Conheci a Marina Ushiro quando estava grávida de seis meses, através de uma amiga em comum, a Regiane. Lembro-me muito bem de primeiramente ter visto o seu portfólio de fotografias, disponível em seu site. Quantas emoções transmitidas por aquelas imagens de barrigas, nascimentos, recém-nascidos, choros e sorrisos. Era exatamente aquilo que eu queria no registro do momento mais esperado da minha vida.
Em seguida, lembro-me de ter ficado impactada ao ler sua biografia, também escrita por linhas emocionantes naquele site. Marina havia perdido os seus três filhos, ainda crianças, por golpes duríssimos que a vida lhe impôs. Ali, ela relatava como a fotografia tinha sido um caminho de ressignificação dos lutos e de construção de um novo sentido de vida.
Mandei uma mensagem e agendei uma reunião presencial para conhecer o trabalho e ajustar os detalhes, mobilizada por sua história e, confesso, ainda desconfiada em entregar a ela a missão de fotografar minha gestação. Como ela podia estar de pé fotografando, depois de ter passado por toda aquela dor?
Para minha surpresa, ela me recebe em sua própria casa. Quem abre a porta é uma mulher de descendência japonesa, de alma leve e, ao mesmo tempo, forte, segura. No canto da sala, uma garotinha, também japonesa, toca seu teclado enquanto conversamos. Uma energia quase alegre paira no ar. Ela me apresenta os álbuns impressos e os orçamentos.
“Mas você precisará esperar mais um pouco mais. Sua barriga está muito pequena para fotografar”, ela me orienta.
A garotinha é Alissa, deve ter seus 5-6 anos. Ela é sua filha, foi concebida aos 40 anos, por meio de fertilização, já que Marina havia feito ligadura de trompas após o nascimento dos três primeiros.
Fecho o contrato de imediato, sem barganhar desconto, ansiosa por ter de esperar mais mês e meio e confiante de que ela era a pessoa certa para receber a missão de fotografar a minha pequena Laura, dentro da barriga e também fora dela.
Marina foi muito respeitosa, cuidadosa e comprometida com todo o processo. Fizemos três sessões: uma ao ar livre, sessão da gestação; uma no hospital, no dia do parto; e outra em casa, quando Laura tinha 6 dias de vida. E o resultado final foi comovente. Uma das poucas vezes que vi o pai da Laura chorar foi quando recebeu aquele álbum.
No último mês, por presente da tecnologia e, novamente por intermédio da Regiane, recebo a notícia que Marina não fotografa mais nem mora em Belo Horizonte. Ela está lançando um livro e um projeto chamado Kou – de volta a felicidade. O livro é dedicado a seus três filhos, Marcelo, Larissa e Ricardo, escrito em parceria com Alissa, irmã deles, e agora uma quase mulher.
O livro eu terminei de ler recentemente e fiquei muito tocada, principalmente porque venho me dedicando ao estudo do luto e das perdas. É uma homenagem à breve existência e aos ensinamentos deixados por suas vidas nesta terra. É a memória de muitos momentos felizes e também tristes, capazes de nos tocar, nos fortalecer e também de nos ensinar a lidar com os infortúnios e o imponderável da vida. É sobre crer no que é intocável, no invisível.
Mas é, sobretudo, uma mensagem sobre recomeços. É a convicção de que a morte sempre traz em si uma semente de vida. É a certeza de que a vida não termina com a morte.
Para saber mais:
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Vc e sua sensibilidade. Que sorte a minha… Texto lindo e sensível. Como disse Leoni em uma canção que amo “ E o que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia”. Boa msg pra hoje!
Vc e sua sensibilidade. Que sorte a minha ter vc por perto. E como disse Leoni “ E o que vai ficar na fotografia, sao os laços invisíveis que havia”. Mensagem bem propícia para o dia de hoje.