1899 é nova investida de criadores de Dark

Apesar de, particularmente, achar Dark superestimada, é inegável a qualidade da produção alemã que trata de viagens no tempo. A série teve uma repercussão tão boa que abriu novas portas para seus idealizadores na Netflix, a dupla de produtores Baran bo Odar e Jantje Friese. Ambos retornaram às luzes da ribalta esse ano com 1899, uma série em oito episódios que bebe mais ou menos na mesma fonte de sua predecessora, ainda que sua história seja menos previsível e mais direta em certos pontos.

Com todos os episódios liberados no último novembro, 1899 conta uma história que tem muitas camadas e diversas subtramas. Ela começa a bordo do Kerberos, um navio de passageiros que transporta cerca de 1.500 pessoas da Europa para os Estados Unidos. Logo de cara, a produção já se destaca de suas irmãs, na medida em que o elenco vindo de diversos países fala, na maior parte do tempo, sua língua natal. Isso é fundamental para ajudar a piorar o clima de confusão e falta de comunicação que se estabelece e se agrava enquanto a história avança. Alguns sites, inclusive, sugerem que a série seja assistida no idioma original, legendada, já que a dublagem estraga completamente essa característica.

Detalhes à parte, logo no primeiro episódio descobrimos que a viagem do Kerberos é cercada de riscos, já que, cerca de quatro meses antes, o Prometheus, um navio da mesma empresa, fazendo a mesma rota, em direção ao mesmo destino, sumiu misteriosamente. Ninguém sabe o que aconteceu e parece que esse será mais um navio desaparecido cujo destino nunca será revelado. Ênfase em “parece”.

Paralelamente, somos apresentados aos protagonistas e principais coadjuvantes da série e esse é um elenco bastante extenso. Além da médica inglesa Maura Franklin (Emily Beecham) e do capitão do navio, o alemão Eyk Larsen (Andreas Pietschmann), dupla que tem o maior destaque, a gueixa japonesa Ling Yi (Isabella Wei), sua mãe Yuk Je (Gabby Wong), o playboy espanhol Ángel (Miguel Bernardeau), seu companheiro, o padre português Ramiro (José Pimentão), os ex-soldados franceses Jérome (Yann Gael) e Lucien (Jonas Bloquet), esse com a esposa, Clémence (Mathilde Ollivier), a americana Virgínia Wilson (Rosalie Craig) e os nórdicos Krester (Lucas Lynggaard Tønnesen), sua irmã, Tove (Clara Rosager), sua mãe Iben (Maria Erwolter) e o também inglês Daniel (Aneurin Barnard) têm destaque na série.

Temos ainda os membros da tripulação, Franz (Isaak Dentler), Olek (Maciej Musial) e Sebastian (Tino Mewes). O jovem conhecido simplesmente como o garoto (Fflyn Edwards) e Henry Singleton (o veterano Anton Lesser) completam os personagens que têm mais tempo de tela, cada um deles tendo diferentes bocados de suas histórias pregressas reveladas. Ao longo da série, no entanto, o foco é mais direcionado para Maura, Eyk, Daniel e o garoto.

A viagem do Kerberos se torna mais complicada quando seu telégrafo recebe, sem parar, a mesma mensagem contendo números que levam a uma latitude fora de sua rota. Intrigado, Eyk decide levar o navio até lá apenas para descobrir que seus instintos estavam corretos e aquele era o Prometheus. Seguido de Ramiro, Maura, Olek, Jérome e demais membros da tripulação, o capitão decide pegar um bote e visitar o navio, procurando não só sobreviventes, mas uma explicação para a sua situação. A partir daí, a história de 1899 toma um rumo inesperado e tudo o que acontece então, aparentemente, é resultado dessa decisão de Eyk. Ênfase em “aparentemente”.

Ao longo de seus oito episódios, a série se divide em duas frentes: a história principal corre de maneira mais ou menos linear, na qual Maura e Eyk tentam descobrir não só os segredos do Prometeus, mas do Kerberos, e vemos como as decisões do capitão impactam a tripulação e seus passageiros e como eles reagem a elas. Ao mesmo tempo, vemos momentos do passado da maioria dos personagens. Com uma profundidade maior ou menor, pelo menos um pequeno pedaço da vida deles é revelada, ajudando a entender não só o motivo de estarem no navio, mas o porquê de tomarem certas atitudes diante das situações que lhes são apresentadas. Esse mergulho, ora superficial, ora mais profundo, é bem interessante e torna esses personagens mais tridimensionais, se torna mais fácil se relacionar com eles. E, principalmente, os flashbacks ajudam a história a caminhar. Uma necessidade da qual muitas vezes roteiristas e diretores esquecem.   

 Além dos personagens com diferentes níveis de desenvolvimento e um elenco que está bem ajustado, 1899 tem uma trama interessante, com viradas de roteiro que às vezes podem parecer repetitivas, mas raras vezes são previsíveis. Mesmo bebendo da mesma fonte que muitas séries de ficção científica, que abordam assuntos similares, os roteiristas e produtores se esforçaram para criar uma história intrigante, original e, claro, com aquela ponta solta para uma possível segunda temporada. Assim como Dark, ela merece a atenção que vem recebendo.

Os produtores de Dark acertam novamente com 1899

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