Gabriela Pedrosa
Nos últimos meses, eu tenho cultivado um novo hábito. Quando me deparo com uma situação desafiadora, perguntas complexas ou dilemas, eu tiro uma carta do Oráculo do Pão da autora Magui.
Na Antiguidade, a palavra Oráculo tinha dois significados: consistia nos locais onde as pessoas buscavam respostas divinas acerca de questões futuras ou as próprias respostas dos deuses, muitas vezes decifradas pelos sacerdotes. Em um sentido figurado, pode ser sinônimo de profecia ou revelação. Para mim, o instrumento é um direcionamento do universo. Sinto que cada carta me convida a um mergulho interno e me permite expandir a consciência e colecionar valiosas reflexões.
Como ressaltado pela própria Magui, o Oráculo do Pão nos permite entrar em contato com a alma. Ele abre o nosso coração e deve ser usado com liberdade, alegria e sabedoria.
Essa semana, eu fiz uma pergunta a ele e tirei uma carta pela primeira vez: Misericórdia. Me surpreendi! Essa é uma palavra que eu sempre escutei no interior de instituições religiosas e que eu havia atrelado à piedade divina, um perdão a ser concedido por Deus.
Entretanto, a carta trouxe a virtude para o meu cotidiano e me colocou na posição de protagonizar a nobreza da misericórdia. Ela me mostrou que misericórdia é saber da dor do outro. É compreender a sua real necessidade dentro da sua própria verdade.
Diante da minha questão, ela me convidou a deixar de lado as minhas compreensões prévias, o meu ponto de vista, o meu julgamento para ver a vida através do olhar do outro, das suas tão singulares faltas, carências, deficiências e dificuldades e que o tornam exatamente quem é, um ser de luz e de sombras.
Explorando mais a fundo, eu descobri que misericórdia tem origem latina e é formada pela junção de miserere (ter compaixão) e cordis (coração). “Ter compaixão do coração” significa ter a capacidade de sentir aquilo que o outro sente. É ser solidário com o seu sentimento como se meu fosse.
Ela nos convoca ao desprendimento, a sair do conhecido, do conforto e da segurança do nosso próprio olhar para nos permitir ser atravessados pelo do outro. O encontro nem sempre é fácil. Em alguns momentos, pode desmantelar certezas que nos sustentam. Mas não tenha medo, se a sua experiência se assemelhar à minha, não vai deixar vazios.
Pode até mesmo te permear de sentido.