Paul Cézanne - (1892)

A mais engraçada das histórias

24 de agosto de 1983. Um homem de chapéu-coco repousa um resto de cigarro na boca, o mesmo que fumava desde as nove da manhã. Ao meio-dia, o sol acerta o centro da sua cabeça como um policial treinado acertaria um tiro no escuro. Ele se arrepia como se um espírito tivesse o atravessado.  Encostado no poste em frente ao Banco do Brasil, acompanha a … Continuar lendo A mais engraçada das histórias

Depois da meia-noite

Depois da meia-noite, o quarto escuro geralmente começava a receber a luminosidade dos postes da rua. Aos poucos, os lampejos iam se incorporando em um tom amarelado, que era lentamente percebido pelo olho direito, que colecionava, em cor marrom escura, astigmatismo e miopia. Podia enxergar, mas duvidava do que via. Uma certeza tinha, pois checara o relógio antes de se deitar: já passava da meia-noite. … Continuar lendo Depois da meia-noite

Nosso Livro

Nascemos como nascem todos. Em 2018, duas pessoas resolveram se juntar e chegaram à conclusão que o que tinham à vista já não era o suficiente. Para preencher o vazio com o qual a existência nos sufoca dia a dia, era necessário olhar para o Horizonte. Como todas as junções onde o amor impera, a multiplicação foi apenas mais um traço do destino. Quando os … Continuar lendo Nosso Livro

Sem inocorrência de desespero - foto: Edward Burne-Jones – Esperança, 1896

Incorrência ao desespero

Victória Farias Sem a possibilidade de contagem da ocorrência de fenômenos desesperadores, a situação não está fácil. Os tempos não estão só difíceis, estavam, há alguns meses. Agora, nos encontramos em um momento em que todas as palavras do português relacionadas à desgraça precisam de um novo significado. Tá aí uma palavra que me ensinaram a nunca usar: desgraça, que se caracteriza pela ausência da … Continuar lendo Incorrência ao desespero

Carta de despedida

Victória Farias Ao verme que primeiro roeu… não, não posso começar assim, não quero ter que responder a um processo post mortem. Já pensou na energia que teria que gastar saindo da minha cova e explicando ao juiz que não eram vermes, mas borboletas! “Vermes” é só uma expressão comum, eu diria. Mas eram borboletas, seu juiz! Começaram pela ponta dos meus dedos, depois as … Continuar lendo Carta de despedida

Inverdades

Victória Farias Antes de tudo, é necessário constantemente se auto convencer de qual realidade estamos vivendo. Na nossa, ou na deliberadamente inventada por alguém? São tantas acontecendo ao mesmo tempo que eu mesma, caro leitor, me pego vez ou outra invadindo o imaginário de outrem, pensando que esse é o meu caminho de volta para casa. Isso tem acontecido com mais frequência do que o … Continuar lendo Inverdades

Icarus epistolas

Victória Farias “… Fui colocado a meio caminho entre a miséria e o sol.” Albert Camus disse isso uma vez. De um jeito deturpado, a frase ficou grafada na minha cabeça como “fui posto a meio caminho entre o sol e o deserto.” Durante a semana passada, essas palavras ficaram ecoando repetidamente em meu consciente, “posto no meio do caminho entre o sol e a … Continuar lendo Icarus epistolas

Mil mirantes

Daniela Piroli Cabral contato@danielapiroli.com.br Hoje, dia 20 de janeiro de 2022, chegamos à publicação número 1000 do nosso querido blog Mirante. São mil posts, mil olhares, mil horizontes de um grupo de escritores que se juntaram para tecer histórias e estórias, trocas afetos e compartilhar diferentes percepções de mundo. Ora em prosa, ora em verso, ora em drama, ora em comédia, o Mirante mostra que … Continuar lendo Mil mirantes

A vingança de Baco

Victória Farias Em um supermercado perto de casa, todos os dias a seção de vinhos é reabastecida. Caixas se amontoam para todos os lados, tornando o trabalho do repositor mais fácil – e o dos clientes, mais difícil. Em seus lares, quando todos os pensamentos já fugiram do rumo da realidade, pessoas analisam suas coleções de rolhas – que carregam em si todos os aromas … Continuar lendo A vingança de Baco

Esconde-esconde

  Victória Farias Fazia mais de um mês que o reino de Brasilândia estava sem Rei. Os súditos já haviam enfrentado problema parecido tempos atrás com o Ministério da Magia, um dos mais importantes do Governo. Acontece que o Ministro, que de magia nada sabia, caiu antes mesmo de aprender o truque de desaparecer nas sombras. Ouvi dizer que ele havia conseguido entrar ilegalmente no … Continuar lendo Esconde-esconde