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Ainda pouca mas bendita chuva

Eduardo de Ávila

Depois de cinco meses sem uma gota de água vinda do céu, vivendo uma seca e um desconforto que causava desespero, recebemos – ainda que em pouca quantidade – a dádiva divina desse mimo ofertado por Deus. E nem é castigo, até porque na minha fé religiosa não existe punição, mas sim a ação da ganância dos homens, que tem causado todo esse desequilíbrio climático.

As consequências dessa inconsequência são inimagináveis. Ou melhor, imagináveis e conhecidas, mas a ação gananciosa e desumana de alguns impõe e condena a todos os habitantes do planeta Terra. Incêndios e desmatamentos são impactantes e prejudicam até mesmo os imbecis responsáveis por essa ganância financeira. A água, talvez o maior bem natural, é fundamental para o abastecimento urbano e – consequentemente – para a saúde das pessoas. Inclusive para a produção de alimentos, objeto desse descontrole desenfreado das reservas florestais.

Não foi por acaso essa longa estiagem que vivenciamos recentemente. Lembro-me, sem saudade, das noites mal dormidas, com a fumaça tomando conta da nossa atmosfera. Secreção e congestionamento nasal, garganta irritada, seca e ardida, tosse insistente, falta de ar… enfim, um desespero. Acordei numa das muitas madrugadas com a sensação perturbadora de que não havia oxigênio no ar que respirava. Foi um desespero. Moro sozinho e tentava respirar o que me parecia ser negado.

Desde a primeira chuva, estamos retornando à normalidade, ainda que distante dos tempos já vividos. Ontem, segunda-feira, no final da tarde, enquanto fazia a primeira versão dessa prosa semanal, pude abrir a janela e sentir a umidade e o aroma – ainda que de forma sutil – voltarem ao nosso dia a dia. Ainda é pouco, mas celebro o fato de que aquela fumaça – com indícios de ser criminosa – se dissipou, devolvendo a nós e ao nosso corpo o alívio e um quase bem-estar.

Sinto saudade das quatro estações bem definidas. No verão, que coincidia com as férias escolares, havia muita piscina – e eventualmente praias – com roupas frescas. A luz do dia chegava cedo e demorava a ir embora. Depois, o outono, fazendo a transição dos dias longos, até o inverno, quando, com menos luz, tirávamos as blusas guardadas do ano anterior. Muito frio. Mas essa temperatura era agradável, e nos aconchegávamos em casa com toda a família. E a primavera, de temperatura amena – sem calor ou frio –, repleta de flores e árvores frondosas.

E a chuva? Era no verão, exatamente para devolver a umidade fundamental à vida dos seres vivos. Quem não se lembra das águas de março fechando o verão? A ação depredadora e a ganância financeira vêm gradativamente matando essa relação romântica do homem com a natureza. Nos meus tempos de criança, a produção agrícola tinha datas específicas para cada estação. Agora, é o ano inteiro. Como resposta da natureza, temos essa seca e fumaça, e, como consequência, passamos muito mais tempo em consultórios médicos do que apreciando a mãe natureza e a magia que ela um dia nos proporcionou. Sigamos! De bem com a vida, apesar do meu (nosso) conflito com essa gente egoísta que só pensa em si mesma. Em sentido amplo, registre-se!

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