Orquídeas

As orquídeas daqui de casa floriram em setembro. Todas elas desenvolveram botões que desabrocharam em flores. Na maior parte do ano, elas são hastes vazias, depenadas. Parecem mortas, hibernantes, não fossem as folhas verdes e largas de sua base. Um dia, elas formam botões que evoluem para um espetáculo de pétalas. Este dura pouco tempo. Dois meses, algumas semanas. Para depois adormecerem novamente. Há muitas … Continuar lendo Orquídeas

A incrível velocidade do tempo

Outubro chegou, último trimestre do ano, que já é o de 2023. E daí? Normal, não fosse o susto que tomei ontem ao entrar – como é minha rotina – num shopping em busca da cafeteria. Lá nesse meu espaço diário tudo normal, mas notei loja já com motivo natalino na decoração. Meu cafezinho solitário foi uma verdadeira viagem. Transportei e me permiti devanear no … Continuar lendo A incrível velocidade do tempo

Perfume o amor

Silvia Ribeiro Um dia ele chegou e me encontrou na minha pressa atordoada de fuga. E naquele momento era inconcebível aquela expressão de desejo impetuoso querendo ficar, aquele arrepio afiado na minha espinha, e aquelas borboletas dançando dentro do meu estômago como se tivessem apresentando uma dança clássica. E mais ainda. Um coração exuberante e com histórias pra contar. Tudo aquilo era vigoroso demais pra … Continuar lendo Perfume o amor

Amores de internet

Rosângela Maluf   Pobre Marly! Fazia muito tempo que, em todas as quintas-feiras, íamos as três, no mesmo horário, fazer as unhas no salão da Lena. Era um hábito antigo. Manicures & nós: já éramos mais que amigas, confidentes, conselheiras e humoristas. Entre cafezinhos e gargalhadas, nos divertíamos muito. Era uma forma de nos encontrarmos uma vez por semana, longe do trabalho, dos maridos e … Continuar lendo Amores de internet

Pauline

Em 2009, Leo e eu nos mudamos para Paris para estudarmos. Leo iria fazer um curso de gastronomia na escola Ferrandi e eu consegui um estágio de neurologia infantil no hospital Kremlin-Bicêtre. Ao conversar com o chefe do serviço, ele me orientou estagiar nos mesmos termos que os acadêmicos. Eu já era médica, mas não poderia prescrever. Apenas entrevistar, evoluir os pacientes e participar das … Continuar lendo Pauline

A régua da branquitude

Luciana Sampaio Moreira A régua da branquitude é de uma exatidão impressionante e vai até a pele branca cuidadosamente tratada e coberta por um pó compacto iluminador importado. Tudo o que passa daí, para racistas, já é preto.  E se alguém questiona, a criatura que não nomino por absoluta falta de sororidade, logo se faz de incompreendida e solta o argumento clássico: “Você está me … Continuar lendo A régua da branquitude

Reacionário não é conservador

Sem entrar em teorias, tampouco em princípios e fundamentos filosóficos sobre um e outro, onde escancaram a diferença entre a doutrina conservadora e a hostilidade do reacionário. A pretensão dessa reflexão, que pretendo seja curta, é dissociar os reaças em esconder sua agressividade dissimulando defender religião, moral e tradição. Na verdade, o reacionário – usando esse argumento – na verdade querem é a volta de … Continuar lendo Reacionário não é conservador

Me comeu com os olhos

Silvia Ribeiro No instante em que eu apreciava a solitude veio o amor. Surgiu sem nenhuma lapidação e de forma bruta, sem descrenças nas bonitezas da vida, e escrevendo em páginas em branco todos os “agora” que eu procurava. Trouxe consigo a maciez dos grandes profetas e a sabedoria mansa que só se percebe quando se crê nas aveludadas dimensões divinas. Sorria feito um menino … Continuar lendo Me comeu com os olhos

O travesseiro de macela

Rosângela Maluf   São dez horas da manhã de um dia cinzento e nublado. Estamos no comecinho de abril. O Outono apenas começou e o friozinho da madrugada se esparrama ainda por estas montanhas. Acordei mais cedo, fiz a cama, ajeitei os lençóis, estendi a colcha de crochê e separei os travesseiros. De um deles, retirei a fronha branca, com barra de tira bordada e … Continuar lendo O travesseiro de macela