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Confessar

Silvia Ribeiro

Vou te confessar uma coisa.

Que ninguém nos ouça e nem comemore esse fracasso.

Teve um momento em que eu acreditei que daria certo e que a gente faria esse percurso juntos, ao pé da letra. Penso que algumas utopias andaram se confundindo dentro de mim e pegaram o caminho de volta.

Coisas de uma doidivanas, que sempre que pode toma conta dos meus pensamentos e faz alguém ser mais interessante do que realmente é. Uma “cupido” que não deu certo.

Acho até que se trata de um caso de incorporação. Se assim for, haja defumador pra espantar a sujeitinha.

O fato é que havia alguma cumplicidade nos nossos olhares, um otimismo nos nossos abraços, e uma animação que merecia a nossa saudade. A gente cabia dentro daquela história e sentia um frescor por isso.

Parecia até coisa de gente grande.

Não havia uma delimitação entre os nossos corpos e toda a nossa anatomia se confundia com isso. Ora eu, ora você.

Existia um querer imantado que nos atraía e um falar silencioso que nos soletrava. Algo do tipo que não tem descrença nem se equilibra em dúvidas.

Eu deduzia que estava vivendo uma relação com personalidade e que gerava frutos maduros. Prazeres que tinham no seu DNA significados que não viram poeira e que deixam histórias envolventes como lembranças.

Pelo menos, deveria ter sido assim.

Tenho esse lado meio pastelão de crer nas pessoas, de agir com o coração, e de fazer valer a minha empatia nas pequenas e grandes coisas, ainda que o mundo diga (não). Sobretudo, gosto de aproveitar o intervalo entre o que corta e o que anestesia, e recuperar tudo depois.

Diga-se de passagem: sem cicatrizes.

Chegou o tempo de trocar a música preferida, mudar a cor do batom, substituir o perfume. Ler sem parar, comer chocolate sem se desculpar, e recompensar o destino por todo aprendizado.

De rir bonito, de deixar a alma gostosa, exibir um quarto ainda mais azul, e de não se esconder da vida.

É hora de deixar o amor entrar.

 

 

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