O travesseiro de macela

Rosângela Maluf   São dez horas da manhã de um dia cinzento e nublado. Estamos no comecinho de abril. O Outono apenas começou e o friozinho da madrugada se esparrama ainda por estas montanhas. Acordei mais cedo, fiz a cama, ajeitei os lençóis, estendi a colcha de crochê e separei os travesseiros. De um deles, retirei a fronha branca, com barra de tira bordada e … Continuar lendo O travesseiro de macela

A sopeira de louça

Rosângela Maluf   Dona Maria nos foi indicada por uma amiga, também moradora do mesmo prédio, na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, onde morei por sete longos (e quentes) anos! Fazia tempo que eu buscava uma pessoa caprichosa que passasse toda a nossa roupa a fim de poupar a Fafá que fazia os demais serviços da casa. O apartamento não era … Continuar lendo A sopeira de louça

O missal de madrepérola

Rosângela Maluf   Um dia, fui criança. E no primeiro ano escolar, junto às outras crianças de sete anos, faria a primeira comunhão em conjunto. Naquele tempo comemorava-se a ocasião em grande estilo, era um motivo de orgulho para os pais e grande alegria para todos nós. Lembro-me bem do vestido lindo feito pela Tia Ruth: era branco, de organdi bordado, com nesgas de tecido … Continuar lendo O missal de madrepérola

O banco na árvore

Rosângela Maluf   Todos os meses, ao apresentar aos meus pais, a caderneta do colégio, minha barriga doía, num misto de preocupação e medo. Por mais que eu fosse boa aluna, estudiosa, ótimas notas, havia um problema sério: quando o aluno se comportava mal, fazia coisas que não devia, conversava demais, ou  perturbava as aulas, a nota em “Comportamento” vinha em vermelho, nota sete. Eu … Continuar lendo O banco na árvore

Akira: um coração partido.

Rosângela Maluf   Conheci Akira no Aeroporto de Guarulhos. Eu, de férias, indo esquiar em Bariloche e ele indo para Salvador, a trabalho. Por um desses misteriosos encontros ao acaso, sentamo-nos lado a lado, enquanto aguardávamos os nossos voos; o dele e o meu, os dois, atrasados em mais de uma hora.   Já há algum tempo sentada próxima à janela, eu fazia Palavras Cruzadas, … Continuar lendo Akira: um coração partido.

Na folha de inhame

Rosângela Maluf   Não me lembro de ter feito outras vezes, uma viagem sozinha com o meu pai. Quero dizer, só ele e eu. Todas as minhas fotos e lembranças são da família inteira reunida. Em férias, a bordo da Rural Willys, cor de café com leite, éramos então cinco pessoas, pois os gêmeos só chegariam algum tempo depois. Papai, mamãe, meus dois irmãos e … Continuar lendo Na folha de inhame

Quando eu morri

Rosângela Maluf   Ontem, quando eu morri, era quarta feira, 19 de abril, dois dias depois do meu aniversário de 50 anos. Não pensei que uma cirurgia tão simples pudesse terminar numa parada cardíaca. Estou achando que me vou cedo demais, mas não teve mesmo jeito. A moça de azul entrou na sala do CTI, verificou os fios, suspirou profundamente, me olhou e apertou uma campainha que, imagino, … Continuar lendo Quando eu morri

A estrela do mar

Rosângela Maluf   Nos últimos trinta anos, Esther nunca tivera uma cama só pra si. Três relacionamentos – coincidentemente com duração de dez anos cada um – fizeram com que sua cama fosse, irremediavelmente, compartilhada por longos tempos. Quero dizer, a cama de casal. A cama, com aquele colchão enorme do qual só lhe cabia uma pontinha, onde se espremia, dormia e, às vezes, sonhava. … Continuar lendo A estrela do mar