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A disputa por um espólio podre

Eduardo de Ávila

Estudei, lá nos tempos do curso de Direito, sobre essa questão sucessória. É um ramo do Direito Civil que disciplina regras sobre transferência de patrimônio de pessoa após seu falecimento. Lá mesmo e ainda nos tempos dos bancos escolares, nas aulas ministradas por catedráticos professores, ficava claro que os pequenos espólios sempre são facilmente solucionados. Disse catedráticos pois me formei na Milton Campos, onde nos primeiros tempos só tivemos mestres reconhecidos nacionalmente no exercício da advocacia. Outra dádiva da minha geração. Sobre sucessão patrimonial, fui contemplado quatro vezes, todas pequenininhas onde foi privilegiado os laços familiares e não patrimonial. Não é por acaso que desfrutamos de uma relação doce e feliz, entre irmãos e sobrinhada. Vale muito mais que qualquer grande fortuna.

Mas não estou tratando desse tipo de espólio e sim daqueles que fazem fila para habilitação nos escombros eleitorais do pior presidente de toda a História do Brasil. Direto ao assunto. Ainda vivemos um rescaldo desse triste legado do fenômeno bolsoloídismo que contaminou muitos brasileiros – saídos do armário – a seguir os passos de um falso messias apoiados por pastores impostores. Foi e ainda é um enorme retrocesso político, social, econômico e que deixa buracos e rastros que levarão décadas para ser consertados. Depois de derrotado pelas urnas, diferente de quem prega democracia, seguiram exageradamente no exercício do yuris esperniand, promovendo badernas internas e agora externas em prejuízo do Brasil e dos brasileiros. Desnecessário remontar a adoração a pneus, minuta do plano de golpe de estado, baderna em 8 de janeiro e até essa missão nos no estados unidos financiada por nós para defender o pai da iminente condenação. Que se dane o país, desde que papai – que tem direito a ampla defesa diferente da Ditadura que defendem – seja anistiado. Imagina, anistiar o The Monio, essa aprendi ontem.

Tampouco vou retratar aqui a diferença do atual presidente quando foi massacrado por um juiz marreco e comprometido com interesses internacionais e seus procuradores amestrados, para impedir sua candidatura em 2018. O resultado dessa orquestração, assim como a doença do bolsoloídismo, ainda vai penalizar por décadas e gerações para voltar à normalidade. A prova está aí, doentes e embriagados reagindo, assim como torcedor de futebol. Fanatismo puro e doentio. Ainda bem que até do meu time do coração venho me curando. Sou Atleticano, mas não brigo por conta deles, afinal o meu time tem dono e eles que resolvam as questões dentro e fora de campo. Na política não, enquanto eu ainda tiver folego, resistirei e apoiarei quem tem políticas públicas em defesa da justiça social. Que respeitem a Democracia. Extremistas nunca priorizaram qualquer ação que não fosse do interesse do seu próprio umbigo. E, entre esses, aquele bobão que gosta de se sentir poderoso. O maior mal de uma Ditadura, são os coronéis de quarteirão.

Diante disso assisto com tristeza manifestações insanas e até infantis de atores dos tempos atuais. De olho no espólio apodrecido e nada recomendável do ex-presidente fazem verdadeiras performances – até circenses – em busca de visibilidade. Sabemos que no fundo, no fundo mesmo, são os maiores interessados na condenação desse capiroto de olho nesse nicho de pessoas reacionárias e preconceituosas. Estão tão alucinados – pessimamente assessorados – que não percebem que o inominável segue perdendo forças e lastro eleitoral. É perceptível no meio que circulamos, manifestações de decepção com a família – esposa e do 01 ao 04 –, malafaias felicianos e outros desse perfil de pastor pragmático em defesa de seus interesses pessoais. Tem muito conservador acordando e percebendo que o jogo é noutro campo. Sujeito que vai lá fora pedir arrego e chantagear seu todo o país para fugir de uma condenação não merece respeito. O seu sucessor dispensou prisão domiciliar em nome de sua honra, já esse sujeito adorado por essa gente borra e caga para os brasileiros. E repito, não sou lulista e nem petista, avisando aos que me acham até comunista. E digo mais, estou entre aqueles – simpáticos da esquerda que se une a conservadores – em busca de uma terceira via, que seja capaz de devolver a paz e a harmonia entre as pessoas. E quem anda em via na dupla contramão, pode tirar o alazão da chuva. A pista ficou molhada e escorregadia.

E é nesse quadro triste que assistimos lançamentos de candidatura prematura, tive de ouvir que o PT será liquidado. Me lembrou o ex-presidente em campanha apontando arma e dizendo que esses partidários do petismo seriam metralhados. Ora, isso é papel de quem se passa por democrata? Na minha concepção e baseado nas aulas do Colégio Dom Bosco de Araxá – notadamente da professora Auxiliadora Paiva – isso é papel de oportunista, populista e até arruaceiro. Gente que afirma ser democrata e pede AI5 e intervenção militar. Certamente pode sobrar algum resíduo deste espólio eleitoral, mas falta sensibilidade política e falta humanidade. Fui tão e somente vereador na minha terra, até tentei em BH (1988) e ano passado tive condições plenas de tentar essa aventura. Me faltou o essencial, disposição para enfrentar o debate com alienados e quem sempre negou a politica e agora se vale dela para benefícios próprios ou de aliados. Os tempos são tristes e o retrocesso segue firme e avançando rumo a uma nova norma jurídica de escravidão.

E entre esses algozes pretendentes não faltam guardiães da moralidade. Gente que julga sem observar o próprio rabo. Me lembro com saudade de tempos já vividos, onde pude conviver com políticos conservadores e com o maior respeito. Como funcionário da Câmara Municipal de Belo Horizonte – lá na Rua Tamoios – aprendi muito como Helvécio Arantes e Obregón Gonçalves. Como repórter de jornais e rádios em BH na Assembleia com Jesus Trindade Barreto e Silo Costa. Existem outros que desfrutei de proveitosas prosas, onde o divergir nunca sugeriu sequer discussão, Aprendi muito com eles, mas segui o caminho da resistência com Itamar (incomparável), Brizola, Tancredo (lamento o deslize genético), Ulisses, Ronan Tito, Covas e tantos outros. Com esses, uns em pequenos e rápidos encontros e outros com maior intensidade, moldei o meu pensar e sonhos. E com Hélio Garcia, político pragmático e de boas frases, extraio essa. “Decisão Judicial é para ser respeitada; se não concorda, cabe recurso”. Do interessado, claro!  O ex-governador não se esqueceu do regime tripartite de Montesquieu. É triste, conviver nos tempos atuais, depois de atuar em movimentos de grandes avanços assistir tanto retrocesso. E em nome de falsa religião e falso moralismo.

Em tempo: descobri que tenho algo em comum com o inominável. Diarreia. A minha provocada pelo tratamento de radioterapia para me curar de câncer de próstata, enquanto no caso dele de medorreia da prisão. Logo o sujeito que ria e debochava dos seus divergentes, sugerindo a Papuda. Cuidado, disse aqui na semana passada, o pior câncer não é o que está no corpo, mas aquele que vai para a alma e o coração. Fujam, assim como muitos já estão fazendo, senão vão acabar comendo caroço de abacate.

Blogueiro

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  • Bom Dia! Excelente reflexão! A democracia deve ser sempre exaltada, pois, é um sistema que contribui para a construção de sociedades mais justas e igualitárias. Infelizmente, os ditadores inescrupulosos nos rondam. É preciso estarmos atentos e fortes diante da maldade.

  • Está aí a anaminésia dos bolsomínios. Restou clara a razão para a diminuição do tamanho da cabeça: diarréia. Como de costume, meu amigo Fidel, você tem razão e, neste caso, é uma pena. Nossos filhos e netos viverão em um Brasil muito pior que nós. Essa corrente ideológica, que não tem ideologia, está impondo um novo país aos nossos descendentes. Esses mínios não têm a menor noção do que é a ideologia anarquista. Mas, a empregam. Não têm uma proposta para o pos caos. À eles só interessa retomar o poder, e claro, a manutenção da nefasta liberdade. Parafraseando nosso poeta mineiro, que nos ddeixou tão prematuramente: "...me leve pra qualquer lugar, pra onde Deus possa me ouvir... adeus".

    • Se me permite dizer, fica muito difícil de afirmar que vivemos em um país tão democrático quanto nós o pregamos aos quatro ventos. É só olhar lá fora e verás um grande povo e uma massa de desempregados, que vivem sem esperanças e colhendo as migalhas ofertadas por aqueles que nos palanques de outrora prometiam casas e moradias dignas, empregos, rendas, salários e ganhos dignos, e até um pedaço de terra lá no fim do mundo pra plantar e colher e a educação escolar, a saúde para quem a muito tempo já não tem. Lamentável, que em uma terra tão querida e de um povo tão ordeiro passem por tantas dificuldades sem fim.

  • Isso mesmo, Dudu. Resistir à força bruta dos que odeiam a democracia e a atacam por todos os lados e exorcizar o The Monio. Que o verme pague logo por seus crimes com cadeia exemplar.

  • O inominável terá em breve a Papuda que ele merece. A Constituição Federal de 1988, que tem como guardião o Supremo Tribunal Federal, sob a tutela dos seus 11 ministros, mesmo tendo um terrivelmente evangélico, terá a mão do Alexandre de Morais, o Xandão fazendo cumbrir a lei. O inominável está sendo condenado por crime de tentativa de ruptura institucional (golpe de Estado), mas poderia ir em cana por diversos outros crimes praticados contra o povo brasileiro, como a negação da Ciência, não reconhecendo a pademia e se negando a comprar vacinas, assim como no parlamento, no seu imundo voto no processo de impeachment da Dilma Rousseuf, quando homenagou o torturador comandante ustra. O mundo não dá voltas meus amigos, ele capota mesmo. A presidenta ainda disse nesta ocasião que "não ficará pedra sobre pedra". Assim esperamos que acontece. Assim seja.

  • Se me permite dizer, fica muito difícil de afirmar que vivemos em um país tão democrático quanto nós o pregamos aos quatro ventos. É só olhar lá fora e verás um grande povo e uma massa de desempregados, que vivem sem esperanças e colhendo as migalhas ofertadas por aqueles que nos palanques de outrora prometiam casas e moradias dignas, empregos, rendas, salários e ganhos dignos, e até um pedaço de terra lá no fim do mundo pra plantar e colher e a educação escolar, a saúde para quem a muito tempo já não tem. Lamentável, que em uma terra tão querida e de um povo tão ordeiro passem por tantas dificuldades sem fim.

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