Eduardo de Ávila

Cá do cantinho da minha casa, vivenciando a fase inicial do tratamento de um desses males que a vida me sugeriu experimentar, concomitante sigo assistindo – isolado do mundo lá fora – ao nosso entorno o pior dos tumores da humanidade. Com a propriedade de já ter extirpado em duas cirurgias, parte do intestino e toda a próstata, agora convivendo com o resíduo da segunda venho acompanhando o câncer coletivo que remonta passado triste de tempos sombrios. Tanto da História do Brasil quanto da História Geral da Civilização. Retrocesso inimaginável e que coloca em risco as gerações futuras. Tudo, como dantes, em nome da religião e – na verdade – buscando poder e riquezas. As arruaças e manifestações são muito similares a outras do passado que estudamos nos bancos escolares. Tem gente que esqueceu a lição e o decoreba para a prova de avaliação. Tristeza não tem fim!

Em meus tempos já vividos, sempre participei de movimentos pela redemocratização e avanços sociais, agora já sem a mesma energia – estupefato – vivo o receio de ver todas essas conquistas descerem pelo ralo de uma pervertida moralidade. De enganosa crença em Deus e impulsionadas por uma classe média, média baixa e até baixa embriagada por falsos messias e pastores impostores, todos eles instrumentos financiados por uma minoria que detém controle midiático, financeiro e interesses vis de pessoas desprezíveis. Tudo isso é conceitual, mas fica escancarado nos movimentos antagônicos dos dois grupos em conflito no Brasil. De um lado esquerda, PT, Lula e outros personagens sem qualquer vínculo com esses mencionados, do outro bolsonaristas e extrema-direita. O curioso, no caso, é o apoio de classes que jamais irão participar do banquete. Notadamente a média que vê nessa disputa possibilidade de empoderamento que jamais experimentou e/ou irá usufruir.

Muito desse sentimento é alimentado pelo medo do comunismo. Nem sabem o que é isso, mas – percebemos – ainda acreditam no fantasma da narrativa da ilógica “comunista come criancinha” ou “irão invadir sua casa e morar num dos quartos tirando sua liberdade familiar”. Ora, comunismo nem existe mais, a China é mais capitalista que os Estados Unidos. A diferença é que os chineses investiram em inovação e tecnologia, enquanto o tio San – notadamente trumpista – em financiar conflitos mundiais e interferir na economia de outros países. Aí vem aquela máxima da mentalidade e o complexo de vira lata. Criado por Nelson Rodrigues, induzindo a um sentimento de inferioridade, enquanto a mim deveria ser orgulhosamente no sentido da miscigenação racial e cultural. O interesse externo, sustentado por apátridas e vendilhões é o tempero amargo dos tempos recentes que estamos experimentando.

Um amigo postou algo que me trouxe conforto. Nunca tive dúvida que estou do lado certo desse embate. Sem ser comunista, petista e nem lulista, mas optando pelo atual presidente em algumas eleições. Nem foram em todas, votei – acreditem – no FHC e Ciro, em eleições anteriores. Esse tucano de plumagem imperial, deve ter sido minha maior decepção de todos os tempos. Teve tudo para fazer grandes reformas, mas investiu tão e somente na sua reeleição e deixou esse legado que está sendo caro demais a todos os brasileiros. Mas isso é para outra oportunidade. O que meu amigo postou foi sobre as diferenças das palavras de ordem nas manifestações de rua dos dois lados. Enquanto um lado pede saúde, educação, segurança e tanto tema coletivo, o outro quer anistia para baderneiros e conspiradores contra a democracia, impeachment de ministro do Judiciário, defende presidente estadunidense que está tentando sabotar nossa economia.

Li que “quem pede anistia é culpado, quem é inocente pede Justiça”. Essa é a diferença. Desenhando para quem não quer entender. Lula preso, por aquela conspiração Moro/Dalagnol, recusou regime semi aberto proposto por seus acusadores. “Não barganho minha liberdade”. Já o líder da tentativa de golpe e dos “malucos” (expressão usada pelo próprio), confessamente borrando de medo segue conspirando contra o Brasil e os brasileiros. Seus filhos e comparsas no Congresso Nacional são a fiel comprovação dessa diferença comportamental.

Para essa gente, que pouco se lixa para o país e a população, chantagear em prejuízo dos interesses nacionais é o que vale e importa. Se os filhos de Lula fizessem um milésimo que esses 01 até 04 aprontam, em todos os sentidos – declarações e compras de imóveis em dinheiro – eu estaria no bloco das críticas e cobranças. Se os petistas e lulistas (nem menciono comunistas, pois isso é delírio de quem tem medo da mula sem cabeça e da loira do banheiro) invadissem a praça do Três Poderes – ainda que sem as barbáries dos “malucos”, a indignação seria a mesma– com toda propriedade – e figuraria nas fileiras pelo julgamento de desordeiros. Mas, se tem algo que essa gente faz com muita propriedade, é o permanente utilização dos dois pesos e duas medidas. E estão fanaticamente convencidos da faculdade e propriedade de poder julgar. O ódio, similar ao propagado nos tempos do nazismo alemão, a metodologia também a mesma se valendo da propaganda mentirosa para justificar essa insanidade. Todo extremismo, até no futebol, deve ser combatido. Isso é barbárie e a banalização do mal.

Por fim, sugiro o antídoto para enfrentar esse câncer coletivo. Aprendemos que o melhor remédio é o desprezo, ainda que alguns insistam na incitação e provocação. Sabem qual é nossa opinião e posição, como pensamos e reajimos. Acreditam provocar quando tacham comunista, petista e lulista, essa a única arma que sabem manusear. Se sentem incomodados por rejeitar a violência que tanto estimulam, também por priorizarmos o social e não pessoas, contrapõem com deboche e agressividade. Enfim a opção pela humanidade, seguramente incomoda aos pobres de direita – ainda que um ou outro tenha um recuso financeiro, seguem pobre pois a única coisa que tem é o dinheiro -, estão com um câncer muito mais perigoso e letal que o que nos leva a tratamento médico. Afinal a doença no corpo tem remédio, enquanto o do egoísmo – ainda que inócuo – é incurável.

Em tempo: Essa gente está sugerindo votar reiteradamente no Lula e no PT, partido e candidato que não seria o ideal, porém certamente mais consistentes que o ódio que contaminou e adoeceu os seguidores do miNto.