Sandra Belchiolina
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Era aniversário de Dani — mulher de voz vasta, que preenche as areias e o mar com seu canto ancestral. Em Cumuruxatiba, somos presenteados com sua música nas barracas à beira-mar. A potência da sua presença cresce quando ela empunha a zabumba. Dani é uma das guerreiras da vila: líder comunitária, guardiã dos direitos das mulheres, herdeira do mar, que conheceu de perto nas pescarias da juventude ao lado do avô e de sua mãe.

No seu dia, como não poderia deixar de ser, amigos se reuniram em torno dela. Crianças logo se espalharam pela areia, brincando sob o sol generoso. O cenário escolhido foi Japara Mirim — praia do coração de Dani, palco perfeito para celebrar a vida.

Chegavam em grupos, trazendo consigo alegria e quitutes: carnes suculentas para o churrasco, espetinhos coloridos de legumes, mandioca e batata-doce fumegantes, salada de quinoa, pães artesanais, homus fresco. Dani, filha do mar, presenteou a todos com seus inesquecíveis peixes vermelhos, assados lentamente na brasa. Até o bolo — com vela e parabéns — marcou presença nessa festa plural.

A natureza, cúmplice, se vestiu de gala. O rio serpenteava preguiçoso até o mar, como quem hesita em se entregar ao destino. Seus meandros formavam bancos de areia, brincando de esconder. As falésias de Japara Mirim, em tons vivos, contrastavam com o verde da mata e do oceano.

Enquanto isso, as crianças ora mergulhavam no rio, ora se perdiam nas dunas. Os amigos, como era de se esperar, trouxeram seus instrumentos. A cantoria se espalhou e até a Lua, quase cheia, apareceu curiosa para espiar o luau.

À noite, o céu se acendeu em milhares de pontinhos cintilantes. Um fogo foi aceso com galhos resgatados da areia. Os tambores ressoaram, o violão se fez melodia e o canto coletivo ecoou nesse paraíso baiano.

Foi um dia em que a natureza também celebrou a vida de sua guerreira.

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Fotos:

@yagollopes
@sandra.belchiolinapsicanalista