O Clube dos Otários se reencontra para It 2

por Marcelo Seabra

27 anos depois, eis que Pennywise reaparece! Ao menos, na história, porque demorou apenas dois anos para a chegada da sequência de um dos maiores sucessos recentes do Cinema de terror. It: Capítulo Dois (It Chapter Two, 2019) conclui a história do Clube dos Otários, as crianças do primeiro filme, e cobre o restante do livro de Stephen King. Num total de quase três horas, que aproveita muito da fonte e toma também grandes liberdades.

King, que faz uma ponta no filme, esteve próximo da produção e topa brincar com uma velha piada que fazem com ele: a de que ele frequentemente perde a mão ao escrever os finais de seus livros. No filme, é Bill, já crescido, quem tem essa dificuldade. James McAvoy (o Professor X dos X-Men) assume a tarefa de viver o escritor que lidera o grupo quando se reencontram em Derry.

Todos claramente bem-sucedidos e espalhados pelo país, os amigos perderam contato totalmente e até se esqueceram das aventuras vividas em sua cidade natal. É Mike (Isaiah Mustafa, de Caçadores de Sombras), o único que não saiu de Derry, que descobre a terrível verdade: o palhaço assassino está de volta. O Clube dos Otários teria que se reunir para vencê-lo de uma vez por todas. Ele liga para um por um e os convoca, para que a promessa feita com sangue há 27 anos seja cumprida.

De início, o roteiro (novamente escrito por Gary Dauberman) nos apresenta à versão adulta de cada um dos personagens que conhecemos. Além de Bill, que trabalha na adaptação de um livro dele para o Cinema, encontramos Ritchie (Bill Hader, de Barry) bem estabelecido como comediante; Eddie (James Ransone, de Oldboy, 2013) se tornou um analista de riscos; Stanley (Andy Bean, da série do Monstro do Pântano) é sócio em uma empresa de contabilidade; Ben (Jay Ryan, de Top of the Lake) levou a sério sua paixão e se formou arquiteto; e Beverly (Jessica Chastain, de X-Men: Fênix Negra, 2019), a única menina do grupo, cresceu para ser designer de moda.

Apesar de bem de vida, todos os Otários têm seus traumas de infância guardados, influenciando suas vidas adultas. Não se lembram de Pennywise, mas continuam mantendo relações nos moldes das que tinham. Eddie não é mais mandado pela mãe, mas pela esposa (as duas são Molly Atkinson); Bev não é mais abusada pelo pai, mas pelo marido (Will Beinbrink, de Um Estado de Liberdade, 2016); e assim por diante. Flashbacks misturam as linhas temporais, o que torna possível confrontar os dois momentos, a adolescência e a vida adulta, e situa até quem não viu o longa de 2017.

Um dos complicadores desse Capítulo Dois é exatamente ter personagens demais para cobrir. No primeiro, eles viviam aventuras juntos, era só mostrar o grupo. Agora, como estão sempre separados, é preciso acompanhar o que cada um dos sete está fazendo. E ainda temos a volta do bully Henry Bowers (Teach Grant, de Van Helsing) e Pennywise, mais uma vez interpretado com maestria por Bill Skarsgård. São no mínimo oito pessoas em situações diferentes, o que alonga demais a sessão e a torna por vezes cansativa.

Uma crítica feita ao primeiro filme, que para muitos é uma qualidade, é a falta de sustos, e observamos isso novamente. Andy Muschietti é muito habilidoso ao criar tensão, um clima de terror, sem necessariamente assustar o público. O diretor conseguiu o elenco que queria, repetindo com Chastain a dobradinha de Mama (2013), e pelos menos quatro atores já haviam trabalhado juntos: Chastain, McAvoy, Hader e Beinbrink estiveram em Dois Lados do Amor (2014). A familiaridade entre eles se reflete em cena, passando uma sensação real de amizade. E a similaridade física entre as duas versões do mesmo personagem chega a assustar, principalmente nos casos de Richie e Eddie.

Com destaque para as atuações de Skarsgård e Hader, o elenco está muito bem. A cidade mais uma vez é bem explorada, se tornando também um personagem, e a trilha de Benjamin Wallfisch casa bem com as cenas, sem se sobrepor. Todos os elementos parecem bem encaixados. Mas não foi à toa que a versão de It de 1990 havia sido planejada para durar oito horas. Acabaram cortando muitas subtramas e lançando dois episódios de uma hora e meia, o que ficou até mais curto que esses dois filmes juntos. Mas Muschietti e Dauberman optaram por aproveitar muito do material, o que causou uma queda no ritmo e pode levar muitos espectadores a reclamarem.

Os Muschietti (nas pontas) se uniram aos Otários para o lançamento

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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