Silvia Ribeiro
Assim era ele…
Poucas coisas lhe causavam medo, pelo menos era o que se dizia.
Talvez pelo o seu estilo de vida ou algo que já tivesse vindo nas suas entranhas.
Isso nunca se sabe.
Uma mistura de um homem e as suas fragilidades e de um gigante e a sua bravura.
Gente que tem tarimba correndo nas veias e um dizer forte na ponta da língua.
No entanto, um oponente rastejante era capaz de frear esses instintos e fazer o seu coração mudar o ritmo. Algo que nunca foi um dramalhão, embora ocupasse um lugar de destaque.
Com cobra eu não me meto!
Já dizia o tal fulano.
Isso soava engraçado e causava uma certa estranheza, já que a sua coragem era afamada pelos arredores. Envergar diante dos reveses da vida não fazia parte do seu vocabulário.
Era com aquela perspicácia brejeira que construía os seus alicerces, e que arava os seus sonhos. E quem estava ao seu lado aprendia que na simplicidade se encontra os mais importantes tesouros.
Num dia desses comum, em que o relógio trabalha sem entusiasmo e que a rotina não dá uma trégua, a vida resolveu lhe pregar uma peça.
Gritos e xingamentos anunciavam que alguém estava em perigo, causando um imenso alvoroço nos moradores da casa. E como um vento ligeiro o moço saiu correndo pra ver do que se tratava.
Aquela voz lhe parecia familiar fazendo com que apressasse os seus passos. Se tinha uma coisa que o tal moço defendia era as suas crias. Ai de quem bolinasse com algum deles.
Chegando lá se deparou com aquele ser que sempre lhe causou repugnância bem perto do seu filho, e pronto pra aquele duelo. Parecia aquelas histórias em que o adversário espera ansiosamente pelo o inimigo.
Ainda sob efeito da surpresa ele ouvia as explicações do rapaz que não parava de reclamar e de gesticular, não dando nem tempo pra que ele respirasse direito.
Ele sabia que aquela não era a hora de filosofar sobre as questões que envolvem os nossos traumas, e tampouco discutir a relação com aquele ser que não tinha a mínima intenção de recuar.
Sem pensar duas vezes o danado se muniu de um pedaço de pau como se fosse a mais poderosa de todas as armas, e derrotou o inimigo como quem tira um doce da boca de uma criança, e se esquecendo completamente da palavra medo.
O ocorrido deixou muitas interrogações na cabeça das pessoas.
O povo dizia que aquilo era conversa pra boi dormir, não dando nenhum crédito pra valentia do sujeito. Ainda assim alguns apostavam na veracidade do fato.
Mas o que teria acontecido? Onde tinha ido parar toda aquela fobia?
Até que alguém resolveu decifrar a pendenga.
Foi a branquinha.
E quem era essa tal branquinha?
Era melhor explicar direito já que isso poderia correr em bocas de Matilde, e não agradaria nadinha a senhora do corajoso. E com certeza isso seria bem pior do que enfrentar uma cobra.
Por fim tudo foi explicado sem maiores agravamentos.
Uma história que nos dias de hoje ainda arranca risadas quando visita algumas memórias.
Cabra macho sim senhor.
Parabéns Silvia….
Obrigada!