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Palavras e gestos

Silvia Ribeiro

Tenho reparado palavras entrando na fila do desdém demasiadamente. Principalmente quando se trata de relações amorosas.

Muita gente equivocada se contentando em dizer “eu te amo”, e deixando os gestos pra depois.

Tenho medo de sair às ruas e encontrar placas com dizeres amorosos pendurado no pescoço das pessoas, facilitando as teorias e servindo de bengala para uma comodidade afetiva.

É óbvio que uma palavrinha gostosa ao pé do ouvido pode mudar todo o cenário do nosso dia. Desde que venha acompanhada de gesto verdadeiro e sincronizada com as emoções. Não basta só falar.

Fora disso é – mau uso das palavras.

Tomara que ainda exista demonstrações que nos faça lembrar do amor em sua total plenitude, e daqueles tempos que não tínhamos desculpas pra usar quando os nossos corações estavam em estado de graça.

E lá estavam eles:

Os menestréis e as suas serenatas.

E lá estavam elas:

As pretendentes nas janelas de suas casas.

Como romântica que sou, é bem possível que eu ainda fale muito de amor, que eu ainda veja vários filmes bem melados, e que eu ainda machuque os meus cotovelos.

Não penso que as coisas voltarão ao que era antes. Longe de mim, ser uma saudosista antipática e agir como se tivesse dentro de uma vitrine de antiquário.

Felizmente, pode ter olho no olho, assunto até raiar o dia, risadas maluquinhas, e tremedeira nas pernas.

Cabe, um chocolate de surpresa, uma visita no meio da tarde pra amarrotar o lençol, e o licor que a gente ama dizendo que está com saudades.

Aí, penso naquele cara que mantém o meu coração aceso, que me deixa com vontade de misturar sexo e brincadeiras, e além disso percebe que tudo que eu preciso mora dentro do seu peito.

Que tem o abraço fora dos padrões normais, que deixa a minha alegria com cor de céu, que entende que o seu corpo não me cansa, e acaba descobrindo o que alivia a minha alma.

Ou seja:

Apesar do velho tênis e da calça desbotada ainda chamo de querida a namorada…

É mais ou menos assim.

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