Categories: Eduardo de Ávila

Éramos felizes e não sabíamos!

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Arriscaria afirmar que nossa geração e até umas poucas depois se lembram desses versos de Casimiro de Abreu. O poeta, que viveu apenas 21 anos, era recitado e estudado naqueles tempos. Hoje, ao que presencio, ele e tantos outros que antecederam gerações sequer são lembrados nas salas de aula. Menos ainda, reverenciados.

O título da prosa de hoje recorre à canção de Ataulfo Alves, que igualmente faz menção aos tempos de criança, e ainda uma veneração às mestras daqueles tempos. Pois, indignado com tantos descaminhos que a modernidade sugere, encontro uma letra que tem o título “Eu Era Feliz e Não Sabia”. Sugiro não dar um Google. A música e a letra são deprimentes.

Fico daqui a lembrar das minhas professoras do ensino primário: donas Angelina, Darci, Tita e Alza, nessa ordem, do primeiro ao quarto ano. Brilhantes! E lecionavam todas as matérias de cada ano: Aritmética, Língua Pátria, Ciências Naturais e Estudos Sociais, que eram, por conseguinte, Matemática, Português (alfabetizando e iniciando a leitura), Natureza e Meio Ambiente (iniciação à Biologia, Química e Física) e, por fim, História e Geografia.

Esse era o formato do ensino básico, então chamado de primário, que nos ensinava e encaminhava para os avanços. Paralelamente a isso, muitas brincadeiras giravam em torno do que dispúnhamos para nossos momentos deliciosos: jogar bola na rua ou em terreno vago, bolinha de gude, amarelinha, pique-esconde e até outras mais ousadas, feitas às escondidas. Quem entre nós, que teve esse privilégio, não se lembra de fazer uma careta (assombração) com uma vela acesa dentro de uma carcaça de moranga? Os adultos fingiam que se assustavam, e a gente escondia o que tinha feito.

Pior foi quando soltei uma bombinha no alpendre da vizinhança, o que me custou um castigo enorme. Será que a geração atual sabe o que é alpendre? Era uma varanda coberta bem na frente das nossas casas, onde, ao final das tardes frescas — as estações do ano aconteciam com regularidade — as famílias ficavam curtindo brincadeiras saudáveis e acenando para quem passasse pela rua de carro ou caminhando. Hoje tudo é fechado, trancado e com medo.

Adoro crianças, tanto que por anos fui voluntário em ONGs no mês de dezembro, quando me vestia de Papai Noel, sempre em creches e escolas comunitárias. Pude vivenciar uma alegria enorme ao presenciar a fantasia daquelas criancinhas em contato com o tão esperado Natal e o Bom Velhinho. Paralelamente a isso, relembrando minha (nossa) infância feliz, percebo uma mudança triste nos valores desta e das próximas gerações.

A tecnologia invadiu de forma brutal e cruel as mentes desses pequeninos, que não sabem de onde vêm o ovo e a galinha, tampouco os legumes e frutas que têm na geladeira. Mas sabem tudo sobre personagens estranhos ao meu mundo que, como na letra de um desconhecido DG, são agressivos e medonhos. Como consequência disso, estamos formando pessoas egoístas, individualistas, sem empatia e com um conservadorismo amedrontador. Desliga do tubo!

Blogueiro

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  • Olá, Dudu. Seu texto é bastante pertinente ao dia de hoje, 15 de outubro. Dia dos professores. Classe profissional sem o reconhecimento e remuneração adequados. Eu também me lembro, com muita saudade, das minhas professoras nos cursos Primário, Admissão ao Ginásio, Ginasial. Bem lembradas, também em nossa infância - aurora de minha vida - das brincadeiras de rua: bolinha de gude, finquinha, futebol em lote vago com bola de meia ou bola de bexiga de boi, mocinho (os faroestes no cinema estavam em moda), garrafão etc. Bons tempos que não voltam mais. Quem viveu aqueles tempos, viveu. Hoje, as crianças e adolescentes são meros robôs.

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