Passando roupas (Deus nos livre!)

Rosangela Maluf Em pleno século XXI, somos continuamente bombardeados com novidades de toda espécie! Resumindo, temos robozinhos que varrem a casa, a Alexa, com quem você consegue falar o que quer, GPS que te orienta pelos caminhos mais tortuosos, e o celular que faz Pix, depósitos, pagamentos e transferências. Há QR Codes e incontáveis outras facilidades que, em muito, simplificam nossa vida. Controles remotos, TAGs … Continuar lendo Passando roupas (Deus nos livre!)

Quando eu morri...

Quando eu morri…

Rosangela Maluf Ontem, quando eu morri, era quarta-feira, 19 de abril, dois dias após o meu aniversário de 50 anos. Não pensei que uma cirurgia tão simples pudesse terminar em uma parada cardíaca. Estou achando que estou indo cedo demais, mas não teve mesmo jeito. A moça de azul entrou na sala do CTI, verificou os fios, suspirou profundamente, me olhou e apertou uma campainha … Continuar lendo Quando eu morri…

Mãe

Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho mais. Tenho ainda tanto a dividir com você, tanto a compartilhar para celebrarmos e comemorarmos juntas. Tanto caso pra contar, algumas tristezas e muitas alegrias para repartir com você. Lembranças divertidas ou nem tão divertidas, mas que nos fariam rir ou chorar. Neste curto espaço-tempo, eu não morri, mas sofri … Continuar lendo Mãe

Na folha de inhame

Rosangela Maluf Não me lembro de ter feito outras vezes uma viagem sozinha com o meu pai. Quero dizer, só ele e eu. Todas as minhas fotos e lembranças são da família inteira reunida. Em férias, a bordo da Rural Willys, cor de café com leite, éramos então cinco pessoas, pois os gêmeos só chegariam algum tempo depois: papai, mamãe, meus dois irmãos e eu. … Continuar lendo Na folha de inhame

O banco na árvore

Rosangela Maluf Todos os meses, ao apresentar aos meus pais a caderneta do colégio, minha barriga doía, num misto de preocupação e medo. Por mais que eu fosse boa aluna, estudiosa, com ótimas notas, havia um problema sério: quando o aluno se comportava mal, fazia coisas que não devia, conversava demais ou perturbava as aulas, a nota em “Comportamento” vinha em vermelho, nota sete. Eu … Continuar lendo O banco na árvore

O missal de madrepérola

Rosangela Maluf Um dia fui criança. E, no primeiro ano escolar, junto às outras crianças de sete anos, faria a primeira comunhão em conjunto. Naquele tempo, comemorava-se a ocasião em grande estilo. Era motivo de orgulho para os pais e grande alegria para todos nós. Lembro-me bem do vestido lindo feito pela tia Ruth: era branco, de organdi bordado, com nesgas de tecido furadinho e … Continuar lendo O missal de madrepérola

O Imprevisível

Rosangela Maluf Aquela menina bem poderia ser sua filha. Aos sessenta, ter uma filha de quarenta era uma possibilidade real. Ela, por sua vez, era pediatra, casada, com duas filhas, mas totalmente fora dos padrões. Layla parecia mesmo uma garota rebelde. Magrinha, miúda, cabelo curto, cor laranja. Tatuagens. Muitos brincos. Muito falante, muito divertida. Responsável no trabalho. Dona de casa exigente. Mãe dedicada de duas … Continuar lendo O Imprevisível

O Impossível

Viviam na mesma cidade. Moravam no mesmo bairro e estudavam na mesma escola. Seu irmão e ele eram seus melhores amigos. Nadavam no mesmo clube. Dançavam nos mesmos bailes. Jogavam vôlei no mesmo time. Os outros amigos eram comuns aos três: a ela, ao irmão e a ele. De colegiais, passaram a sonhar com a universidade. Mudaram-se para a capital. Cursinho. Ele queria ser advogado. … Continuar lendo O Impossível

Jogo do Galo

Rosangela Maluf Quando se conheceram, ambos já sabiam das limitações e dificuldades que aquele início de romance teria. Ele, por ser casado, ter três filhos, trabalho sem horário fixo de saída, muito preocupado (e amedrontado) com as possíveis reações da mulher-fera: brava feito uma onça. Ela, solteira, maior de cinquenta, dentista, fazendo seu próprio horário, vivendo sozinha em um apartamento sem ninguém para lhe encher … Continuar lendo Jogo do Galo