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O exorcismo do numeral 13

Eduardo de Ávila

Tenho uma relação legal com o numeral 13. Quem me conhece reconhece isso, sabendo muito bem distinguir a razão desse meu flerte com a dezena. Via de regra, ao responder sobre um cafezinho a ser degustado numa boa prosa, digo que chego em “13 minutos”. O Galo eternizou, na última partida da Série B, essa camisa como homenagem ao Atleticano. A ideia foi do amigo Ernest Soares, embora alguns acreditem ser minha, quando fui apenas o transmissor dessa sugestão. Durou pouco, pois o Arana divide com a Massa o uso do 13, que é o numeral da superstição Atleticana. Fui até da Gargalo 13.

Enfim, o 13, que para alguns é sorte e para outros é azar, é também o grupo no jogo do bicho que tem o Galo como patrono. Mas o 13 é muito mais que isso. É o salário extra que o trabalhador recebe em dezembro. Na 13ª semana de gestação, via de regra, faz-se o ultrassom para saber o sexo do bebê. E tem a sexta-feira 13, que sugere a determinadas pessoas nem saírem de casa. E por aí vai. Aqui no Brasil, por sorteio na reformulação partidária – por volta de 1980 – caiu para o então recém-criado Partido dos Trabalhadores.

Na ocasião, eu fui 15 (PMDB), depois passei pelo 45 (PSDB) e, atualmente, não sou de ninguém. Dando um balanço nas últimas vezes que fui às urnas, fiz um verdadeiro turismo e uma salada partidária. Não tenho cabresto, voto em pessoas, priorizando propostas de interesse social. Num curto esforço de memória, só em 2022 e também 2024, foram sete cargos em disputa. Pois votei em candidatos das dezenas 10, 12, 13, 30, 43 e 55. Vale dizer, inclusive, que escondi minhas escolhas; seis partidos diferentes em sete possíveis escolhas. E ainda tem gente que me discrimina e diz isso e aquilo, um monte de inverdades e besteiras sobre minhas opções. De lá e também de cá.

Pois bem, como Atleticano – igualmente conhecido e reconhecido por onde passo –, abracei o 13 do Galo e costumo escolher a mesa 13 nos bares, restaurantes e cafeterias que frequento. Numa delas, com sistema de cartela, as atendentes sempre me entregam essa dezena para anotar meu consumo. Já tive placas 0013 e também 1313, atualmente ficou complicado com a recente decisão de emplacamento do Mercosul. Sonho com a placa GAL0O13, vale dizer. Galo o 13. Mais que improvável, sei que é quase impossível, mas sigo alimentando essa sorte.

Pois bem, quando digo que estão querendo exorcizar minha preferência e até curtição pelo 13, me sustento em situações hilárias que me ocorrem no dia a dia. Vou me prender a duas delas com a intenção de explicar o preconceito que gente pobre de classe rica e falsos cristãos (sei que insisto nas expressões, mas é a minha permitida reação) insistem num desprezível enfrentamento, demonstrando o quanto estão despreparados para viver em harmonia com quem pensa diferente.

Fui a uma clínica de otorrino, próxima ao local onde moro, e a médica – Atleticana, como nos revelamos – me pediu alguns exames. Depois de duas semanas, lá vou eu levando os resultados. O painel avisa: “Eduardo de Ávila, doutora fulana, consultório 13”. Entro todo radiante e festejo o número da sala. A reação foi quase de agressão, ela imaginou que me referia ao partido político que o cinismo da classe média passou a rejeitar. A consulta foi mais ou menos e nunca mais retornei ao bem montado atendimento para a classe alta.

No final de semana, lá vou eu para minha Araxá curtir a família e amigos, já que o jogo do meu time do coração não foi na Cidade do Galo (BH). Minha viagem estava em confronto com os rígidos horários e costumes que mamãe pregou por toda nossa infância e adolescência. Daí, parei direto num restaurante. Servido, procurei a mesa 13. Não existe, pularam a numeração, da 12 passa para a 14. Brinquei com o atendente, dizendo que tiraram minha mesa preferencial, e ele “orgulhosamente” explicou: “aqui não temos esse número”. Não escondeu que o “comerciante”, seu patrão, dono do restaurante, é mais um desses beócios que o bolsoloídismo criou na comunidade brasileira dividida e polarizada. Lá também não volto mais. E estufam o peito para mostrar o quanto são idiotas.

Blogueiro

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  • Eu faço as mesmas práticas suas. Aqui próximo ao meu trabalho eu almoço num restaurante que possui essa mesa 13. Um belo dia fui almoçar e uma "cidadã de bem," tava indo sentar na mesa e comentou com o garçom, "Credo, nessa mesa eu não sento. Eu que estava logo atrás me ocupei do lugar e ainda comentei com o Garçom:
    Eu faço questão de sentar aqui direto porque esse número é o do meu time do coração e ao contrário dessa gente que exala ódio por questões bobas eu já atingi essa maturidade de saber que isso não tem nada a ver. Mas pra supersticioso, é de lei essa escolha .

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