Taís Civitarese
Diante dos conflitos entre judeus e palestinos, na tentativa de entender o incompreensível, resolvi ler um livro que, fazia algum tempo, repousava sobre minha prateleira. Comprei-o há muitos anos após assistir à entrevista de uma atriz francesa e judia que dizia ser o livro mais marcante de sua vida. Eu não sabia do que se tratava, mas fiquei curiosa com a indicação.
Li as primeiras páginas na época e vi que era um relato sobre o holocausto. Este é um tema que nem sempre se está disposto a encarar. Porém, com o reaquecimento das ações violentas que envolveram Israel este ano, considerei não ter mais o direito de não procurar compreender as suas raízes.
Tirei o Primo Levi da estante e lancei-me à leitura de “É isto um homem?”.
Na adolescência, li o Diário de Anne Frank e, no ano passado, “Em busca de sentido”, do Viktor Frankl. Ambos me tocaram profundamente ao explicitarem a dolorosa perspectiva dos judeus frente ao horrores do nazismo.
O efeito do livro de Levi em mim, no entanto, foi diferente. Apesar de narrar coisas terríveis, sórdidas, cruéis e absurdamente desumanas que o autor sofreu enquanto prisioneiro de Auschwitz, ele mantém uma espécie de leveza em sua narrativa que a torna surpreendente. Por vezes, transmite até um sopro de humor ao mencionar detalhes da inflexibilidade nas ações dos seus algozes alemães. E a mensagem maior extraída, além do choque por todas as situações impensáveis descritas, é admiravelmente de esperança na humanidade.
Essa leitura foi uma grande lição para mim. Prazerosa em seu transcorrer e profunda o suficiente para questionar as nuances da condição humana apropriando-se do justo direito de, ao ter testemunhado quase todos os seus extremos, defini-la.
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