O mau olhado da dona Filó

Rosangela Maluf Parte I Aos meus olhos de criança, dona Filomena – por ser tão velhinha – deveria estar bem perto da morte. À época, nós, crianças, pensávamos que só gente velha morria. Sempre que o sino tocava e o triste badalar indicava uma morte, a criançada logo imaginava que um de nós perdera um avô. Sim, morriam mais avôs do que avós. A estatística … Continuar lendo O mau olhado da dona Filó

Um Dia de cão

Rosangela Maluf Domingo. Acordo com o barulho irritante de um pancadão. Como assim, tão cedo, a esta hora da manhã? Acendo o abajur. Não acredito: 6h12! Gente! Manhã de domingo e este barulho insuportável, como é possível? Levanto-me, abro as cortinas. O dia está claro, o céu azul, mas o sol ainda não surgiu na paisagem. O som irritante continua. Muitas vozes, alguns gritinhos e … Continuar lendo Um Dia de cão

Um presente especial

Rosangela Maluf Não fazia muito tempo que a discussão havia ocorrido. Cada um teclava de seu canto, separados por quase sete mil quilômetros, tentando levar adiante uma relação que parecia destinada a não sair do lugar. Relação? Mais que uma amizade colorida, mas nada além disso. Ela decidira não continuar. Ele insistira, pois os encontros virtuais faziam bem a ambos, apesar de não haver perspectiva … Continuar lendo Um presente especial

Passando roupas (Deus nos livre!)

Rosangela Maluf Em pleno século XXI, somos continuamente bombardeados com novidades de toda espécie! Resumindo, temos robozinhos que varrem a casa, a Alexa, com quem você consegue falar o que quer, GPS que te orienta pelos caminhos mais tortuosos, e o celular que faz Pix, depósitos, pagamentos e transferências. Há QR Codes e incontáveis outras facilidades que, em muito, simplificam nossa vida. Controles remotos, TAGs … Continuar lendo Passando roupas (Deus nos livre!)

Quando eu morri...

Quando eu morri…

Rosangela Maluf Ontem, quando eu morri, era quarta-feira, 19 de abril, dois dias após o meu aniversário de 50 anos. Não pensei que uma cirurgia tão simples pudesse terminar em uma parada cardíaca. Estou achando que estou indo cedo demais, mas não teve mesmo jeito. A moça de azul entrou na sala do CTI, verificou os fios, suspirou profundamente, me olhou e apertou uma campainha … Continuar lendo Quando eu morri…

Mãe

Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho mais. Tenho ainda tanto a dividir com você, tanto a compartilhar para celebrarmos e comemorarmos juntas. Tanto caso pra contar, algumas tristezas e muitas alegrias para repartir com você. Lembranças divertidas ou nem tão divertidas, mas que nos fariam rir ou chorar. Neste curto espaço-tempo, eu não morri, mas sofri … Continuar lendo Mãe

Na folha de inhame

Rosangela Maluf Não me lembro de ter feito outras vezes uma viagem sozinha com o meu pai. Quero dizer, só ele e eu. Todas as minhas fotos e lembranças são da família inteira reunida. Em férias, a bordo da Rural Willys, cor de café com leite, éramos então cinco pessoas, pois os gêmeos só chegariam algum tempo depois: papai, mamãe, meus dois irmãos e eu. … Continuar lendo Na folha de inhame

O banco na árvore

Rosangela Maluf Todos os meses, ao apresentar aos meus pais a caderneta do colégio, minha barriga doía, num misto de preocupação e medo. Por mais que eu fosse boa aluna, estudiosa, com ótimas notas, havia um problema sério: quando o aluno se comportava mal, fazia coisas que não devia, conversava demais ou perturbava as aulas, a nota em “Comportamento” vinha em vermelho, nota sete. Eu … Continuar lendo O banco na árvore

O missal de madrepérola

Rosangela Maluf Um dia fui criança. E, no primeiro ano escolar, junto às outras crianças de sete anos, faria a primeira comunhão em conjunto. Naquele tempo, comemorava-se a ocasião em grande estilo. Era motivo de orgulho para os pais e grande alegria para todos nós. Lembro-me bem do vestido lindo feito pela tia Ruth: era branco, de organdi bordado, com nesgas de tecido furadinho e … Continuar lendo O missal de madrepérola