Esta semana, a equipe de médicos residentes do ambulatório em que atuo concluiu sua formação em psiquiatria. Foram três anos de trabalho e estudo intensos e, para os que se especializaram em psiquiatria infantil, quatro (além dos seis anos prévios de formação em Medicina). Fiquei pensando no quanto eles serão importantes nesse mundo caótico. No quanto seu jogo de cintura, embasamento científico, conhecimentos filosóficos e – principalmente – humanidade farão diferença positiva na vida de seus pacientes.
No entanto, ao longo de sua formação, soube que alguns deles padeceram de sofrimento mental enquanto estavam a cuidar dos outros. E surpreendi-me em saber que o hospital onde trabalhamos não dispõe de um serviço institucional para assistência à saúde mental do médico.
A residência é uma fase exaustiva em que se está submetido a pressões diversas. Há muito volume de trabalho, grandes responsabilidades e pouco tempo de descanso. É comum não sobrar tempo para praticar exercício físico e são raras as vezes em que se consegue fazer uma refeição com calma. Nesse cenário, é perfeitamente compreensível que haja um esgotamento em quem está ali a doar o que lhe falta. Quem cuida de quem cuida?
Além disso, trabalhar em um hospital do SUS é testemunhar os níveis mais extremos de consequências que a brutal desigualdade social de nosso país pode trazer. Não se esquece o que se vê lá. Não se desaprende sobre as dores que seriam possivelmente evitáveis, não se mutam os relatos de condições indignas de vida a que muitos são submetidos com impactos diversos em sua saúde do corpo e da mente. Os instrumentos para sanar o sofrimento dos pacientes muitas vezes são escassos. E a gestão das emoções envolvidas nestas vivências pode ser difícil psicologicamente.
Seria muito bom que os profissionais de saúde também pudessem dispôr de uma recurso de cuidado, de modo que assim fizessem jus à sua própria prática. Existem pessoas generosas que fazem esse trabalho em caráter de favor, mas penso que deveria ser algo institucional e ao alcance de todos. Há momentos em que diante de uma morte, de um relato doloroso ou de uma conversa, há uma necessidade aguda de se buscar apoio para não perecer ao lado daquele que se está ajudando.
A Medicina é maravilhosa e também é composta por suas controvérsias. Muitas vezes, o que recomendamos a alguém não temos condições de aplicar em nossa vida. E diante do incômodo paradoxo gerado por essa situação, vem a reflexão de que algo diferente poderia ser feito
Quanta sensibilidade e grandeza. O sofrimento mental do médico e estudante de medicina é renegado a segundo plano enquanto os impactos desse sofrimento na qualidade do atendimento são salientados.
Enquanto isso, o Governo Federal zomba dos médicos no Enem dos concursos com o salário proposto.O mais baixo , entre os cargos, de nivel superior.Uma aberracao!!!