Tadeu Duarte
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Nesse momento de grande polarização política é preciso que os homens públicos decidam pensando para além dos próprios interesses e das disputas ideológicas.
É hora de aprovar uma nova anistia, que, além de ampla, geral e irrestrita como a anterior, seja também preventiva, posto que a maioria dos crimes sequer ainda foi julgada.
Sejamos sinceros: o BR não é bom só em samba, futebol, carnaval e jogo do tigrinho. Faz parte de nossa brasileiragem malemolente a nossa tradição de sempre deixar pra lá na hora de se fazer justiça.
Nossa pátria é uma grande vassoura que varre os pobres pra escanteio e a sujeira pra debaixo do tapete.
Economiza tempo e dá menos trabalho, convenhamos.
Já fazemos isso desde o período colonial, quando os proprietários de escravos não foram ressarcidos pela Lei Áurea,
que pôs fim à escravidão sem indenizar os cidadãos de bem que tanto geraram empregos e contribuíram para o progresso país importando mão de mão de obra qualificada escrava.
Foi daí que surgiu o consenso de que “é duro ser empresário no Brasil”.
No fim do período militar, foi o mesmo de sempre: deixar tudo como está pra ver como é que fica.
E os bravos soldados patriotas que tiveram a coragem de lutar contra o fantasma do comunismo “comedor de criancinhas”, não foram indenizados pelo tempo dedicado à nação fora dos quartéis pintando meio fio.
Os heróis que, em nome da nação, foram corajosos na hora de exilar, silenciar, sequestrar, torturar, matar e ocultar os corpos de subversivos, ainda hoje não receberam nenhuma indenização e sequer o justo valor aos serviços prestados.
Se não punimos o efetivo golpe de 64, por que vamos punir uma tentativa marota em 22?
Lembrando que Jair já foi anistiado outras duas vezes. Na primeira, quando tenente do exército, planejou colocar bombas em unidades militares e na adutora do rio Guandu, em seu protesto pacífico por melhores salários.
Seria expulso do Exército, mas numa manobra do STM, que não analisou os exames grafotécnicos, Jair foi pra reserva com direito à aposentadoria.
Só não se livrou da pecha de “bunda suja”, como são conhecidos no jargão militar os expulsos & saídos do Exército.
Depois, já presidente, recebeu uma anistia informal do Xandão. Jair havia se exaltado em um comício político/ eleitoral de 7 de setembro e, cuspindo perdigotos, ameaçou “não mais cumprir as decisões do STF”, personificado na careca lustrosa de Alexandre de Moraes.
Ao fim do dia, Jair Bunda Suja cagou na retranca. Aconselhado por Michel Temer, especialista em golpes bem sucedidos, escreveu uma cartinha pedindo desculpas ao Xandão. Jair Galhofa fingiu estar de brinks e meio doidão. E tudo ficou por isso mesmo.
Jair é um eterno menino Ney.
Com seu “Brasil-Acima-de-Tudo-e-Deus Acima-de-Todos”, tem grande dificuldade em respeitar as leis, reconhecer direitos e a viver numa democracia.
É próprio da juventude, e, assim como Neymar Jr, um dia talvez esse jovem senhor aprenda que não pode tudo.
Sabemos que ele tentou articular um golpe, há um excesso de provas nesse sentido, mas e daí?
Ele, que já disse não ser coveiro, tentou enterrar o Estado Democrático de Direito e rasgar a Constituição, mas é porque ele tava num dia ruim.
Quem nunca quis partir pra um novo regime militar e matar uns 30 mil? Inclusive, sem deixar de fora o FHC, o Lula, Alckmin e Xandão?
Tenhamos mais empatia, deve ter sido duro para o Debatedor do SuperPop ser o único presidente a não conseguir se reeleger desde a Nova República…
Defendo para Jair, o incomível, a proposta de anistia ducaralho feita por Vampeta.
É pegar ou largar!
O boleiro pentacampeão, que foi reserva da Seleção, estava completamente doidão de Danone sabor Brahma quando deu cambalhotas descendo a rampa do Planalto, em comemoração à conquista da Copa do Mundo em 2002. E o fez na frente das câmeras sob aplausos de FHC, gargalhadas de R10 e a nítida reprovação no olhar do técnico Felipão.
Mesmo sem chutar uma bola naquela Copa, o velho Vamp nos deixou um grande ensinamento: no Brasil, é válido dar dar cambalhotas nos protocolos e meter o louco nas leis e regras sociais.
A anistia do Vampeta é sua, Jair.
Receba!