A primeira estrangeira que conheci foi Jenni, uma ‘penfriend’ finlandesa. Ambas tínhamos 15 anos quando ficamos amigas por cartas através de um programa oferecido pela escola de inglês. Mantivemos correspondência por muito tempo, tendo contato esporádico até hoje por métodos mais “modernos”.

Dela, guardo os envelopes caprichosamente escritos e decorados e muitas lembranças boas de sua visita ao Brasil em 1998.

Depois, fiquei amiga de Anna e Roger, que conheci em um intercâmbio em Bath, na Inglaterra. Ana era da Bolívia e Roger, um catalão que morava na Argentina. Também mantivemos contato por longos anos após o término da viagem.

Durante o ensino fundamental, o colégio em que eu estudava recebeu vários intercambistas, entre eles Caroline, francesa, e Massanori, do Japão, que também deixaram boas lembranças durante sua passagem por aqui.

Meus pais têm um casal de amigos russos que são como família. Celebraram o almoço de Natal juntos e foram ciceroneados por eles em uma visita a Moscou.

Por essas vivências, ouso dizer que o afeto é uma linguagem bem mais universal e eficiente que o esperanto. Ele pode estar em qualquer lugar e é facilmente compreendido com um pouco de esforço.

Durante um estágio em Paris, em 2009, havia um chefe muito bravo no hospital em que eu trabalhava. Era seco e ríspido, chegava a ser grosseiro para dar as ordens e não cumprimentava ninguém. Um dia, descobri que na manhã seguinte seria seu aniversário. Catei um pedaço de torta que havia em casa, finquei uma vela e carreguei para o hospital, sugerindo que lhe cantássemos parabéns. A neve daquela face dura derreteu-se em alguns segundos. Logo, estávamos todos ali batendo palmas frente aos seus dentes manchados de vinho expostos em um largo sorriso desacostumado. 

O afeto gringo pode até ser de pouca prática ou não tão exuberante quanto o de nossa cultura, mas que está ali, ele está. É um eficiente mecanismo para a criação de laços e um catalisador da comunicação, mesmo em idiomas diferentes.

 

Tais Civitarese

Share
Published by
Tais Civitarese

Recent Posts

Bate e volta em Dubai

Wander Aguiar Talvez eu nunca mais consiga tal proeza, mas sim, meus queridos leitores, eu…

4 horas ago

Indecências

Ando exausta com a hipocrisia. Exausta com quem profere a frase “moral e bons costumes”.…

12 horas ago

Fotojornalismo: crianças e as mazelas do mundo

Sandra Belchiolina Na crônica A foto do ano, horror que nos assola faço referência a…

1 dia ago

Metáfora Madonna

Daniela Piroli Cabral danielapirolicabral@gmail.com Coisa mais rasa (e, infelizmente, e cada dia mais comum) é…

2 dias ago

Não é teimosia e sim jumentice

Eduardo de Ávila Vivemos tempos tristes, embalados pela onda de um reacionarismo – nada tem…

3 dias ago

Só — Capítulo 6

Victória Farias Capítulo 6   Isac despertou com a luz fria e forte da enfermaria…

4 dias ago