é essa, basicamente, a premissa de Noite Infeliz (Violent Night, 2022), o filme natalino menos natalino dos últimos anos e que traz um ar de frescor a esse tipo de produção.

Quando começamos a película, vemos o Papai Noel (David Harbour, de Viúva Negra, 2021) em uma nova luz: menos barrigudo e mais cansado, o velhinho se ressente de seu papel e dos inúmeros anos que vem cumprindo aquela função. Ele faz tudo da maneira mais automática e desleixada possível. As crianças recebem seus presentes, mas isso não quer dizer que o velho Kris Kringle goste de entregá-los. Inclusive, ele parece estar prestes a renunciar ao posto.

As coisas começam a mudar quando o Sr. Scrooge (John Leguizamo, de O Recepcionista, 2020) invade a festa de Natal da família Lighthouse, comandada pela odiosa Getrude (Beverly D’Angelo, dos clássicos Férias Frustradas), uma daquelas matriarcas que se preocupam mais com dinheiro e poder do que com a própria família. Scrooge invade a mansão em busca de uma quantia obscena de dinheiro que Getrude mantém em um cofre no subterrâneo.

Para o azar de Scrooge, Nicolau chega à mansão pouco antes da invasão, para atender ao pedido de Natal original de Trudy. Desnecessário dizer que, quando as coisas esquentam, cabe ao Papai Noel resolver o imbróglio e resgatar os Lighthouse. O que ele faz da maneira mais sangrenta possível. De novo, imagine Jason Voorhes ou Mike Myers vestidos como Papai Noel e terão uma ideia de como ele age. Claro que o diretor Tommy Wirkola filma essas sequências de maneira bem menos explícita do que acontece nos filmes estrelados pelos supracitados. Esse ainda é um filme natalino, oras.

Não há muito mais que se falar de Noite Infeliz. É um filme natalino diferente do que estamos acostumados, mais na linha do clássico Duro de Matar (Die Hard, 1988), bastante divertido e até mesmo com alguns momentos melosos, que todo filme nessa linha deve ter. Apesar de toda a violência que apresenta, o que vemos aqui é uma comédia de ação com sequências legitimamente engraçadas. E algumas que só aqueles indivíduos mais dotados de um humor negro (talvez quase psicótico?) vão apreciar.

Como em boa parte dos filmes atuais, há uma cena no meio dos créditos, mas nada que não possa ser descartado por aqueles sem paciência por esperar esse tipo de extra. Não sei se Noite Infeliz se encaixa no conceito de “diversão para toda família”. Mas que é divertido, é.

A sumida Beverly D’Angelo aparece para mais um filme de Natal inusitado

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Welcome to Chippendales traz mais true crime à TV

No final da década de 70, um imigrante indiano vivendo nos EUA sonhava com uma vida melhor e, para isso, guardou tudo o que ganhou trabalhando como atendente. Cansado de sofrer humihações, trocou seu nome, Somen, por Steve, e decidiu investir seu dinheiro em um clube de gamão. Aí começa a história do famoso clube de striptease para mulheres Chippendales, história essa contada na nova série do streaming Hulu: Welcome to Chippendales – que, no Brasil, virou o inexplicável Bem-Vindos ao Clube da Sedução.

Steve tinha como ídolo Hugh Hefner, o milionário criador da revista Playboy, e buscava montar um império parecido. No entanto, o clube de gamão não deslanchava e ele acaba se associando a pessoas que teoricamente poderiam ajudá-lo. As coisas foram mudando até que o lugar virasse um clube de mulheres, com homens sarados dançando sem roupas. Para Steve, o importante era ter dinheiro entrando, mas ele logo se arrependeria de algumas decisões que tomou. A vaidade dos envolvidos acaba tomando caminhos perigosos.

Depois do sucesso de Pam & Tommy, série que contava os percalços no relacionamento da atriz Pamela Anderson com o baterista Tommy Lee, o produtor Robert Siegel recebeu sinal verde para criar outra atração, dessa vez focando numa trama que não ficou muito famosa fora dos Estados Unidos. Muita gente deve assistir a Chippendales sem conhecer previamente os rumos da história, o que torna a experiência ainda mais surpreendente. E não faltam fatos escabrosos nesse caminho.

Quando se pensa em um ator indiano famoso no cinema americano, o primeiro nome a vir à cabeça é o de Kumail Nanjiani – mesmo ele sendo paquistanês. Muito lembrado por seu papel em Doentes de Amor (The Big Sick, 2017) e visto recentemente em Obi-Wan Kenobi (na TV) e em Eternos (Eternals, 2021), Nanjiani é um artista quente no momento e uma ótima escolha para viver Steve. Calmo e introspectivo na maior parte do tempo, o ator sabe a hora de explodir e se impor.

Outro nome em alta no elenco é o de Murray Bartlett, que há pouco ganhou um Emmy por seu trabalho na primeira temporada de The White Lotus. Mais um personagem louco e exagerado, na medida certa para o ator. Uma figura que andava meio sumida, apenas fazendo pequenas participações, é Juliette Lewis (de Yellowjackets e I Know This Much Is True), que mostra estar em ótima forma (artisticamente falando). E completa o núcleo principal Annaleigh Ashford (de American Crime Story), que também não faz feio, numa atuação mais contida. O ótimo Dan Stevens (de Legião) faz uma rápida aparição, mas digna de nota.

O subgênero que mais tem chamado a atenção é o conhecido como true crime, as obras que relatam crimes verdadeiros, seja de maneira ficcional ou documental. Num curto período de tempo, tivemos Night Stalker, Dahmer e Black Bird, todas contando histórias reais que envolvem crimes. Com o elogiado Matt Shakman (de WandaVision) na produção e na direção dos primeiros episódios e uma reconstituição de época primorosa, com figurinos e trilha mais do que adequados, Welcome to Chippendales é muito mais do que homens sem roupas. Se bem que, para alguns, isso já seria o suficiente.

O elenco foi em peso prestigiar a estreia da série em Los Angeles

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Triângulo vive uma bonita história em Meu Policial

por Laís Simão

Meu Policial (My Policeman, 2022) conta a história de um triângulo amoroso vivido pelo policial Tom Burgess (Harry Styles, de Não Se Preocupe, Querida, 2022), a professora Marion Taylor (Emma Corrin, de The Crown) e o curador do Brighton Museum, Patrick Hazelwood (David Dawson, de The Last Kingdom). O título traz um importante aspecto do filme, já que o pronome possessivo “meu” indica o conflito que inicia a trama.

O enredo se desenvolve a partir de flashbacks. Enquanto os personagens estão no momento presente, uma pequena cena, um recorte do cotidiano, os leva a cinquenta anos atrás. Definitivamente, narrar a história por essa perspectiva foi uma decisão acertada, é um convite para ligar os pontos, olhar os personagens por outro ângulo, o que coincide com o próprio processo de autoconhecimento dos protagonistas.

Para o flashback fazer ainda mais sentido, o filme conta com excelentes escolhas de figurino, ambientação e trilha sonora, recriando a Inglaterra de 1959. A fotografia é outro ponto que merece destaque, retratando o mar por diferentes lados, dialogando com o conceito abstrato de fluidez das águas, com o interesse dos personagens pela arte e por um quadro em específico.

Após a morna atuação de Harry Styles em Não Se Preocupe, as expectativas estavam baixas quanto a ele protagonizar um filme. Nota-se que, nos últimos anos, ele participou também de Dunkirk (2017) e Eternos (Eternals, 2021), o que demonstra o interesse do cantor em continuar e aprimorar sua atuação. No entanto, aqui, ao lado de excelentes profissionais como Corrin e Dawson, seu trabalho não deixou a desejar.

Em relação a Emma Corrin, é interessante observar que em seus últimos trabalhos, após interpretar a Princesa Diana na quarta temporada da série The Crown, os papeis que lhe são designados geralmente possuem uma característica comum: a de esposa frustrada. Isso pode ser observado, além da própria Diana, enquanto atuava na conhecida história do casamento com o Príncipe Charles, em Meu Policial e também em O Amante de Lady Chatterley (Lady Chatterley’s Lover, 2022). Seria interessante ela mostrar outras vertentes de sua atuação, com tramas mais distintas, de modo a evitar uma marca desnecessária, sobretudo considerando sua jovialidade e seu flagrante talento.

Do outro lado do túnel do tempo, os protagonistas são interpretados por Linus Roache (o Dr. Wayne de Batman Begins, 2007), Gina McKee (sempre lembrada por Um Lugar Chamado Notting Hill, 1999) e Rupert Everett (o editor de Julia Roberts em O Casamento do Meu Melhor Amigo, 1997). Eles conseguem captar traços dos personagens jovens e reinterpretá-los com os acréscimos da maturidade.

A história do longa é inspirada no livro homônimo de 2012 de Bethan Roberts. A adaptação ficou a cargo de Ron Nyswaner, também responsável pelo ótimo Filadélfia (Philadelphia, 1993), pelo qual foi indicado ao Oscar. O filme foi dirigido por Michael Grandage, que é conhecido também por ser um produtor teatral, meio em que a encenação de Meu Policial se encaixaria perfeitamente. E o diretor deve gostar bastante de tramas de época – ele comandou O Mestre dos Gênios (Genius, 2016).

Disponível na Amazon Prime Video, Meu Policial é um filme bonito, sutil, que retrata um tema difícil. A história em si não traz grande originalidade, o que não tira a importância da obra. Alguns temas precisam ser revisitados, recontados e reelaborados, o que faz com que a relevância do filme seja fim em si mesma.

Harry Styles finalmente mostrou serviço, após atuações mais apagadas

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1899 é nova investida de criadores de Dark

Apesar de, particularmente, achar Dark superestimada, é inegável a qualidade da produção alemã que trata de viagens no tempo. A série teve uma repercussão tão boa que abriu novas portas para seus idealizadores na Netflix, a dupla de produtores Baran bo Odar e Jantje Friese. Ambos retornaram às luzes da ribalta esse ano com 1899, uma série em oito episódios que bebe mais ou menos na mesma fonte de sua predecessora, ainda que sua história seja menos previsível e mais direta em certos pontos.

Com todos os episódios liberados no último novembro, 1899 conta uma história que tem muitas camadas e diversas subtramas. Ela começa a bordo do Kerberos, um navio de passageiros que transporta cerca de 1.500 pessoas da Europa para os Estados Unidos. Logo de cara, a produção já se destaca de suas irmãs, na medida em que o elenco vindo de diversos países fala, na maior parte do tempo, sua língua natal. Isso é fundamental para ajudar a piorar o clima de confusão e falta de comunicação que se estabelece e se agrava enquanto a história avança. Alguns sites, inclusive, sugerem que a série seja assistida no idioma original, legendada, já que a dublagem estraga completamente essa característica.

Detalhes à parte, logo no primeiro episódio descobrimos que a viagem do Kerberos é cercada de riscos, já que, cerca de quatro meses antes, o Prometheus, um navio da mesma empresa, fazendo a mesma rota, em direção ao mesmo destino, sumiu misteriosamente. Ninguém sabe o que aconteceu e parece que esse será mais um navio desaparecido cujo destino nunca será revelado. Ênfase em “parece”.

Paralelamente, somos apresentados aos protagonistas e principais coadjuvantes da série e esse é um elenco bastante extenso. Além da médica inglesa Maura Franklin (Emily Beecham) e do capitão do navio, o alemão Eyk Larsen (Andreas Pietschmann), dupla que tem o maior destaque, a gueixa japonesa Ling Yi (Isabella Wei), sua mãe Yuk Je (Gabby Wong), o playboy espanhol Ángel (Miguel Bernardeau), seu companheiro, o padre português Ramiro (José Pimentão), os ex-soldados franceses Jérome (Yann Gael) e Lucien (Jonas Bloquet), esse com a esposa, Clémence (Mathilde Ollivier), a americana Virgínia Wilson (Rosalie Craig) e os nórdicos Krester (Lucas Lynggaard Tønnesen), sua irmã, Tove (Clara Rosager), sua mãe Iben (Maria Erwolter) e o também inglês Daniel (Aneurin Barnard) têm destaque na série.

Temos ainda os membros da tripulação, Franz (Isaak Dentler), Olek (Maciej Musial) e Sebastian (Tino Mewes). O jovem conhecido simplesmente como o garoto (Fflyn Edwards) e Henry Singleton (o veterano Anton Lesser) completam os personagens que têm mais tempo de tela, cada um deles tendo diferentes bocados de suas histórias pregressas reveladas. Ao longo da série, no entanto, o foco é mais direcionado para Maura, Eyk, Daniel e o garoto.

A viagem do Kerberos se torna mais complicada quando seu telégrafo recebe, sem parar, a mesma mensagem contendo números que levam a uma latitude fora de sua rota. Intrigado, Eyk decide levar o navio até lá apenas para descobrir que seus instintos estavam corretos e aquele era o Prometheus. Seguido de Ramiro, Maura, Olek, Jérome e demais membros da tripulação, o capitão decide pegar um bote e visitar o navio, procurando não só sobreviventes, mas uma explicação para a sua situação. A partir daí, a história de 1899 toma um rumo inesperado e tudo o que acontece então, aparentemente, é resultado dessa decisão de Eyk. Ênfase em “aparentemente”.

Ao longo de seus oito episódios, a série se divide em duas frentes: a história principal corre de maneira mais ou menos linear, na qual Maura e Eyk tentam descobrir não só os segredos do Prometeus, mas do Kerberos, e vemos como as decisões do capitão impactam a tripulação e seus passageiros e como eles reagem a elas. Ao mesmo tempo, vemos momentos do passado da maioria dos personagens. Com uma profundidade maior ou menor, pelo menos um pequeno pedaço da vida deles é revelada, ajudando a entender não só o motivo de estarem no navio, mas o porquê de tomarem certas atitudes diante das situações que lhes são apresentadas. Esse mergulho, ora superficial, ora mais profundo, é bem interessante e torna esses personagens mais tridimensionais, se torna mais fácil se relacionar com eles. E, principalmente, os flashbacks ajudam a história a caminhar. Uma necessidade da qual muitas vezes roteiristas e diretores esquecem.   

 Além dos personagens com diferentes níveis de desenvolvimento e um elenco que está bem ajustado, 1899 tem uma trama interessante, com viradas de roteiro que às vezes podem parecer repetitivas, mas raras vezes são previsíveis. Mesmo bebendo da mesma fonte que muitas séries de ficção científica, que abordam assuntos similares, os roteiristas e produtores se esforçaram para criar uma história intrigante, original e, claro, com aquela ponta solta para uma possível segunda temporada. Assim como Dark, ela merece a atenção que vem recebendo.

Os produtores de Dark acertam novamente com 1899

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