Silvia Ribeiro
Já ouvi dizer que quando o amor acontece muitas vezes ele chega em tom ameaçador, e rouba os nossos instintos de discernimento. E tudo aquilo que teoricamente sabemos jogamos pra debaixo do tapete.
É como se fosse um vendaval de inseguranças nos despenteando e tirando o nosso ar. Isso me parece perdoável já que estamos falando da singeleza de um sentimento enigmático e profundo.
Sem querer ser piegas, e provavelmente já sendo. Não tem como passar por nenhuma fase da vida sem sentir esse gostinho peculiar que dá água na boca, sem rir com as borboletas que invadem o nosso estômago, e sem colocar o nosso coração no pódio.
Com ele aprendemos quem fica e quem vai, quem as vezes e quem nunca, quem pode mas não deve.
Através dele conhecemos a tão clássica frase: será que estamos sendo correspondidos?
Conseguimos ter uma visão mais apurada e mais criativa quando estamos amando. Num passe de mágica a bala fica mais doce, o vinho fica na temperatura ideal, e as azeitonas se tornam o melhor petisco da história.
Incrível como ele desnorteia e dá o chão, despe sem tirar a roupa, sabe de poesia sem ao menos pegar no lápis, borra o batom e ainda nos deixa bonita. Muda totalmente a nossa conversa com o espelho.
Por ele arriscamos a deixar as nossas fragilidades expostas, colocamos o medo pra correr, e se precisar até brincamos de bem-me-quer, malmequer. Acho que ficamos meio no mundo da lua.
Uma experiência que deixa o nosso corpo lúdico. Sem perceber os nossos olhos refletem besteiras, os nossos desejos dizem verdades absolutas, as nossas mãos ficam mais manhosas, e transamos com o príncipe encantado.
É ele que briga com o tempo, que acende a lareira, que costura os nossos remendos, e que não dispensa um bom filme água com açúcar, pipoca e edredom.
Adora ouvir sacanagens ao pé do ouvido, se excita com uma provocante lingerie, dorme de conchinha, e se sente acompanhado ao raiar do dia.
É ele que transforma os nossos gemidos em trilha sonora, que pede mais um pouco, que não tem poréns, e tampouco vai embora. Acho que o que ele quer mesmo é ser visto.
Posso dizer que nenhum outro sentimento é tão alquimista, tão banhado em preces, e tão curador.
É ele que pinta e borda.
O Amor, um sentimento que nos faz sentir humanos.
E isto mesmo, o amor pinta e borda…
Mário Quintana escreveu: “O amor é igual a uma borboleta: quando você tenta pegá-la, ela foge, mas quando você está distraído, ela vem e pousa em você!”.