Wandinha Addams ganha nova vida na Netflix

por Laís Simão

A Netflix lançou Wandinha (Wednesday, 2022), série que tem como foco a icônica filha mais velha de Mortícia e Gomez, da família Addams. Boa dose de nostalgia para quem viveu a década de 90 e já conhece essa excêntrica família, tanto pelo desenho animado da época quanto pelo filme, lançado em 1991, e sua continuação, de 1993. Isso, sem mencionar as encarnações anteriores dessa família.

Apenas pela premissa, a série já gerava altas expectativas. Quem conhecia os personagens já esperava pelo reencontro do nostálgico, macabro e cômico, da forma leve e lírica que só os Addams propiciam. Essa expectativa se elevou ainda mais após a divulgação de que a direção caberia a Tim Burton, responsável também por clássicos como Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, 1990), Sweeney Tood (2007) e Batman (1989), entre tantos outros aclamados por público e crítica.

A série acompanha a adaptação da jovem Wandinha Addams em uma nova escola. Poderia ser apenas mais uma história de uma adolescente tentando pertencer, se a protagonista não fosse esta que dá nome à série. A Escola Nunca Mais tem como integrantes os excluídos, aqueles que são hostilizados pela sociedade por não se enquadrarem no que é dito como normal.

A escola acolhe alunos com habilidades excêntricas e a chegada de Wandinha coincide com a ocorrência de diversos homicídios praticados por uma criatura desconhecida na pequena vila de Jericho. A partir disso, a série se desenvolve, abordando temas importantes como a relação dos jovens com a tecnologia e o poder da ancestralidade, além de romper de forma leve, e sem necessariamente levantar bandeiras, com paradigmas raciais, famílias plurais e questões de gênero.

 

A atuação é outro ponto que merece destaque no spin-off. Jenna Ortega, a protagonista, participou recentemente de filmes como X – A Marca da Morte (2022) e Pânico (Scream, 2022), além de interpretar a personagem Ellie Alves na série You, também um original Netflix, que retrata a história de um stalker e serial killer. Aqui, Ortega desempenhou um de seus melhores trabalhos, conseguindo entregar uma personagem que estava em processo de descoberta, acompanhada sempre de sua excentricidade.

Outra atriz que igualmente se destacou é a Gwendoline Christie, que interpreta a diretora da Escola Never More, Larissa Weems. Os fãs de Game of Thrones, que estavam acostumados a vê-la de armadura, cabelos curtos e absurdamente séria ao interpretar Brienne de Tarth podem se surpreender com o contraste em relação à elegância e beleza de Weems.

A presença ilustre de Catherine Zeta-Jones como Mortícia Addams chega a ser um presente para o público. A grande homenagem, no entanto, se deu com a escalação da atriz Christina Ricci, que na série interpreta a monitora Marilyn Thorn. Nos filmes de 1991 e de 1993, ela viveu na própria Wandinha.

O jogo de cores, que é uma marca registrada de Burton, mais uma vez se fez presente na série. A mistura do mórbido com o colorido também teve seu diálogo com a maravilhosa trilha sonora, que apresenta desde clássicos de Edith Piaf (Non, Je Ne Regrette Rien) e Roy Orbison (In Dreams) a Dua Lipa (Physical), passando por Vivaldi e suas Quatro Estações (Inverno, claro). As coreografias da série também foram muito bem estudadas, trazendo esgrima, kung fu e, como se trata de adolescentes, até mesmo danças, obviamente com o toque extravagante dos Addams.

A primeira temporada tem oito episódios de duração, cada um de aproximadamente uma hora. É uma série bastante dinâmica, com um ápice no final de cada episódio que leva facilmente o expectador a querer assistir de imediato ao próximo. É uma grande homenagem aos filmes dos anos 90, mas, também, pode se tornar um novo marco para os jovens de agora. Não só pelo brilhantismo da série, mas pela importância da mensagem que os Addams sempre trouxeram: a de sermos sempre nós mesmos.

Christina Ricci, a Wandinha dos anos 90, faz uma ponta

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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